Ainda sem acordo, Eurogrupo pede à Grécia que negocie seriamente
Jeroen Dijsselbloem, que preside o Eurogrupo, lamenta a falta de compromisso O FMI espera "voltar ao diálogo com adultos na sala"
Mais perto do abismo e, ao mesmo tempo, da salvação: a crise grega entrou de cheio nesse paradoxo nesta quinta-feira. Os ministros de Economia da zona euro colheram o enésimo fracasso ao tentar buscar um acordo com a Grécia. O tempo se esgota: a Grécia deve pagar 1,6 bilhões de euros (5,6 bilhões de reais) ao FMI no fim do mês, o atual programa de resgate termina em 30 de junho e a fuga de capitais alcança uma velocidade de cruzeiro que faz pensar no pior: os gregos retiraram nesta quinta-feira um bilhão de euros em um único dia, três bilhões ao longo da semana. Desde novembro, as entidades financeiras perderam um quarto de seus depósitos. A Grécia se aproxima de um temido controle de capitais para frear esse processo. “Os gregos sacam o dinheiro de seus bancos porque estão preocupados, e isso só terminará se Atenas apresentar uma proposta crível e chegar a um acordo”, resumiu o chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, em uma coletiva de imprensa cheia de tensão em Luxemburgo.
A Grécia e a zona do euro mergulham de cabeça em outra dessas noites dramáticas à beira do abismo. Dijsselbloem e a diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, foram especialmente duros nesta quinta-feira com o país mediterrâneo e seus dirigentes. O curioso é que ambas partes não estão tão longe: os credores têm flexibilizado suas condições e ofereceram aos gregos metas fiscais mais suaves, atrasar a reforma trabalhista e uma reforma das pensões que, em princípio, não exige recortes nominais. Mas a Grécia não aceita. Argumenta que, apesar da melhoria, essa proposta exigiria uma nova rodada de austeridade. Pede uma reestruturação de sua dívida. E demanda investimentos para que o crescimento volte a uma economia que, mais uma vez, mergulhou numa recessão depois da interminável e pouco frutífera negociação.
“Um diálogo com adultos”
“Estamos preparados para qualquer eventualidade”, resumiu Dijsselbloem após a reunião do Eurogrupo. “Não haverá acordo sem medidas muito difíceis de assumir, que requerem políticos capazes de dizer a verdade a sua população”, argumentou. Lagarde foi ainda mais longe e assegurou que a chave nos próximos dias é “voltar ao diálogo com adultos na sala”. A chefa do FMI recebeu nesta quinta o ministro grego Yanis Varoufakis em Luxemburgo com uma frase que resume o péssimo estado das relações entre a Grécia e seus credores: “A chefa dos criminosos cumprimenta o outro lado”, provocou ao carismático Varoufakis, após as duras declarações do primeiro-ministro Alexis Tsipras —que denunciou a “responsabilidade criminosa” do FMI— nos últimos dias.
Varoufakis apareceu relaxado, nada tenso, incrivelmente tranquilo. Assegurou que o acordo está perto, como vem dizendo desde fevereiro. Lembrou que Grécia fez um “gigantesco” ajuste nos cinco últimos anos e reafirmou seu compromisso com as reformas. E prometeu que a Grécia contribuirá nas próximas horas para encontrar uma solução.
A maratona de reuniões é esgotadora: o Eurogrupo deve se reunir de novo nas próximas horas, para preparar a reunião do euro. Os líderes usarão toda sua artilharia na segunda-feira para obter um "sim" de Tsipras. Mas o acordo não está garantido: Tsipras tem a negociação exatamente onde queria desde o princípio, no mais alto nível político, sem as instituições anteriormente chamadas Troika no meio do caminho.
E possui um Ás na manga: o medo da zona euro de que a Grécia deixe a moeda, o que poderia desencadear uma confusão considerável nos mercados de dívida. Por outro lado, Tsipras tem todo o resto: uma fuga de capitais que não para e que, nos próximos dias, irá testar os limites de seu sistema bancário, uma economia parada, uma receita pública que despenca —segundo os dados de maio, conhecidos nesta quinta-feira— e, finalmente, uma zona do euro que parece decidida a propor o temido "ou vai ou racha". “Se ele trai o mais autêntico dele mesmo, está perdido”, dizia há uns dias um diplomata grego para descrever a resistência de Tsipras em abandonar suas promessas eleitorais. Até agora vem conseguindo, ainda que a custa de uma sangria bancária e no conjunto da economia. Mas o momento da verdade já tem data: segunda-feira, na reunião do euro, com a chanceler Angela Merkel no comando.
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