Crise nas Bolsas chinesas se agrava e tem reflexos na alta do dólar no Brasil
Queda em em Xangai (-5,9%) e Shenzhen (-2,9%) contamina mercados asiáticos
As Bolsas chinesas continuaram em queda livre nesta quarta-feira, refletindo a incapacidade das autoridades de acalmar os investidores. O índice de referência da Bolsa de Xangai, a principal do país, caiu 5,9% e fechou no seu menor valor em quatro meses. Em Shenzhen, onde são negociadas principalmente ações de empresas do setor tecnológico, as perdas foram de 2,9%.
A queda na China puxou para baixo os demais mercados da Ásia/Pacífico e teve repercussão também na Bolsa de São Paulo. O dólar fechou acima do 3,20 reais, o maior valor em mais de três meses, mesclando ingredientes internos com os temores sobre a situação chinesa. Segundo a agência Bloomberg, foi a maior queda no grupo de 31 moedas que monitoram.
Tóquio caiu 3,14%, Sydney teve baixa de 2%, e Hong Kong – cuja Bolsa está parcialmente conectada com a de Xangai – despencou quase 6%. Os analistas preveem que os mercados chineses continuarão registrando perdas em curto prazo. Apesar do forte movimento negativo do último mês, o valor das ações chinesas continua 75% acima da cotação de um ano atrás.
Mais da metade das 2.800 empresas que negociam seus papéis em Xangai e Shenzhen suspenderam seus negócios, seja de forma voluntária, para evitar maiores perdas, ou porque a queda superou os 10%, acionando o circuit breaker estabelecido pelas autoridades reguladoras locais. Até as grandes companhias estatais, que haviam se beneficiado das compras expressivas de ações determinadas pelas autoridades chinesas , fecharam no vermelho, porque os pequenos investidores decidiram vender os títulos mais estáveis por não conseguirem operar com os papéis que estavam suspensos. Das 1.522 companhias ainda negociadas, apenas 83 fecharam a jornada com lucros. Cerca de mil chegaram a cair 10% nos dez primeiros minutos de pregão.
Os analistas preveem que os mercados chineses continuarão registrando perdas em curto prazo
Nesta quarta-feira, diante do silêncio do primeiro-ministro Li Keqiang, um porta-voz da Comissão Reguladora do Mercado de Valores chinês admitiu que o pânico se estendeu no mercado de renda variável do gigante asiático, o segundo maior do mundo. Em uma nova tentativa de estabilizar as Bolsas, que em menos de um mês perderam um terço de seu valor, o Banco Popular da China prometeu mais liquidez para a instituição estatal encarregada de financiar as corretoras de valores, a fim de aumentar o ritmo de compra de títulos, dar mais créditos aos investidores e apoiar as ações das pequenas e médias empresas, as mais afetadas pela queda. Mas essa nova bateria de medidas tampouco surtiu efeito.
Além dos prejuízos para milhões de investidores individuais, teme-se que a crise nos mercados chineses desestabilize uma economia que está em plena desaceleração e com sérios riscos financeiros por causa do elevado endividamento corporativo. O intervencionismo de Pequim para aplacar a crise também gera dúvidas quanto à disposição do Governo chinês de deixar que as forças do mercado desempenhem um papel decisivo na economia, como sustentava um relatório, aprovado pelo Legislativo chinês há dois anos, que é considerado um marco no processo de reforma e abertura econômica da segunda maior economia mundial. “O que vimos nos últimos dez dias é bastante inconsistente com o que estabelece o programa de reformas”, afirmou Brian Jackson, economista do IHS para a China, à agência France Presse.
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