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Governo da Venezuela raciona a eletricidade pela alta demanda

Maduro lança um "plano de economia energética" tanto para o setor público como o privado utilizando o calor como desculpa

O presidente da Venezuela, durante seu programa televisivo.
O presidente da Venezuela, durante seu programa televisivo.HANDOUT (REUTERS)

A Venezuela continua construindo sua versão própria do período especial de Cuba. O vice-presidente do país, Jorge Arreaza, e o ministro de Energia Elétrica, Jesse Chacón, anunciaram na terça-feira “um plano de economia energética” para o setor público e privado, por conta do aumento do consumo de energia. As altas temperaturas registradas no começo da semana no estado produtor de petróleo de Zulia —cuja capital, Maracaibo, registrou até 36 graus nos termômetros com uma sensação térmica de 44— e em quase todo o país dispararam a demanda. Os dois políticos tiveram o cuidado de não utilizar o verbo racionar por sua conotação negativa. Mas não há outra explicação.

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Enquanto essa situação durar os escritórios públicos trabalharão seis horas consecutivas —das 7h30 da manhã às 13h30 da tarde—, entre outras medidas. O Governo está pedindo às empresas privadas, especialmente aos grandes centros comerciais, que gerem sua própria eletricidade ao meio-dia e nas primeiras horas da noite. Os particulares foram orientados a regular em 22 graus a temperatura dos ares-condicionados. Para certificar-se de que o consumo reduza em pelo menos 20%, o Governo desenterrou uma resolução de junho de 2011 que pune quem não cumprir a medida.

O regime decidiu em 2007 —quando declarou-se socialista— estatizar as empresas elétricas, o que causou uma queda pronunciada do serviço. Os cortes tornaram-se mais frequentes desde então e também os pedidos aos venezuelanos para que diminuam o consumo de energia. Naquele momento a medida não gerou tanto impacto porque ainda não existia a consciência do imenso fracasso no gerenciamento revolucionário conduzindo o negócio. Na quarta-feira, no programa de rádio mais sintonizado das manhãs venezuelanas, o jornalista César Miguel Rondón afirmou que no verão o calor em Nova York é muito mais forte do que o sentido no país e que não existia a necessidade de racionar a luz.

Caracas penhora o ouro

O Banco Central da Venezuela (BCV) está negociando cerca de 1,5 bilhão de dólares (4,44 bilhões de reais) com garantia de parte de suas reservas internacionais em ouro. É uma operação através de um swap por 1,4 milhões de onças troy (unidade de medida) de ouro por um período de quatro anos. Finalizado o lapso, Caracas recuperaria suas reservas.

A informação não foi confirmada pelas autoridades, mas a imprensa local, até mesmo a mais próxima ao Governo, já dá o fato como certo. O jornal El Nacional afirmou na segunda-feira que a operação foi realizada através do banco Citibank sem dar mais detalhes, e confirmou sua versão com as afirmações de dois renomados economistas da área, Asdrúbal Oliveros e José Guerra. A medida é uma resposta à queda dos preços do petróleo e a falta de divisas em espécie que entram na economia venezuelana.

Um swap de ouro é um intercâmbio do minério por dinheiro em espécie, com o compromisso de reverter a transação em uma data e com um preço final já estabelecidos. Geralmente, a parte que coloca o ouro não desincorpora o ativo de seus balanços. Por volta de dois terços das reservas internacionais da Venezuela estão em ouro monetário.

A decisão é mais um contratempo na calamitosa vida de um venezuelano, que se limita cada vez mais a percorrer supermercados e farmácias e a recolher-se cedo para evitar ser vítima de algum crime. Mas o Governo não tem outro remédio a não ser ditar essas medidas pois o parque elétrico não é capaz de suportar um aumento da demanda. Miguel Lara, ex-gerente do Escritório de Operação e Planificação do Sistema Interconectado da Venezuela (a instância encarregada de coordenar e planejar a distribuição de energia), afirma que o país não está preparado para suportar aumentos súbitos da demanda.

O chavismo fez um grande investimento ao aumentar de 23.700 para 33.000 megawatts a capacidade de geração, mas mal consegue suportar uma demanda que está em torno de 16.000. Os jornalistas locais perguntavam-se na quarta-feira o que aconteceu com todos esses megawatts adicionados ao sistema. “O que foi instalado ou não está operando, ou é velho, ou não tem combustível”, responde Lara. O governo chavista não conseguiu em 15 anos aumentar a produção petrolífera, de onde sai o gás como qual o sistema é operado, e não tem dinheiro para importá-lo.

A opinião pública apontou a empresa Derwick como a grande culpada pela crise elétrica, que para muitos encarna a quintessência do empresariado corrupto que assina contratos com o Estado e superfatura os equipamentos que vende. Mas existe também a crença de que o pacto com Cuba para aumentar a capacidade de geração também não dá resultado. É, além disso, ostensivo o atraso da central hidrelétrica de Macagua, que o Governo prometeu inaugurar em 2007, e que aliviará a precariedade do sistema.

Os particulares foram orientados a regular em 22 graus a temperatura dos ares-condicionados

A resposta do Governo foi negar todas essas explicações e perseguir os especialistas que as denunciam. Há 15 dias a polícia política deteve em Barquisimeto o engenheiro elétrico Luis Vásquez Corro, que declarou a um jornal local que se o período de chuvas, que geralmente começa na segunda quinzena de maio, atrasar, será preciso desligar as turbinas da represa de Guri, que gera a maior parte da energia do país.

No domingo, em uma entrevista ao jornal El Universal, o ministro Chacón afirmou ter conseguido estabilizar a demanda. Dois dias depois a medida de racionar energia o desmentiu. Para justificar-se, Chacón afirmou que a demanda passou em uma semana de 16.800 a 18.300 megawatts. “Nessas condições o sistema começa a ter problemas de estabilidade”.

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