“Sem El Chapo há mais roubos e desemprego”
O prefeito de Badiraguato, a cidadezinha onde nasceu El Chapo Guzmán, explica a forma de vida de uma região que vive da droga
Dirigindo pela estrada se veem vacas e homens com chapéu de cowboy cavalgando montados em éguas velhas, até que, no horizonte, aparecem umas letras gigantes sobre uma colina, no estilo Hollywood, que dizem Badiraguato. Nessa pequena cidade de 32.000 habitantes, situada ao pé da serra de Sinaloa, onde os agricultores mais espertos plantam maconha em vez de feijão, nasceram os narcotraficantes mais conhecidos da história do México.
O prefeito é um desses políticos hiperpresentes. O município compreende um centro urbano e uma infinidade de ranchos espalhados pelas montanhas, alguns a sete horas de distância subindo a montanha. Durante o inverno (boreal), Mario Valenzuela percorre todos eles para distribuir cobertores, cadeiras de rodas e conselhos: “Venho pedir que vocês sejam cidadãos responsáveis. Espanha e Estados Unidos têm as mesmas leis que nós, só que lá elas são cumpridas. Esse é o problema que tenho em Badiraguato e no México, em geral”.
A farta cabeleira de Valenzuela, com fios de cabelo que nascem a partir de quase a metade de sua testa, o protege do sol forte de meio-dia em El Sitio de Arriba, um povoado ao qual se chega depois de atravessar El Sitio de Abajo e El Sitio de Enmedio. Seu público, no campo onde está dando o comício, é formado por mulheres com crianças e idosos. Antes da entrevista, na qual Valenzuela (PRI, o partido do Governo) fala sobre El Chapo, a mãe do Chapo, o foragido Caro Quintero, o primo de Caro Quintero e a não morte do El Azul, jogou xaradas a seus eleitores: “Uma bem fácil. Como se chama o animal que voa com as patas?”. Pato, gritou alguém entre o público.
Pergunta. Qual é a situação de Badiraguato com Joaquín El Chapo Guzmán detido?
Resposta. O problema é no Estado (Sinaloa). A detenção de alguém do calibre do Chapo deixa muita gente desempregada de forma temporária. Enquanto as coisas se acomodam, surgem novos comandantes e novas hierarquias, temos novos problemas. Além disso, os roubos aumentaram, há mais assaltos...
P. Há um ano, você me disse que tinha certa relação com a mãe do Chapo.
R. A senhora (María Consuelo Loera) está mais magra. Na quarta-feira da semana passada estive em Tuna (uma aldeia do município onde o narcotraficante mais procurado nasceu). Ela está tranquila, estável. Na verdade, não a vi dessa vez, mas na visita retrasada, quando fui inaugurar um pavimento de pedras e a igreja à qual ela pertence (evangélica, construída por El Chapo, embora ele seja católico), a acompanhei por alguns momentos. Ela me convidou para tomar café da manhã e estivemos muito à vontade. Ela não tem culpa de que seu filho tenha se dedicado a isso.
P. Você acha que o sucessor do El Chapo pode ter sido Dámaso López Nuñez, El Licenciado?
R. Não sei. Minha única certeza é que El Chapo tem seu filho, Iván, e seu irmão Aureliano, e acho que eles têm que estar no comando antes do El Licenciado.
P. Você notou a presença de outros grupos criminosos que queiram ocupar o espaço que pertence ao Cartel de Sinaloa?
R. Não. A hierarquia dessa gente não é local, é praticamente internacional.
P. Foram encontrados muitos laboratórios de metanfetamina em Badiraguato.
R. Já se produz a droga sintética aqui e isso é ruim porque, no fim das contas, te prejudica mais que a maconha. As drogas sintéticas estão na moda, como dizem os jovens. Badiraguato é o berço do narcotráfico? Sim, aqui nasceram muitos narcotraficantes. El Señor de los Cielos (Amado Carrillo, que faleceu em 1997 durante uma operação plástica), El Azul (Juan José Esparragoza, capo histórico que seus filhos deram como morto), que diziam que tinha morrido, mas não é verdade.
P. Sua morte foi uma farsa para que as autoridades deixassem de persegui-lo?
R. Checamos com os parentes deles e as pessoas dizem que não. E mais, seus restos teriam sido trazidos até aqui, eu imagino, suas cinzas ou o que fosse, e isso não aconteceu.
P. A inteligência mexicana acha que Caro Quintero – passou 30 anos na prisão pelo assassinato de um agente da DEA (Departamento Antidrogas norte-americano) e foi solto no ano passado por meio de um recurso legal – se esconde em sua cidade de origem, La Noria, muito perto daqui.
R. Seria complicado afirmar isso, temerário demais. Dizem que sim. Em fevereiro a Marinha esteve aqui, com 18 helicópteros. Bateram muito no representante da comunidade, um primo de Caro Quintero. Ele não tem culpa de serem primos. Ele disse aos oficiais que é verdade que Caro já esteve aqui e que até fez um churrasco. Contou que a família foi cumprimentá-lo em La Noria, e que estavam felizes. Quando estava livre, Caro ajudou muito na região: instalou luz elétrica, construiu uma igreja muito bonita, dava emprego às pessoas. Claro você fica feliz quando um parente que estava preso há 30 anos é solto. Mas isso não é justificativa para alguém levar uma surra. Há muitas hipóteses sobre Caro: que está trabalhando em minas, que está ajudando as pessoas, que controla o cartel. Dizem que ele mesmo diz que prefere ser comido pelos mosquitos da serra do que voltar à prisão.
P. O mural dos personagens ilustres de Badiraguato que está sendo construindo vai incluir…?
R. Não, não vou colocar o El Chapo ali. Aí, sim, o Peña Nieto (presidente do México) vai vir em cima de mim.
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