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“Gari não tem tempo para a família”

Felipe, 28, que viaja 30km até trabalho, sugere que garis possam atuar perto de casa

F. B.
O gari Felipe George, de 28 anos.
O gari Felipe George, de 28 anos.Felipe Betim

O gari Felipe George, de 28 anos, percorre mais de 30 quilômetros diários entre a sua casa em Bangu, na zona oeste do Rio, até a região do Méier. Nesse bairro da zona norte, trabalha no caminhão de coleta e tem que cumprir diariamente um roteiro definido pela Comlurb. Sua rotina começa as quatro da manhã, quando tem que pegar um trem e um ônibus, e em teoria deveria acabar as 14h20. “Mas se o caminhão quebra ou tem alguém engarrafamento, ficamos presos até mais tarde, até as quatro, cinco, seis… Nos fins de semana, em compensação, podemos acabar o roteiro antes do tempo”, resume.

Como sua esposa também trabalha durante o dia, seu filho de cinco anos fica em uma creche na parte da manhã e com uma senhora aposentada à tarde, que recebe 300 reais para isso. “Em um dia normal chego em casa às seis. Até tomar banho e jantar, já é quase hora de dormir. Quando vou ficar com o meu filho? O gari não tem tempo para a família”. Como tem que trabalhar dois domingos ao mês, sobra outros dois para ficar com a família. “Mas e quem quer tomar uma cerveja com os amigos no sábado? Já acorda no domingo mais tarde e perde o dia”.

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Para ele, falta planejamento da Comlurb: se a maioria trabalhasse perto de onde mora, o trabalhador teria mais qualidade de vida e a empresa poderia até economizar em vale transporte, argumenta. “E por ser morador da área, eu poderia chegar para um vizinho que conheço e mandar ele não jogar lixo na rua. Seria uma forma de trabalhar a conscientização ambiental”. Além disso, uma das demandas para o futuro é a de diminuir a jornada de trabalho de oito a seis horas diárias.

Felipe acredita que desde o ano passado, com a “revolução”, os garis passaram a ter uma forte força política. “E temos uma base enorme. Não são apenas os 15.000 garis, são também os familiares, os amigos, todos os que convivem com a gente. Ano que vem estaremos aqui de novo, sem medo de retaliação.”

Quanto ganha um gari?

- Um gari da Comlurb trabalha oito horas diárias de segunda a sábado e dois domingos por mês. Somando os principais benefícios, recebem pacote de remuneração equivalente a R$ 2.263,00 por mês, de acordo com o último aumento de 8%.

- O salário inicial passou de R$1.100,00 a R$1.188,00, mais 40% de insalubridade (que passou de R$440,00 a R$475,00) dependendo da função exercida. O vale refeição continua no valor de R$600,00 por mês, além de vale transporte; plano de saúde e odontológico; seguro de vida; auxílio creche, de R$259,90; auxílio ao filho com deficiência, de R$476,48, além de cesta natalina.

- No ano passado, o salário base era de R$803,00 e o vale refeição de R$12,00. O aumento do salário concedido pela Comlurb foi de 37%; somando todos os benefícios, o acréscimo foi de 44%. Segundo disse a prefeitura na época, o acordo significou 400 milhões de reais a mais para os cofres públicos.

- A Comlurb ressalta que, desde 2009, a renda do trabalhador da empresa subiu 133%, incluindo melhorias salariais e de benefícios. Os garis, entretanto, asseguram que o salário continuam defasados e, até o ano passado, ficaram três anos sem receber qualquer aumento.

- A longo prazo, os trabalhadores também demandam a volta do triênio, que aumenta os salários em 40% a cada três anos (além dos reajustes anuais conforme a inflação); e que a jornada laboral passe a seis horas diárias.

- Um gari de São Paulo recebe R$ 2.041,67; de Belo Horizonte, R$ 1.935,20; de Vitória, R$1.902,58; de Porto Alegre, R$ 1.724,98, de Salvador, R$ 1.425,20; da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, R$ 1.235,20.

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