Tsipras toma posse após acertar apoio com a direita nacionalista
O primeiro-ministro consegue o respaldo dos Gregos Independentes, os mais próximos à sua tese sobre a dívida
A Grécia só precisou de uma hora para visualizar seu futuro político após as eleições gerais de domingo. Como já se vislumbrava ao longo da campanha, os gregos deram nas urnas amplo respaldo à formação esquerdista Syriza que, entretanto, conseguiu 149 cadeiras no Parlamento, duas a menos do que a maioria absoluta, fazendo com que precise de alianças para conseguir tomar as rédeas do país helênico. Dos possíveis aliados, o Syriza escolheu o partido da direita nacionalista Gregos Independentes (ANEL) que, paradoxalmente, é a força que mais se aproxima de sua tese a respeito da dívida e o diálogo com a troika.
Tsipras tomou posse de seu cargo como primeiro-ministro por volta das 11 horas da manhã (horário de Brasília) desta segunda-feira e assegurou que servirá “à Grécia e ao interesse do povo grego”. O já primeiro-ministro se reuniu às 9h da manhã (horário de Brasília) com o arcebispo de Atenas e líder da Igreja da Grécia, Ieronimos, a quem comunicou que não prestaria o juramento religioso. Tsipras se tornou assim o primeiro chefe de Governo grego que prescindiu desse ritual. Para terça-feira, está previsto o juramento da equipe de Governo, que provavelmente será mais reduzida do que a atual. O Syriza anunciou de antemão que irá reduzir o número de ministérios de 18 para 10.
Apoio dos Gregos Independentes
Por volta das 11h30 da manhã de segunda-feira em Atenas (7h30 de Brasília), um sorridente Panos Kamenos, presidente do ANEL, anunciou que “a partir deste momento existe governo” na Grécia após sentar-se para negociar com Alexis Tsipras, líder do Syriza, às 9h30 (5h30 de Brasília), pouco depois deste receber a incumbência de formar o novo poder executivo do presidente da República, Karolos Papoulias. “Os Gregos Independentes oferecerão seu voto de confiança ao Governo”, ratificou Kamenos, que aproveitou seu minuto de glória para roubá-lo de Tsipras, a quem corresponderia, na realidade, a responsabilidade de tornar o acordo oficial. “Hoje Alexis Tsipras visitará o presidente e anunciará o Governo”, acrescentou Kamenos, que foi deputado da até então governista Nova Democracia.
Os veículos de comunicação gregos apontavam, na primeira hora da manhã de segunda-feira, para um anúncio iminente de um governo de colaboração entre Syriza e ANEL, que ficou em sexto lugar nas eleições com 4,75% dos votos e 13 cadeiras, e já estavam até mesmo publicando a composição do executivo. Os mesmos veículos de comunicação outorgam a nomes principais do Syriza, entre eles os principais assessores da equipe econômica de Tsipras, um protagonismo especial no futuro governo.
Em sua breve fala, Kamenos não fez comentários negativos, mas frisou que “o objetivo” do novo Executivo é que os gregos avancem “unidos para recuperar a soberania nacional”. De noite, foi mais explícito do que nas suas primeiras declarações após conhecer os resultados. Kamenos disse que seu partido ajudaria a estabelecer “uma nova realidade social e política pelo bem do país, da nação e do povo grego”. “Entrei em contato com Tsipras, o felicitei pela vitória e lhe disse que os Gregos Independentes, tal como dissemos desde o primeiro momento, apoiarão uma mudança no cenário político de nosso país, baseada nos princípios que expressamos publicamente”, indicou. Nesse sentido, defendeu que “chegou o momento de reconstruir o que foi destruído através de memorandos (com a União Europeia) e de libertar a Grécia da prisão da subjugação”.
Era previsto também que Tsipras tivesse uma reunião ao longo do dia com o líder da nova formação de centro To Potami (O Rio), o conhecido ex-apresentador de tevê Stavros Zeodorakis, assim como com o presidente do partido comunista KKE, Dimitris Kutsumbas. O To Potami é o quarto partido mais votado, com 6,05% e 17 cadeiras, enquanto o KKE é o quinto, com 5,47% e 15 cadeiras.
O acordo com o To Potami, partido criado em março, era visto como complicado, já que é liberal economicamente, defensor dos compromissos efetuados com a troika, pró-europeu confesso e com um corpo eleitoral formado por profissionais liberais e a acomodada classe média urbana. Do seu lado, o obstinado KKE, o único aliado natural – ideologicamente falando – do Syriza, estava muito longe de uma possível colaboração. Nas instâncias administrativas em que coincidem – na região da Ática, por exemplo –, “os comunistas votam em branco as propostas do Syriza, ainda que admitam no fundo concordar com as mesmas”, explicam fontes do Governo regional. O KKE está há anos enroscado em seu papel de oposição, de onde defende a saída da União Europeia e da OTAN.
Os conservadores da Nova Democracia, o partido do primeiro-ministro em exercício Andonis Samaras, são a segunda força política com 27,81% dos votos, o que implica 76 cadeiras, enquanto o terceiro lugar é ocupado pelos neonazistas da Aurora Dourada (AD), com 6,28% de votos e 17 cadeiras. O terceiro lugar da AD abriu um cenário inquietante embora remoto, já que, se o Syriza não conseguisse as 151 cadeiras que lhe dariam a maioria absoluta, embora precária, e os dois primeiros partidos não conseguissem formar o Governo, o mandato iria para os neonazistas, uma formação abertamente antissistema e com seus principais dirigentes na cadeia por associação criminosa. Uma colaboração da AD, que dá as costas para a Europa, com o Syriza, estava descartada de antemão.
Em último lugar, ficou o até agora pró-governo Pasok (socialdemocratas), do vice primeiro-ministro em exercício, Evangelos Venizelos, com 4,68% dos votos e 13 cadeiras. O Movimento dos Socialistas Democráticos do ex-primeiro-ministro Yorgos Papandreu (2,4%), não conseguiu representação parlamentar ao não superar os 3% mínimos exigidos, deixando o novo Parlamento com sete partidos. O diálogo com o Pasok é impossível pelas diferenças irreconciliáveis entre quem subscreveu dois resgates (Pasok) e quem defende abandonar imediatamente o segundo (Syriza).
A Nova Democracia e o Pasok convocaram reuniões extraordinárias de suas executivas para analisar os resultados eleitorais desfavoráveis. Samaras admitiu a derrota na noite de domingo – “não estou feliz”, confessou – e frisou que sua formação só perdeu dois pontos percentuais em relação a 2012 “após dois anos e meio de governo nos quais assentamos as bases do desenvolvimento econômico e superamos a recessão”, conquistas que “devem ser confirmadas” pelo novo Gabinete. Da sua parte, Venizelos acusou o partido de Papandreu de subtrair os votos necessários para que seu partido fosse a “terceira força”, como era seu desejo, e pediu uma maioria ampla para governar.
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