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CÚPULA DAS AMÉRICAS

Crise da Venezuela une dois adversários da política espanhola

Ex-premiês Aznar e González assinam manifesto com outros 23 ex-presidentes da região

JAN MARTÍNEZ AHRENS (ENVIADO ESPECIAL)
Felipe González durante entrevista ao EL PAÍS.
Felipe González durante entrevista ao EL PAÍS.ULY MARTIN

A política, na Venezuela, tem forma de ringue. Não há dia sem golpe e, no momento, tampouco maneira de interromper o combate. A repressão política desatada pelo regime chavista e que levou à prisão alguns dos mais destacados opositores abriu uma frente de repúdio internacional que nesta quinta-feira recebeu novas adesões. Aproveitando como caixa de ressonância a iminente abertura da Cúpula das Américas, 25 ex-presidentes ibero-americanos denunciaram no Panamá a “falta de garantias democráticas” que sofre a Venezuela e apresentaram uma declaração exigindo a libertação dos presos políticos e a realização de eleições “livres e justas”. Entre os signatários do documento figuram os ex-mandatários espanhóis José María Aznar e Felipe González, o que ratifica uma inegável qualidade da República Bolivariana: o rechaço a suas ações une até os mais ferozes adversários. “Até hoje, que se saiba, só tinham assinado juntos o registro de algum hotel”, brincou o ex-presidente Andrés Pastrana.

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A intervenção de Aznar no Panamá, aonde viajou exclusivamente para apoiar o texto, foi fiel ao seu estilo. Curta e severa. “Minha simples presencia é expressiva”, sintetizou, para logo arrematar: “Minha missão é a de um lutador da liberdade que sabe que em determinadas circunstâncias o silêncio ou a inação são cúmplices, por exemplo, diante da situação absolutamente insustentável na Venezuela. Deixo claro que nem minha voz nem minha vontade jamais faltarão para aqueles que lutam pela liberdade”. Felipe González, que anunciou a intenção de se encarregar da assistência legal aos dois opositores presos mais importantes, não esteve presente ao ato.

O documento, iniciativa da Fundación Idea, oferece um retrato da situação venezuelana na qual se denunciam abusos de poder, torturas, pressões e censuras aos meios de comunicação, assim como a falta de independência do Poder Judiciário ou a derrocada econômica. “Queremos conseguir um terremoto político que garanta a mudança”, disse Pastrana, encarregado de ler a declaração. “É evidente a ausência de independência da justiça, a perseguição judicial a quem se manifesta e se mostra politicamente dissidente frente a tal governo, a presença reiterada de atos de tortura por parte de funcionários do Estado, a existência de grupos paraestatais armados e de apoio ao Governo, e o ambiente de total impunidade, a cujo efeito se exige a imediata libertação de todos os presos políticos, entre outros, do opositor Leopoldo López e dos prefeitos Antonio Ledezma e Daniel Ceballos”, afirma o texto. Entre os signatários se destacam os mexicanos Felipe Calderón e Vicente Fox, os colombianos Belisario Betancur e Álvaro Uribe, o chileno Sebastián Piñera e o uruguaio Julio María Sanguinetti. “Preferimos nos equivocar em favor da Venezuela do que calar”, disse Calderón.

Compareceram à apresentação dois símbolos da resistência ao regime chavista: Lilian Tintori e Mitzy Capriles, esposas de Leopoldo López, líder da Vontade Popular, e Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, ambos presos. Sentadas em um canto da sala de conferências, ambas se tornaram o eixo dos discursos e receberam, entre sonoros aplausos, as felicitações dos oradores. No fim, elas mesmas subiram ao palco para pedir uma mudança na Venezuela.

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