“Protestar de casa é mais fácil, e isso não tira o mérito desse ato”
Para Carlos Ranulfo Melo, é cedo para dimensionar o 'panelaço' Protesto revela a dificuldade de muitos aceitarem o resultado das urnas
Ao invés de tomar as ruas para protestar batendo panelas e tocando buzinas, um novo tipo de manifestação mostrou sua força na noite de domingo (8), durante o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff. É o panelaço 'à brasileira', feito de dentro de casa, nas varandas e janelas dos prédios de ao menos doze capitais brasileiras.
Manifestações públicas de repúdio à chefe do Executivo não são novas - vide as vaias e xingamentos que Rousseff escutou em 2013 no estádio Mané Garrincha, em Brasília, durante a Copa das Confederações. Mas para o cientista político Carlos Ranulfo Melo, da Universidade Federal de Minas Gerais, este formato de protesto é "inédito" no país.
Pergunta. Qual o significado deste panelaço feito durante o pronunciamento da presidenta?
Resposta. Primeiro, é preciso deixar uma coisa bem clara: ninguém sabe ao certo a dimensão disso, é impossível mensurar este protesto, já que ele não aconteceu nas ruas. Muito provavelmente o panelaço aconteceu nas áreas onde a Dilma sempre teve dificuldades, e foi orquestrado pelos setores que estão descontentes com o Governo desde as eleições do ano passado. Essa manifestação mostra um país que ainda não superou o resulta do pleito de 2014, e muitas pessoas ainda acreditam em um terceiro turno.
P. Esse protesto pode ter algum impacto nas manifestações contra a presidenta Dilma marcadas em várias cidades para o dia 15 deste mês?
R. Se a imprensa transformar o panelaço em uma grande manifestação isso pode fortalecer muito o ato. Eu acho que grande parte da mídia deu um enorme destaque para o panelaço mesmos sem saber a real dimensão disso tudo, o que já era esperado. A grande mídia nunca foi simpática aos governos do PT. Isso não quer dizer que ela é partidária, tucana, mas ela tem uma visão do mundo que se alinha contra os projetos do PT.
P. Por que essa mobilização aconteceu dentro de casa, e não nas ruas como de costume?
R. É muito mais fácil protestar de dentro de casa, se mobilizando com a ajuda de grupos de whatsapp. O chamamento não foi para ir para a rua. É mais fácil articular algo nos moldes do que foi feito do que convocar para a rua. Na Argentina as pessoas vão para rua para bater panela, tocar buzina e se manifestar.
P. Esse modelo de protesto feito em casa é menos efetivo do que uma manifestação de rua?
"É muito mais fácil protestar de dentro de casa, se mobilizando com a ajuda de grupos de whatsapp"
R. Isso não tira a justeza do protesto. É a primeira vez que algo assim acontece no Brasil [panelaço nas janelas durante pronunciamento da presidenta na TV], independente de quantos foram. Isso é indicativo de que há um movimento articulado e descontente. Quanto à efetividade, é difícil falar, já que é um fenômeno imensurável.
P. Este tipo de manifestação tem necessariamente um caráter golpista?
R. Não necessariamente. Existe um movimento forte contra a Dilma. Manifestar-se contra o Governo é absolutamente normal. Se você bate panela, grita, buzina, não há nada de errado. O que é ruim para a democracia é o movimento da direita para articular a saída da Dilma. A Constituição brasileira é clara nos sentido de que é preciso que haja crime de responsabilidade para que o chefe do executivo federal seja impedido. E o Ministério Público já deixou claro que isso não existiu. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não há indício de que a presidenta seja responsável pelos crimes investigados pela Lava Jato.
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