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Cofundador do Podemos recebeu para assessorar a Venezuela e seus sócios

Dirigente destinou os 425.150 euros para programa de debates políticos na Espanha

Joaquín Gil
Juan Carlos Monedero no fórum social do festival de Benicassim.
Juan Carlos Monedero no fórum social do festival de Benicassim.ángel sánchez

Cofundador do partido espanhol Podemos, Juan Carlos Monedero recebeu em 2013 um total de 425.150 euros (quase 1,3 milhão de reais) dos Governos da Bolívia, Nicarágua, Venezuela e Equador por trabalhos de assessoria para implementar uma moeda comum e desenvolver a unidade financeira na América Latina. O dirigente, que é professor de Ciências Políticas na Universidade Complutense de Madri (UCM), faturou seus serviços como consultor através da empresa Caja de Resistencia Motiva 2 Producciones SL, que não possui empregados nem estrutura. Os trabalhos foram realizados três anos antes do faturamento.

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Monedero se recusou, na terça-feira, a mostrar a este jornal os documentos e as faturas de seus serviços afirmando que havia cláusulas estritas de confidencialidade com os Governos. “Ninguém pode ver relatórios estratégicos para instituições”, argumentou, acrescentando depois: “Não há ninguém mais transparente que nós.”

O professor elaborou relatórios sobre a unidade monetária na América Latina

Para ele, é uma prática habitual ocultar os documentos elaborados para organismos internacionais. “Se alguém me diz que quer ver trabalhos realizados para o Banco Central Europeu (BCE), não poderia mostrá-los”, argumentou.

O professor, que fez parte da centena de especialistas contratados por organismos públicos latino-americanos para desenvolver um “projeto comum” de assessoria, evitou detalhar quais foram os outros analistas internacionais que acompanharam sua investigação sobre a unidade monetária na Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador. O trabalho exigiu a subcontratação de serviços jurídicos e traduções. Na terça-feira, ele evitou entrar em detalhes sobre isso.

Os lucros dos serviços de assessoria foram destinados a pagar o programa de debates políticos La Tuerka, que é produzido em um estúdio localizado no jornal digital Público e onde “colaboram” oito profissionais, segundo o dirigente de Podemos.

A empresa Caja de Resistencia Motiva 2 Producciones SL, na qual Monedero aparece como único administrador, foi criada em outubro de 2013 e tem como objetivo a elaboração de estudos de mercados e pesquisas. O político usa a empresa também para receber os lucros de seu livro Curso urgente de política para gente decente (Seix Barral, 2013) que já está na segunda edição.

O presidente do sindicato de Técnicos do Ministério da Fazenda (Gestha), Carlos Cruzado, afirmou na terça-feira que é “habitual” que uma empresa receba em dois meses os trabalhos realizados três anos antes. E justificou que Monedero não tenha incluído o imposto IVA em suas faturas por se tratar de serviços realizados para países fora da União Europeia.

O cofundador de Podemos se nega a mostrar as faturas de seus serviços

A polêmica sobre a empresa administrada por Juan Carlos Monedero começou depois que o jornal digital El Plural informou no último domingo que a sociedade unipessoal do dirigente de Podemos apresentou um balanço com ganhos antes dos impostos de 365.442 euros (1,1 milhão de reais), segundo o Registro Mercantil. E que a atividade desta empresa se limitava a dois meses e uma semana em 2013.

Segundo Monedero, o recebimento pelos trabalhos em 2013 aconteceu porque, coincidentemente, todos os Governos pagaram naquele momento os serviços de assessoria realizados três anos antes. O político diminuiu a importância de que a rentabilidade da Caja de Resistencia Motiva 2 Producciones SL tenha sido de 86%.

O dirigente afirma que as acusações de que sua empresa é usada para encobrir subvenções da Venezuela para difundir na Espanha a ideologia de Podemos respondem a uma “campanha de desprestígio”. Aqueles que criticam o partido de Iglesias afirmam que esse dinheiro tinha como objetivo a compra de espaços em meios de comunicação espanhóis.

O professor afirma ter sido envolvido em uma estratégia traçada pela “extrema direita” para atacar seu partido. “Não me lembro, na democracia, de tantos ataques e mentiras contra um partido político”, concluiu.

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