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Presidente do Peru: “Diversificação produtiva é minha obsessão”

Para Humala, "é importante mais clareza" sobre situação dos políticos presos em Caracas

O presidente do Peru, Ollanta Humala, Juan Luis Cebrián.
O presidente do Peru, Ollanta Humala, Juan Luis Cebrián.Luis Sevillano

Quando, em 2011, o ex-militar Ollanta Humala foi eleito presidente do Peru, havia dúvidas sobre qual rumo político e econômico tomaria o país sul-americano, especialmente pela amizade do então candidato com o presidente da Venezuela na época, Hugo Chávez, “de quem sempre fui muito amigo “, segundo suas palavras. “Mas o Peru e a Venezuela são países diferentes”, explicou em uma conversa com o presidente do EL PAÍS, Juan Luis Cebrián, durante a abertura do fórum El Perú, en futuro, realizado na quarta-feira em Madri e organizada por EL PAÍS com o patrocínio da Telefônica, Enagás, Repsol, Banco Santander e Ferrovial. “E acho que tomamos o caminho correto”.

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Para Humala, a Venezuela “é um país muito importante para a América Latina e estamos interessados em seu futuro. Se o país não estiver bem, pode criar problemas na região. Devemos ajudar o povo venezuelano a resolver seus problemas, que não se deteriore mais o marco institucional democrático, sempre respeitando suas decisões internas”. O presidente peruano está preocupado com a detenção de opositores como Leopoldo Lopez e o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma. “É importante termos mais informações e clareza sobre os detidos”, disse ele. “Para isso é muito importante o trabalho de personalidades como Felipe González”, que foi ao país para exercer a defesa dos dois acusados, sem sucesso.

“Acho que haverá definições nas eleições legislativas no final deste ano”, disse o presidente, quando questionado por Cebrián sobre suas perspectivas sobre o futuro do país. “Vamos ver o que o povo venezuelano quer fazer.” Sobre o estado da economia venezuelana, Humala contribuiu com sua própria experiência e a dos peruanos. “Na década de oitenta vivemos uma hiperinflação, e isso liquefaz a economia. Vivemos a existência de diferentes taxas de câmbio, que são uma fonte de corrupção. Durante esses anos, dois milhões de peruanos começaram uma diáspora pelo mundo; e não recomendamos isso a nenhum país”.

No Peru o desemprego é inferior a 5% e a pobreza extrema diminuiu de 18% para menos de 5% nos últimos 20 anos

A convicção de Humala de que o Peru tomou o caminho certo é endossada pelos números: é um dos países que mais cresce na região – 3,1% para este ano, de acordo com BBVA Research – o desemprego é inferior a 5% e a pobreza extrema caiu de 18% para menos de 5% nos últimos 20 anos. Isto foi conseguido graças a uma política econômica consistente em sua responsabilidade fiscal. “Em certas coisas não se deve ter ideologia”, disse Humala. “A gestão responsável e pragmática da macroeconomia é fundamental.”

“Onde entra a ideologia é ver o que fazer com a renda e o crescimento, e apostamos em uma política social que nos permite dizer que o Peru mudou e está melhorando”. Agora, olhando para a eleição presidencial no próximo ano na qual a oposição está à frente nas pesquisas, a preocupação de Humala é transformar essa política social em política de Estado. “Seria um grande passo que essas políticas fossem respeitadas por todos os peruanos, assim como é a política macroeconômica”, foi o desejo expresso na conferência, que foi apoiada por Albavisión e La República.

As conquistas do Governo de Humala ganham importância se levarmos em conta a história do país. “Em que momento o Peru se ferrou?”, era a pergunta do repórter Zavalita no romance Conversa no Catedral, do Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa. Durante as últimas décadas do século passado, o Peru esteve imerso em uma espiral de crises políticas, econômicas, sociais e de segurança que parecia não ter fim. “Em que momento se resolveu?”, perguntou Cebrián a Humala. “Está se resolvendo”, esclareceu o presidente. “Da crise, os peruanos tiraram a convicção de quais são as coisas que não querem. Não querem hiperinflação, não querem ditaduras, e querem políticas de Estado, como as econômicas”.

Precisamos passar de uma economia de matérias-primas para a industrialização Ollanta Humala, presidente do Peru

Hoje, o Peru se orgulha de seu modelo de crescimento, e até assessora países centro-americanos sobre como implementá-lo. “Nossa prioridade é a educação. Fomos o primeiro Governo na história republicana do Peru que investiu mais de 3% do PIB na educação”, enumerou o presidente. “Desenvolvemos um programa nacional de bolsas de estudos que passou de zero a 72.000 alunos em quatro anos. Criamos um Ministério do Desenvolvimento e da Inclusão Social, e implementamos a alimentação escolar e um seguro de saúde para todas as crianças”.

Mas o caminho ainda não está concluído. “Minha obsessão é a diversificação produtiva”, disse Humala. “Precisamos passar de uma economia de matérias-primas à industrialização. Somos um país abençoado pela natureza, mas nos acostumamos a viver da herança da avó. Por exemplo: 97% do nosso setor pesqueiro [um dos pilares históricos da economia] é extrativo. Apenas 3% são provenientes da aquicultura”. E, além disso, é preciso levar esse desenvolvimento para todo o país. “O Estado peruano sofria de mal da montanha”, disse o presidente. “Ainda temos a mentalidade colonial de centrar o desenvolvimento na costa. Estamos mudando isso. Estamos levando o Estado para as montanhas e para a Amazônia com estradas, eletrificação, saneamento e cobertura de telefone, e para isso contamos com a ajuda de empresas, entre elas muitas espanholas”.

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