Ratos, powerpoint e acusações de “Pinóquio” na CPI da Petrobras
Em depoimento, tesoureiro do PT desmentiu delações premiadas de doleiro e ex-diretor


Cinco ratos foram os maiores protagonistas de uma sessão da CPI da Petrobras na Câmara onde o depoente estava desobrigado de dizer a verdade por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. Logo no início dos trabalhos da comissão, nesta quinta-feira, um funcionário da casa soltou os roedores nas galerias do plenário, provocando tumulto e obrigando a polícia legislativa a se desdobrar para capturá-los.
Márcio Martins Oliveira, um funcionário não concursado da Câmara lotado na 2ª Vice-Presidência, foi apontado como o autor da peripécia, e sumariamente exonerado. Ainda sob efeito do ocorrido, o depoimento de João Vaccari Neto, secretario de finanças do PT e investigado pela Operação Lava Jato, começou de forma inusitada. Ele se levantou da mesa e começou a exibir uma apresentação de powerpoint em um telão, explicando sua função no partido e os valores arrecadados. Deputados protestaram, dizendo que ele não estava lá para “dar palestra”.
Sob Vaccari, que é filiado ao PT há 25 anos, pesa a suspeita de ter participado de reuniões com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque nas quais eram acertados os valores de propina que seriam transferidos ao PT por meio de doações. Segundo o Ministério Público Federal, foram feitas 24 doações de 4,26 milhões de reais. Ele foi citado em ao menos dois processos de delação premiada, e nega participação no esquema investigado.
Vaccari negou por mais de uma vez ter conversado sobre doações ou assuntos financeiros do PT com Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco (ex-funcionários da estatal), e com o doleiro Alberto Yousseff. "As declarações do senhor Pedro Barusco, nos termos que está na delação premiada, no que se refere a minha pessoa, não são verdadeiras", afirmou. O tesoureiro também disse que o depoimento de Yousseff – que cita a entrega de 400.000 reais no PT – “não condiz com a verdade”.
O secretario exibiu no telão gráficos e planilhas com o total doado pelas empresas investigadas na Lava Jato, segundo os quais os recursos oferecidos para o PT, PSDB e PMDB pelas companhias seria semelhante. “Isso demonstra que essas empresas repassam recursos de forma igual para os partidos”, afirmou, dizendo ainda que todas as doações recebidas pelo PT foram “legais e declaradas à Justiça Eleitoral”.
Quando indagado - três vezes - pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS) se havia se reunido ao mesmo tempo com empreiteiros e diretores da Petrobras, Vaccari deu uma resposta evasiva, e depois afirmou que “já havia respondido essa pergunta”.
"Cadê o Fernando Soares?"
A não convocação do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado por delatores como o articulador do PMDB no esquema da Lava Jato, voltou a provocar críticas. “Por que não conseguimos convocar Fernando Soares? Por que estão o PMDB?”, indagou Maria do Rosário (PT-RS). “O PT não deve e não teme!”.
Chico Alencar (PSOL-RJ) também criticou a não convocação do suposto operador do PMDB – o parlamentar, sem sucesso, tenta em quase todas as sessões aprovar um requerimento para a convocação.
O presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-RJ), negou que a CPI esteja blindando "quem quer que seja", e que irá "investigar aquilo que for necessário". Em mais de um mês de funcionamento, nenhum depoente ligado ao PMDB no esquema foi chamado para depor.
Revoltado com o habeas corpus conseguido pelo depoente, o deputado André Moura (PSC-SE) chegou a compará-lo ao personagem Pinóquio: "Ele está aqui sob indulto de Pinóquio e está aqui para mentir". Questionado sobre sua permanência na secretaria de finanças em meio ao escândalo da Lava Jato – alguns setores do PT defendem seu afastamento -, Vaccari afirmou que “até o dia de hoje nenhuma proposta para me afastar do cargo foi feita no diretório nacional do PT”.
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