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Precisamos falar sobre a pobreza

ONG cria campanha para questionar a publicação de notícias 'fúteis' pela imprensa

Marina Rossi
Gustavo Lacerda (Divulgação)

Precisamos falar mais sobre a pobreza. Com esse objetivo, a ONG Teto, que constrói casas populares para pessoas que moram em situação precária, lançou uma campanha que joga luz à banalização do que é notícia, e alertando para a miséria no Brasil.

Lançada há duas semanas, a campanha traz imagens dos moradores da comunidade Malvinas, em Guarulhos. Nas fotos, eles seguram cartazes com mensagens como "Cantora é flagrada tomando água" e "Famosa é vista falando ao celular". As frases, segundo Julio Lima, diretor Social da Teto, foram todas retiradas de notícias reais da internet. "Essa campanha não é uma critica direta às pessoas que consomem essas notícias, mas é um convite para que elas deem atenção à pobreza também", diz.

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A ideia surgiu através do trabalho realizado todos os finais de semana nas comunidades, segundo Lima. "A realidade das favelas mais precárias não vira pauta, por isso quisemos fazer essa jogada". Além de fazer esse alerta, as peças foram criadas para buscar voluntários para a campanha COLETA 2015. Nos dias 22, 23 e 24 de maio, mais de 5.000 jovens voluntários estarão nas ruas das cidades de São Paulo, Campinas (SP), ABC (SP), Rio de Janeiro, Curitiba (PR) e Salvador (BA) para arrecadar recursos para dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos nas comunidades.

Um dos exemplos mais clássicos desse tipo de notícia que virou alvo da campanha é uma que envolveu o cantor Caetano Veloso. Há quatro anos, o portal Terra publicou a seguinte notícia: "Caetano [Veloso] estaciona carro no Leblon nesta quinta-feira". A nota vinha acompanhada de três fotos do cantor, uma "se preparando para atravessar a rua", a outra "olhando para o fotógrafo" e a outra "esperando no estacionamento". A banalidade da informação viralizou a "notícia" que, a cada ano, é lembrada por internautas com a hashtag #CaetanoEstacionaNoLeblon. O Terra agradeceu seus leitores por "tornar a data da publicação da matéria tão marcante", como escreveram em um texto fazendo piada com a própria publicação. Segundo o portal, foi uma das mais vistas nas redes sociais. "Nem parece que faz quatro anos! Todo mundo se lembra onde estava quando Caetano estacionou o carro no Leblon", comentou um leitor.

A verdade inconveniente é que não é raro que algum editor de revista ou jornal diga que 'não colocamos pretos e pobres na capa [das publicações]'. Em um país onde mais de 10 milhões de pessoas ainda vivem abaixo da linha da pobreza, uma visita à banca de jornais ilustra bem a ausência de notícias sobre essa realidade. 

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