A campanha contra a violência machista #NiUnaMenos
Veja como surgiu esta iniciativa argentina contra o assassinato de mulheres
Vários de seus contatos femininos no WhatsApp talvez tenham trocado, nos últimos dias, a foto de perfil pelo desenho de uma boneca acompanhada pela frase #NiUnaMenos (nenhuma a menos). E talvez você tenha visto publicações no Facebook pedindo que não haja mais mulheres mortas por violência machista na Argentina. São duas coisas relacionadas, embora possivelmente não saiba. Esta é a história de uma campanha contra o feminicídio que terminou em uma guerra de acusações em seu WhatsApp.
A origem
“Isso é como o ovo e a galinha: não podemos afirmar se agora há mais assassinatos de mulheres na Argentina ou se nós é que finalmente estamos falando disso. O que sabemos é que não há estatísticas que registrem as vítimas e que não se está fazendo tudo o que pode ser feito para evitar isso”, diz a editora e cantora argentina Gaby Comte. Ela faz parte de um grupo de mulheres, principalmente do mundo da arte, que iniciaram a campanha #NiUnaMenos na Argentina. Afirma que é um movimento que se formou pouco a pouco, que nasce da indignação com as frequentes mortes de mulheres. Casos recentes e especialmente dramáticos como os de Daiana García e Yésica Muñoz atraíram o interesse da imprensa e alimentaram o debate.
“Pensamos que tínhamos de fazer algo depois de uma maratona de leitura em que fomos acompanhadas por pais de vítimas. Na Argentina há uma lei não regulamentada, de modo que praticamente não serve. Nos primeiros encontros começamos a dar ideias sobre o que queríamos dizer. Uma era 'Basta de mortes'. Outra, 'Não queremos mais nenhuma mulher morta'. E daí chegamos a 'Não queremos que haja nenhuma a menos entre nós', e ficou o lema, #NiUnaMenos, explica Comte.
Depois pensaram na opção de fazer algo público e perceberam que outras pessoas, mais do que acreditavam, pensava igual a elas. Esse movimento desembocou em uma manifestação nesta quarta-feira, 3 de junho, em frente ao Congresso argentino. Houve concentrações semelhantes em 40 localidades do país.
A campanha nas redes
Nas duas últimas semanas, a iniciativa ganhou força graças ao Facebook e ao Twitter. Ajudou, e muito, o fato de personalidades públicas argentinas aderirem à campanha postando fotos suas carregando cartazes com a frase #NiUnaMenos. Pessoas como Estela de Carlotto das avós da Praça de Maio.
Estela de Carlotto y Abuelas de Plaza de Mayo se suman a la campaña contra el femicidio pic.twitter.com/yokwEnvVDP
— Abuelas Plaza Mayo (@abuelasdifusion) May 22, 2015
“Chegamos a outro nível graças ao Twitter, onde muitas jornalistas impulsionaram o tema”, diz Gaby Comte. Conforme aponta a ferramenta de medição Topsy, desde 10 de maio foram enviadas mais de 228.000 mensagens sobre o tema. De sua conta do Twitter, Ingrid Beck, diretora da revista Barcelona, conta como evoluiu a iniciativa.
Um material gráfico convocando o ato do dia 3 foi postado no Facebook. Mas foi o relato deuma mulher de 21 anos, de Buenos Aires, que conseguiu dar um empurrão definitivo. Adri Romo compartilhou no seu perfil uma série de pensamentos e cenas de sua vida cotidiana: "Saio de casa e o homem que trabalha na obra do meu vizinho diz "Oi meu amor". Leio no Twitter que Angeles R. Camino desapareceu na estação de La Lucila (...). Tenho 21 anos, vivo em Buenos Aires. Vamos falar sobre isso". Seu texto foi compartilhado mais de 61.000 vezes.
Também tiveram muita repercussão as ilustrações de desenhistas que se uniram à causa e que foram replicadas centenas de vezes nas redes. Uma das mais compartilhadas é a de Liniers.
3 de junio. Plaza Congreso. Basta de femicidios. #NiUnaMenos pic.twitter.com/zQSz1ti3C7
— Liniers (@porliniers) May 12, 2015
#NiUnaMenos 3 de junio pic.twitter.com/PhCVHTiZR9
— Flor Alcaraz 💚 (@florencialcaraz) May 20, 2015
Mi dibujo para #NiUnaMenos pic.twitter.com/TsERMRPPli
— Rodríguez (@elNinoRodriguez) May 14, 2015
A boneca
Todo Bonito é uma marca argentina, que possui uma loja online, que vende desenhos de festas para imprimir. Vanesa é a pessoa por trás da página, que tem mais de um milhão de seguidores no Facebook. No dia 21 adaptou um de seus desenhos para aderir à campanha e o postou em seu blog e conta do Instagram. A imagem logo começou a ser compartilhada pelo Facebook.
Em um mecanismo parecido com o jogo infantil do telefone sem fio, a imagem ganhou o mundo e começou a ser divulgada na segunda-feira passada pelos grupos de WhatsApp espanhóis, acompanhada desta mensagem.
A origem, como todas as mensagens desse tipo no WhatsApp, é incerta. No entanto, muitas mulheres trocaram sua foto de perfil na terça-feira. "NiUnaMenos" foi uma das buscas mais populares no Google da Espanha na segunda-feira, com mais de 50.000 buscas. Mas tão rápido como a mensagem solidária correu esta outra, muito indignada e também anônima, ao descobrir a assinatura de Todo Bonito na imagem. Em nenhuma de duas mensagens se fazia referência ao movimento na Argentina, nem se dizia quem estava convocando esse protesto. “Não fazia ideia de que era algo argentino, nem tinha notado a assinatura até que chegou a segunda mensagem”, diz Laura, uma das espanholas que mudou seu avatar.
Vanesa assegura que não tem nada a ver com a mensagem. Mas, tenha ou não feito de maneira intencional, assinar seu desenho está saindo muito caro. Há vários dias vem recebendo mensagens ameaçadoras exclusivamente da Espanha. “Demorei muito para entender o que estava acontecendo. Acredito que foi um grande mal-entendido. Algumas pessoas entenderam que #NiUnaMenos foi ideia da Todo Bonito. Outros estão muito irritados porque assinei o desenho com o endereço de minha loja. A imagem da menina é um personagem próprio que utilizo em diferentes temáticas e sempre assino da mesma maneira”, diz ela.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.