Dilma promete dobrar comércio com os EUA e zerar desmatamento ilegal
Em momentos opostos em seus mandatos, presidentes exibem sintonia em encontro
Perguntaram logo de cara à presidenta Dilma Rousseff, em Washington, sobre o episódio da espionagem de seu telefone por parte da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, em 2013. “Bom”, disse, “eu acredito que, a partir de agora, se o presidente Barack Obama quiser saber algo sobre o Brasil, me telefonará diretamente”. O presidente norte-americano sorriu. As relações entre os mandatários dos dois gigantes americanos deram um passo adiante, esquecendo, na aparência, o irritante episódio do telefone grampeado. Na época, em 2013, Rousseff cancelou uma visita programada, indignada pela afronta. Na segunda-feira Obama passeou amigavelmente com Rousseff pelo monumento a Martin Luther King Jr., em um gesto de deferência – que não tem com todo mundo – para com a convidada. Os gestos, nesta visita, eram necessários. Rousseff, por sua vez, retribuiu convidando Obama para as Olimpíadas e o presenteou com uma camiseta da seleção brasileira.
Além desses gestos, as duas potências firmaram um conjunto de acordos, de melhorias para estimular o comércio até um compromisso sobre gases do efeito estufa, que os dois líderes destacaram. Tanto Obama como Dilma Rousseff garantiram que seus países estão entre os primeiros que mais reduziram, em termos absolutos, emissões de CO2. E acreditam que irão mais longe. O presidente norte-americano prometeu que os EUA, a partir de 2024, reduzirão essas emissões em mais de 26%. E Rousseff prometeu que do momento atual até 2030 no Brasil terão sido reflorestados mais de 12 milhões de hectares e não haverá mais desmatamento ilegal, uma prática que todos os anos devasta florestas inteiras em áreas remotas da Amazônia, entre outras regiões do Brasil. Os dois líderes se comprometeram a trabalhar juntos para que a próxima cúpula sobre as mudanças climáticas, em janeiro, em Paris, chegue a algum lugar.
Os dois mandatórios mostraram recuperar a sintonia. Seus momentos políticos são opostos e divergentes: Obama desfruta de sucesso depois das duas sentenças favoráveis do Supremo Tribunal, sobre sua reforma da saúde e o casamento entre homossexuais. De fato, perguntaram-lhe sobre “the happy week” que ele está vivendo. A Rousseff, por outro lado, que naufraga em uma tempestade política, econômica e de corrupção na Petrobras, coube dar explicações sobre a crise que ficou no Brasil. De fato, a última pergunta que ela respondeu (depois daquela da semana feliz de Obama) foi se está pensando em destituir um dos ministros envolvidos nas suspeitas de ter recebido recursos da empreiteira UTC.
O depoimento de Ricardo Pessoa anuviou a viagem da presidenta brasileira aos EUA, que deveria fazer parte de um capítulo de boas notícias, depois das notícias negativas que se sucederam na últimas semanas. Rousseff procurou seguir o roteiro inicial, promovendo as oportunidades do Brasil. Ela lembrou Obama sobre o Plano de Infraestrutura que seu Governo pretende pôr em prática nos próximos anos e que prevê a construção de estradas, ferrovias e aeroportos, entre outras obras. Um dos objetivos de Rousseff é encontrar investidores norte-americanos que acreditem nesse plano e estejam dispostos a colocar dinheiro nele.
A esse respeito, Rousseff garantiu que a recente melhora da economia norte-americana é uma boa notícia para toda a América e para o Brasil, que tem os EUA como modelo nesse aspecto. “Estamos tentando transformar o Brasil em um grande país de classe média, depois de termos conseguido tirar muita gente da pobreza.”. Ela defendeu a expansão do fluxo de comércio e investimentos entre os dois países, com uma meta ambiciosa. “Queremos ampliar e diversificar nossas trocas, nosso desafio é dobrar a corrente de comércio em uma década”, sinalizou. Hoje a corrente de comércio entre os dois países é de 62 bilhões de dólares.
Avançar nesse propósito, reconhece Rousseff, torna necessário reduzir a burocracia no comércio exterior, além da remoção dos obstáculos não-tarifários existentes para bens industriais e agrícolas.
Acesso facilitado aos EUA
Os dois chefes de Estado anunciaram a inclusão do Brasil no programa Global Entry, que agiliza a entrada de estrangeiros nos Estados Unidos, até a metade de 2016. Há uma intenção antiga de que os países selem um acordo para suspender a necessidade de vistos para que brasileiros ingressem em território americano e vice-versa, mas nenhum prazo foi mencionado. Por ora, firmou-se o compromisso de trabalhar pela dispensa definitiva desse documento, uma negociação praticamente congelada após o escândalo de espionagem.
A presidenta brasileira elogiou também a iniciativa norte-americana de abertura para Cuba: “Isso abre não só uma nova maneira de os EUA se relacionarem com Cuba, mas com toda a América Latina”.
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