_
_
_
_

“Prefiro que a Grécia saia do euro, mesmo que não seja fácil”

Os gregos entendem a falta de acordo com a UE e rejeitam novos ajustes

María Antonia Sánchez-Vallejo
Cidadãos gregos em uma loja de Salonica.
Cidadãos gregos em uma loja de Salonica.SAKIS MITROLIDIS (AFP)

Atenas vive um clima de normalidade após a visita do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, a Bruxelas nesta quarta-feira. Os mesmos engarrafamentos e a atividade frenética de sempre com a recém-iniciada temporada de turismo na Grécia, que dá mais movimento à cidade e à economia. Só algumas referências revelam a situação de excepcionalidade que o país vive frente um acordo que não sai do papel e a uma possível insolvência: temas como a eventualidade de novas eleições —uma opção que por vezes ganha força— ou até mesmo a saída do euro, de forma acidental ou como consequência do desacordo, dominam as conversas nos cafés e sobretudo nos ruidosos debates da TV. Nas ruas, predomina a sintonia de parte da população com a resistência do Governo em cumprir as exigências de seus credores.

Mais informações
Primeiro-ministro da Grécia recusa oferta lançada pela UE em reunião
Tsipras urge seus negociadores a fechar os temas pendentes com a UE
Grécia usa suas reservas para pagar 750 milhões de euros ao FMI
Europa sinaliza ao BCE para não fechar torneira de liquidez para Grécia
Tsipras afasta o ministro das Finanças das negociações com a UE
Tsipras ameaça convocar referendo se não houver acordo com Eurogrupo

Com a oposição política fragmentada, e o resultado da reunião de ontem cantado de antemão, ninguém se surpreendeu que o acordo ainda não tenha sido fechado, considerando as medidas que os credores querem impor a Atenas, e especialmente o aumento do IVA (imposto sobre valor agregado) com dois novos tipos, de 11% e 23%. “Para medidas como essas, que mais parecem um terceiro memorando encoberto, eu pessoalmente prefiro sair do euro, ainda que a situação ficasse difícil por um tempo; pior [que agora] não seria. Mas de onde o Governo vai cortar gastos, se os hospitais já não têm nem gaze? Como vamos pagar 11% e 23% de IVA por coisas tão básicas como medicamentos ou eletricidade? O que nos restará para comer depois de pagar os impostos? Nada!”, reclamava na hora do almoço Manolis Agnakis, dono de vários pontos de venda no mercado central de Atenas.

A exigência dos credores de aumentar o IVA e cortar novamente as pensões é o que mais gera atrito em Atenas. “Tsipras está certo ao bater o pé, pois não aguentamos mais exigências impossíveis. Como os europeus acham que poderão cortar minha pensão, se recebo apenas 400 euros?”, queixava-se um pensionista sentado numa praça central da capital grega. “Muito euro, muito euro, mas de que nos serve o euro se vamos morrer de fome?”

A sensação de normalidade talvez se deva à existência de fundos suficientes para fazer frente ao pagamento, nesta sexta-feira, de 300 milhões de euros (cerca de 1 bilhão de reais) ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual Atenas deve devolver outra quantia similar dentro de uma semana, no próximo dia 12. Segundo o escritório encarregado da dívida pública, há dinheiro para esses dois desembolsos, mas o Governo ainda não deu a ordem de pagar —“uma decisão política”, segundo fontes envolvidas na negociação. A vontade política de Tsipras apontava implicitamente, nesta quarta-feira, para um pagamento mais que provável em questão de horas ao organismo.

Entre as escassas reações políticas à inconclusa reunião desta quarta, o destaque foi para a do principal partido da oposição. “Estamos a poucos passos do abismo”, disse um porta-voz da conservadora Nova Democracia. “As propostas dos sócios não caem do céu; baseiam-se nas que figuram na ‘lista Varoufakis’”, em referência à polêmica proposta de reforma que o ministro de Finanças, Yanis Varoufakis —que sumiu das câmeras nos últimos dias— apresentou às instituições em fevereiro, e que vazou e foi desmentida várias vezes, e por várias fontes. É exatamente a fragilidade da oposição —com os partidos tradicionais, o conservador e o socialista, em plena reformulação de suas respectivas lideranças— que possibilita a Tsipras certo respiro, por não ter uma terceira frente aberta num momento em que se debate entre duas forças antagônicas: as exigências dos sócios e as de seu partido.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_