_
_
_
_

“Protestar de casa é mais fácil, e isso não tira o mérito desse ato”

Para Carlos Ranulfo Melo, é cedo para dimensionar o 'panelaço' Protesto revela a dificuldade de muitos aceitarem o resultado das urnas

Gil Alessi
O cientista político Carlos Ranulfo Melo.
O cientista político Carlos Ranulfo Melo.TV UFOB

Ao invés de tomar as ruas para protestar batendo panelas e tocando buzinas, um novo tipo de manifestação mostrou sua força na noite de domingo (8), durante o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff. É o panelaço 'à brasileira', feito de dentro de casa, nas varandas e janelas dos prédios de ao menos doze capitais brasileiras.

Manifestações públicas de repúdio à chefe do Executivo não são novas - vide as vaias e xingamentos que Rousseff escutou em 2013 no estádio Mané Garrincha, em Brasília, durante a Copa das Confederações. Mas para o cientista político Carlos Ranulfo Melo, da Universidade Federal de Minas Gerais, este formato de protesto é "inédito" no país.

Pergunta. Qual o significado deste panelaço feito durante o pronunciamento da presidenta?

Resposta. Primeiro, é preciso deixar uma coisa bem clara: ninguém sabe ao certo a dimensão disso, é impossível mensurar este protesto, já que ele não aconteceu nas ruas. Muito provavelmente o panelaço aconteceu nas áreas onde a Dilma sempre teve dificuldades, e foi orquestrado pelos setores que estão descontentes com o Governo desde as eleições do ano passado. Essa manifestação mostra um país que ainda não superou o resulta do pleito de 2014, e muitas pessoas ainda acreditam em um terceiro turno.

Mais informações
“Vaca” até quando?
Manifestação das panelas surpreende e reacende polarização no país
“O Governo está tão fraco que dá margem a pedido de impeachment”
Na TV, Dilma pede paciência com a crise e ouve panelaços pelo país
Ainda desunida, oposição quer se aproveitar da fragilidade de Dilma

P. Esse protesto pode ter algum impacto nas manifestações contra a presidenta Dilma marcadas em várias cidades para o dia 15 deste mês?

R. Se a imprensa transformar o panelaço em uma grande manifestação isso pode fortalecer muito o ato. Eu acho que grande parte da mídia deu um enorme destaque para o panelaço mesmos sem saber a real dimensão disso tudo, o que já era esperado. A grande mídia nunca foi simpática aos governos do PT. Isso não quer dizer que ela é partidária, tucana, mas ela tem uma visão do mundo que se alinha contra os projetos do PT.

P. Por que essa mobilização aconteceu dentro de casa, e não nas ruas como de costume?

R. É muito mais fácil protestar de dentro de casa, se mobilizando com a ajuda de grupos de whatsapp. O chamamento não foi para ir para a rua. É mais fácil articular algo nos moldes do que foi feito do que convocar para a rua. Na Argentina as pessoas vão para rua para bater panela, tocar buzina e se manifestar.

P. Esse modelo de protesto feito em casa é menos efetivo do que uma manifestação de rua?

"É muito mais fácil protestar de dentro de casa, se mobilizando com a ajuda de grupos de whatsapp"

R. Isso não tira a justeza do protesto. É a primeira vez que algo assim acontece no Brasil [panelaço nas janelas durante pronunciamento da presidenta na TV], independente de quantos foram. Isso é indicativo de que há um movimento articulado e descontente. Quanto à efetividade, é difícil falar, já que é um fenômeno imensurável.

P. Este tipo de manifestação tem necessariamente um caráter golpista?

R. Não necessariamente. Existe um movimento forte contra a Dilma. Manifestar-se contra o Governo é absolutamente normal. Se você bate panela, grita, buzina, não há nada de errado. O que é ruim para a democracia é o movimento da direita para articular a saída da Dilma. A Constituição brasileira é clara nos sentido de que é preciso que haja crime de responsabilidade para que o chefe do executivo federal seja impedido. E o Ministério Público já deixou claro que isso não existiu. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não há indício de que a presidenta seja responsável pelos crimes investigados pela Lava Jato.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_