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Campanha argentina se define em duas frentes claras

Macri escolhe Michetti como vice-presidenta, a mais conhecida dirigente de seu partido

Carlos E. Cué
Gabriela Michetti, em abril passado.
Gabriela Michetti, em abril passado.MARCOS BRINDICCI (REUTERS)

A longa campanha eleitoral argentina ficou muito mais definida na sexta-feira quando Mauricio Macri, o líder da oposição, confirmou a escolha de Gabriela Michetti como sua candidata à vice-presidência. Se no dia anterior Cristina Kirchner tinha imposto seu sucessor no Governo, Daniel Scioli, com um kirchnerista puro na vice-presidência como Carlos Zannini, na sexta-feira Macri lançou uma mensagem similar em sentido contrário: não procurará gente fora de seu partido, o PRO.

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Michetti é a dirigente mais conhecida de uma legenda criada há 12 anos para conquistar a prefeitura de Buenos Aires e que, pouco a pouco, foi tomando seu lugar entre os partidos tradicionais argentinos até ficar em condições de aspirar à presidência, algo nunca visto na história recente do país, onde o habitual era a alternância entre os radicais, o partido com mais história, e os peronistas, que agora ocupam quase todo o poder.

A escolha de Michetti está carregada de simbologia. É uma mulher com excelente imagem pública, que usa cadeira de rodas por causa de um acidente de trânsito e é conhecida por sua gestão na equipe de Macri na prefeitura de Buenos Aires. Quis sucedê-lo, perdeu as primárias em abril para o homem que tinha escolhido Macri para o cargo, Horacio Rodríguez Larreta, mas conservou sua boa imagem e agora o prefeito decidiu apostar nela porque é a que tem melhor resultado nas pesquisas. Para muita gente o PRO é Macri e Michetti, não há outros dirigentes conhecidos.

Continuidade ou mudança

O prefeito vai utilizar até o último dia sua gestão como alavanca eleitoral, e de fato na sexta-feira foram feitas as primeiras fotos de Macri e Michetti na inauguração de uma obra importante na via de acesso ao centro de Buenos Aires. Macri tenta passar uma imagem de gestor tranquilo e despolitizado avesso ao conflito, em contraste com a batalha ideológica e o confronto com os adversários que a presidenta Cristina Kirchner expõe quase diariamente em seus discursos.

Os kirchneristas acreditam que a maior conquista de seus 12 anos no poder, além da inclusão social, produto do crescimento econômico, e da nacionalização de várias empresas estratégicas, é a reivindicação da política, do combate ideológico, a recuperação de muitos jovens para as batalhas esquecidas nos anos noventa.

A escolha de Michetti está carregada de simbologia. É uma mulher com excelente imagem pública, que usa cadeira de rodas

Os kirchneristas querem continuar no poder e, para isso, estão cercando Scioli, que não vem de seu mundo e é, antes de tudo, um famoso e milionário pragmático que chegou à política pela mão de Carlos Menem e não está muito interessado no debate ideológico. Por isso a presidenta o colocou como vice de seu principal homem de confiança e hoje, quando forem divulgadas as chapas, se verá que está rodeado de fiéis do kirchnerismo para que não se desvie da linha marcada até agora, sobretudo em política econômica.

O mercado está reagindo mal a essa evidente tentativa do kirchnerismo de se manter no poder em 2016. Ninguém sabe que política econômica Scioli adotaria no Governo, mas o que está claro depois desta sexta-feira é que há dois blocos muito definidos, um de continuidade, com Scioli e o kirchnerismo, e outro de mudança, com Macri e seus aliados Ernesto Sanz e Lilita Carrió. No meio fica Sergio Massa, terceiro na disputa, mas com crescentes dificuldades para se firmar.

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