Bancos coniventes e propina da Petrobras para a eleição de Dilma
Pedro Barusco, ex-gerente da estatal, diz à CPI da Câmara que em 2010 foi solicitado à empresa SBM um "patrocínio" que teria sido repassado para a campanha de Rousseff
O depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara, que investiga as denúncias da operação Lava Jato, foi desastroso para o PT e para o Governo de Dilma Rousseff. Barusco admitiu que recebia propina desde 1997, mas que apenas a partir de 2003, durante o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o esquema de propina na estatal foi “institucionalizado”. Segundo ele, que depôs nesta terça-feira (10), em Brasília, o dinheiro fruto de corrupção foi repassado para a campanha da então candidata Dilma Rousseff em 2010. Esta informação já havia sido vazada de depoimentos feitos por ele à Polícia Federal, mas hoje Barusco detalhou a acusação.
De acordo com o depoente, Renato Duque (então diretor de serviços da Petrobras, ao qual Barusco era subordinado) solicitou à empresa holandesa SBM um “patrocínio de campanha” de 300.000 dólares que serviria de “reforço” para ajudar a eleger Rousseff. “Não foi dado por eles diretamente, eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas em outro recebimento”, afirmou o delator, que disse ainda que a doação “foi ao PT, pelo João Vaccari Neto [tesoureiro do PT]”.
O delator, que se mostrou calmo e impassível ao longo da sabatina com os deputados da CPI, disse não saber como o petista recebia e nem qual era o destino final da quantia que era destinada a ele: "Eu realmente sentava com ele, discutia, (...) mas eu não me envolvia com essa parte, se o dinheiro era para ele, pro (sic) partido. O rótulo era 'PT'". Barusco afirmou ainda não saber se o dinheiro repassado para Vaccari era declarado como doação "oficial, [ou] extra-oficial", e que "cabia a ele naquele percentual uma parte".
Questionado pelo deputado Afonso Florence (PT-BA) sobre as provas de que houve efetivamente pagamentos feitos a Vaccari em nome do PT, Barusco disse que não forneceu provas à Polícia Federal ao longo do processo da Lava Jato porque elas foram destruídas, mas que contou o que sabia. “Muita documentação foi destruída antes da delação. O trabalho de coletar provas vai progredir. Eu simplesmente falei o que sabia”, disse à CPI.
O depoimento, transmitido ao vivo pela TV, por mais de seis horas, chega em uma semana muito difícil para Dilma, que enfrenta manifestações públicas de desagrado contra o seu Governo desde domingo. Somadas às queixas sobre o custo do ajuste fiscal, as declarações de Barusco farão aumentar o coro dos descontentes que enxergam no PT o principal responsável pelos desmandos na Petrobras.
Empresa holandesa SBM teria dado um “patrocínio de campanha” de 300.000 dólares para ajudar a eleger Dilma Rousseff em 2010
Deputados petistas tentaram fazer com que o ex-gerente detalhasse os pagamentos ilegais feitos durante o Governo do tucano Fernando Henrique Cardoso – o delator afirmou que começou a receber propina em 1997 -, mas o ex-gerente da estatal afirmou que durante este período ele cobrava “por conta própria”, e que não havia um esquema organizado como o que, segundo ele, se consolidou em 2003. A corrupção no período FHC era “pontual e pessoal”, disse. O depoente não deu maiores detalhes sobre quem estava envolvido no esquema na década de 1990, alegando que “existe uma investigação em curso, eu sou investigado (...) Não vou aprofundar, porque está ocorrendo uma investigação", afirmou.
Bancos coniventes
Além de políticos, empresários e doleiros, outro personagem desta engrenagem de corrupção que abalou a política brasileira veio à tona durante o depoimento: a conivência dos bancos, que segundo o delator, sabiam da origem ilícita dos depósitos feitos por ele.
Barusco mencionou as seguintes instituições bancárias como destinatárias do dinheiro pago a ele como propina: HSBC, HS Republic, Cramer, Safra, Delta e Royal Bank of Canada. No total, o ex-gerente da Petrobras disse ter acumulado cerca de 97 milhões de dólares em contas no exterior, valor que, segundo ele, será repatriado para os cofres públicos. Indagado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) se a funcionária do banco Safra suíço Denise Kos sabia que o dinheiro era de propina, Barusco inicialmente disse que é difícil saber, mas depois afirmou acreditar “que os bancos todos sabiam”.
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