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‘Narcomami’: a mulher mais poderosa do mundo do tráfico de drogas

Líder do cartel de Tijuana é apontada como a principal personalidade feminina do tráfico

Cidade do México -
Enedina Arellano Félix (segunda à dir.), em foto sem data.
Enedina Arellano Félix (segunda à dir.), em foto sem data.

A imagem mostra o que poderia ser uma família mexicana qualquer no final dos anos 1980 ou princípio dos 1990. Seis irmãos, uma mãe e duas mulheres. Mas não se trata de uma família comum. São os Arellano Félix, fundadores do cartel de Tijuana (México), que dominou boa parte do narcotráfico no México durante o final do século XX e depois passou a travar uma sangrenta disputa territorial contra o cartel de Sinaloa, fundado por Ismael El Mayo Zambada e Joaquín El Chapo Guzmán, considerado o capo mais poderoso do mundo, e contra o cartel de Juárez, encabeçado por Amado Carrillo, conhecido como O Senhor dos Céus.

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A guerra entre os cartéis já causou milhares de mortes no noroeste do México. Um dos irmãos Arellano Félix, Ramón, ficou famoso por ter cometido pessoalmente a chacina que vitimou doze membros de uma mesma família em 1992 na localidade de Ensenada. Ele morreu em um tiroteio em fevereiro de 2002. Depois de sua morte, os outros irmãos se sucederam para conservar o comando da organização, mas, um a um, foram caindo. Benjamim, que era o principal líder, foi capturado em março do mesmo ano. Francisco Javier foi detido em 2006 nos Estados Unidos. Eduardo foi preso em Tijuana em 2008. E Francisco Rafael foi morto por um pistoleiro vestido de palhaço numa festa em Los Cabos, em outubro de 2013. Então a organização, agora debilitada, passou ao comando de uma mulher que estava inclusive entre os convidados daquela festa: Enedina, uma das quatro irmãs do clã, e a mais ativa nos negócios familiares.

Para as autoridades mexicanas e norte-americanas, a queda dos irmãos Arellano Félix significou que o outrora poderoso cartel de Tijuana estava dizimado. “O cartel é apenas uma casca do que já foi um dia, só que agora opera de uma maneira diferente”, admite uma fonte policial.

Não é a valentona cruel nem a dama obcecada pelo poder e a beleza. É escorregadia, mecânica, discreta, inteligente Ricardo Ravelo, jornalista

Enedina Arellano Félix, de aproximadamente 50 anos, costuma passar despercebida nas listas dos traficantes mais poderosos do México, apesar de ser a única mulher a liderar um cartel do narcotráfico, segundo a DEA, a agência antidrogas dos EUA, que a descreve como “discreta”. É conhecida como A Chefa ou Narcomami (algo como narcomãe), e já era apontada desde 2008 pela agência como a mulher mais poderosa do mundo das drogas. Dedicava-se a administrar as finanças do grupo e, quando precisou assumir o poder na organização junto com seu sobrinho, Fernando Sánchez Arellano, optou por negociar com os piores inimigos da sua família, os líderes do cartel de Sinaloa. Sánchez Arellano, vulgo Engenheiro, foi detido em 2014 quando assistia pela TV ao jogo México x Croácia, pela Copa do Mundo do Brasil.

Foi então que Enedina, contadora de profissão, passou a ser apontada como a principal chefa da organização, apesar de existirem desde 2002 relatórios do Departamento do Tesouro dos EUA descrevendo-a como o cérebro financeiro do cartel. Dedicava-se principalmente às operações de lavagem de dinheiro através de empresas de fachada, como uma rede de drogarias e uma imobiliária.

Enedina Arellano Félix costuma passar despercebida nas listas dos traficantes mais poderosos do México, apesar de ser a única mulher a liderar um cartel do narcotráfico

Atualmente, segundo um relatório policial, a organização se reagrupou em seus principais redutos (Rosarito, Soler e El Cacho), mas não há indícios de que consiga atualmente desafiar o domínio do cartel de Sinaloa em alguns pontos estratégicos. “Ela prefere conduzir um grupo criminoso com o mínimo confronto possível”, diz uma fonte judicial. É uma mulher que fala pouco, evita as excentricidades de outros chefes e costuma acordar muito cedo. Sempre preferiu se manter à sombra, apesar de o falecido jornalista Jesús Blancornelas, fundador do semanário Z, ter escrito em 2003 que ela sempre assessorou seus irmãos nas atividades de lavagem de dinheiro.

“Não é a valentona cruel nem a dama obcecada pelo poder e a beleza. É escorregadia, mecânica, discreta, inteligente", descreve o jornalista Ricardo Ravelo em uma investigação publicada em 2011. Ironicamente – ainda mais levando-se em conta o sangrento histórico dos seus irmãos – ela prefere evitar o conflito. Mantém uma vida social e tenta passar despercebida. É a mulher mais poderosa do mundo das drogas, segundo a DEA, e também a irmã caçula de um clã que fundou uma das organizações mais poderosas do México. Um destino que a impediu de realizar seu sonho de adolescente, porque na época seus irmãos já estavam entre os delinquentes mais procurados do México. Tinha 16 anos e queria ser a rainha do carnaval de Mazatlán.

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