Estado Islâmico ganha força depois das conquistas de Palmira e Ramadi
A tomada da cidade síria ameaça ruínas arqueológicas que são patrimônio da humanidade
Depois de mais de uma semana de ataques, as milícias do Estado Islâmico (EI) se apoderaram na madrugada de quinta-feira da cidade histórica de Palmira, eixo estratégico de comunicações no deserto da Síria e célebre por suas valiosas ruínas arqueológicas duas vezes milenares. O Observatório Sírio de Direitos Humanos, uma ONG com sede em Londres, confirmou que os jihadistas controlavam a cidade e o próprio grupo terrorista também anunciou, via Twitter, que sua bandeira negra tremulava em Palmira depois da conquista.
Perto de completar-se um ano da grande ofensiva jihadista na Síria e no Iraque, o califado, proclamado por Abubaker al Bagdadi em junho de 2014 na cidade iraquiana de Mossul, consegue expandir-se até o simbólico oásis no centro da Síria e estende assim sua presença sobre pontos estratégicos, sempre ao redor das zonas mais povoadas do país sob controle do regime, como Hama, Homs ou a capital, Damasco.
Os jihadistas obtiveram na quarta-feira uma nova vitória, três dias depois da tomada da cidade iraquiana de Ramadi, chave para o acesso a Bagdá a partir precisamente da franja oriental síria sob seu domínio. Depois da grave derrota em Tikrit, em março, as conquista de Palmira e Ramadi – terceira capital de província em seu poder depois da síria Raqa e de Mossul – proporcionaram ao grupo jihadista uma força extraordinária, militar e, sobretudo, de propaganda.
Essa dupla vitória põe em questão não só a capacidade dos exércitos sírio e iraquiano de fazer frente aos jihadistas, mas também da coalizão liderada pelos Estados Unidos contra o califado, 10 meses depois de iniciada a ofensiva aérea nos dois países.
Palmira, patrimônio em risco
Palmira (Tadmur, em árabe), a pérola do deserto, foi nos séculos I e II d.C. um dos centros culturais mais importantes do mundo antigo e ponto de encontro das caravanas da Rota da Seda, que atravessavam a árida região central a Síria. Situada 240 quilômetros a nordeste de Damasco, é também um enclave que abre o caminho até o vale do rio Eufrates, onde o califado estabeleceu, águas acima, seu principal centro de poder, na cidade de Raqa. Antes do início dos conflitos no país, em março de 2011, suas ruínas eram uma das principais atrações turísticas do país árabe e de toda a região.
As conquista de Palmira e Ramadi deram ao grupo uma força extraordinária, tanto militar quanto de propaganda
A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, pediu “um cessar-fogo imediato”. “Estou muito preocupada com a situação de Palmira, declarada Patrimônio da Humanidade. Os combates ameaçam um dos lugares mais significativos do Oriente Médio”, afirmou Bokova num comunicado.
A televisão oficial síria informou na noite de quarta-feira que o Exército de Bachar el Assad havia se retirado de Palmira depois de evacuar a maioria de seus 50.000 habitantes. O Estado Islâmico controla a prisão da cidade, tristemente conhecida como foco de repressão do regime de Bachar el Assad, o quartel dos serviços de inteligência militar e o aeroporto.
O diretor de Antiguidades e Museus da Síria, Maamun Abdelkarim, disse que a entrada dos jihadistas na área monumental da cidade histórica era “um desastre para todo o mundo, não apenas para os sírios”. O responsável sírio pelo patrimônio histórico afirmou que antes da invasão do EI as autoridades conseguiram transportar para lugares seguros estátuas e objetos artísticos. A ameaça que o fanatismo do Estado Islâmico representa para o patrimônio histórico já ficou patente com a destruição das ruínas arqueológicas de Nimrod, Hatra e da bíblica Nínive, no Iraque.
Os jihadistas já tinham invadido o norte da cidade no sábado passado, mas foram expulsos pelas Forças Armadas sírias no dia seguinte. Foram registradas nos combates mais de 430 mortes, entre as quais 71 de vítimas civis, algumas decapitadas ou fuziladas pelos milicianos fundamentalistas. Na ofensiva de Homs, a província onde se localiza Palmira, o Estado Islâmico dominou as amplas zonas em Al Sujna e Al Ameriya, assim como os campos de gás de Al Arak e Al Hil.
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