_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

O que virá depois?

Tantas aberrações só podem ter sido cometidas por pirraça, para realçar a necessidade de uma urgente e radical reforma política

As previsões podem ser sombrias, mas o fim de ano tem o prodigioso dom de dar-lhes um upgrade. O tal “pensamento positivo”, ou wishfull thinking, é uma proteína metabolizável pelos humanoides em circunstâncias especiais – especialmente quando calendários e ampulhetas indicam um recomeço.

Na véspera da champanhota do réveillon, abertas as lembrancinhas natalinas, eis que nosso horizonte teima em manter-se fechado, mortiço, infenso à obrigação festeira. Com narradores desanimados, sem inspiração, impera o enfado.

Perdemos o Mundial de futebol, mas ganhamos a copa da hospitalidade. A coligação partidária no poder há 12 anos, recebeu um cheque em branco para mais um mandato e, no entanto, inexplicável fadiga impõe-se às risonhas perspectivas de novo governo, novo elenco, estalos, viradas, surpresas, mudanças.

Derrotada duas vezes no último pleito, Marina Silva fez há dias uma afiada avaliação: “melhor perder, ganhando, do que ganhar, perdendo”. O terremoto-tsunami na empresa-símbolo do país pode ser o responsável pela surpreendente transformação do triunfo eleitoral em derrota política, mas sua irrupção é anterior. Visivelmente constrangidos e desnorteados, os timoneiros passam a impressão de que não conseguiram entender a extensão do fenômeno, nem leram o manual de instruções para emergências.

Mais informações
O novo Novo Mundo
Golpes nunca mais
Culpas e desculpas
Segundo mandato

Ao sugerir à Procuradoria Geral da República uma triagem preliminar dos ministeriáveis para evitar vexames depois da posse, a Presidência da República cometeu um homérico vacilo: assumiu sua total ignorância em matéria institucional-republicana, comprometeu sua autoridade e, como se não bastasse, revelou a uma sociedade estarrecida que não tem a menor noção do que vai (ou pode) acontecer.

Soltou as rédeas, curvou-se aos fados, entregou seu arbítrio ao arbítrio dos delatores, escancarou a sua insegurança e seus temores e ainda teve que engolir um portentoso e humilhante “não” do PGR, Rodrigo Janot.

Espremida pela voracidade dos aliados e a mediocridade da situação, a Presidência da República compôs o primeiro escalão do Governo federal com inaceitável descaso – beira a desdém. Desleixo.

Garantida a troika da economia, o resto é o resto. Os treze novos ministros anunciados na véspera do Natal, com raríssimas exceções (notadamente Jacques Wagner, Patrus Ananias, Aldo Rebelo, Nilma Lino), configuram um escárnio. O ex-governador Cid Gomes, indicado para assumir a pasta da Educação – considerada vital para o futuro do país – celebrizou-se ao enfrentar uma greve dos professores cearenses com esta pérola: "Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado".

Gilberto Kassab, novo ministro de Cidades é uma unanimidade: amigos e inimigos o consideram um dos piores prefeitos paulistanos, pior do que Paulo Maluf, em pé de igualdade com o sucessor, Celso Pitta. George Hilton, pastor, teólogo e animador de TV (como se apresenta) será o anfitrião da primeira Olimpíada sediada na América do Sul. Ao lado da presidente Dilma Rousseff.

Tantas e tamanhas aberrações só podem ter sido cometidas por pirraça, como provocação, para realçar a necessidade de uma urgente e radical reforma política. Balão de ensaio coletivo. Em outras palavras: é possível que grande parte deste ministério de fancaria sequer esquente suas cadeiras.

Resta uma preocupação maior: o que virá depois?    

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_