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Eleições presidenciais do Uruguai são um marco do jogo limpo

O candidato derrotado Luis Lacalle Pou cumprimentou Tabaré Vázquez e declarou: “Resultados devem ser acatados, respeitados e defendidos”

Francisco Peregil
O presidente eleito do Uruguai, Tabare Vazquez, celebra sua vitória.
O presidente eleito do Uruguai, Tabare Vazquez, celebra sua vitória.REUTERS

No Brasil, continuam pegando fogo os escândalos de corrupção que marcaram a campanha presidencial; na Argentina, a oposição pede há dois anos a demissão do vice-presidente, Amado Boudou, processado em um caso de corrupção. E, no meio dessa vizinhança, o Uruguai acaba de dar uma nova amostra de maturidade republicana com as eleições presidenciais realizadas no domingo.

O candidato esquerdista da Frente Ampla, Tabaré Vázquez, de 74 anos, apareceu diante de seus seguidores na noite de domingo e disse: “Festejem, uruguaios, festejem. Festejemos o clima de paz, respeito e sentimento republicano dessa jornada. É um jeito de ser de nossa nação e uma conquista de todos os uruguaios”. Ele acabara de vencer o segundo turno com 53,6% dos votos, à frente dos 41,1% obtidos por seu rival. O candidato derrotado, Luis Lacalle Pou, de 41 anos, presidente do Partido Nacional, de centro-direita, telefonou a Vázquez para cumprimentá-lo, e declarou à imprensa: “Os resultados devem ser acatados, respeitados e defendidos. Nós não somos partidários da ideia de que as maiorias estão cometendo um erro. As maiorias mandam”.

Na rua, os militantes de partidos rivais compartilhavam piadas e água durante a campanha

Esse foi o encerramento de uma campanha na qual, salvo algumas exceções, imperaram o respeito e o jogo limpo. É verdade que Tabaré Vázquez, o claro favorito desde o início, não se dignou a debater com seus rivais. É verdade também que, no último mês, quando as pesquisas se mostravam ainda mais favoráveis, Vázquez não concedeu nenhuma entrevista à imprensa nacional ou estrangeira. Mas ele manteve sempre o mesmo tom educado que exibe desde que começou sua carreira política como prefeito de Montevidéu, em 1990, e como presidente do país, em 2004.

O presidente José Mujica abandonará a Presidência em 1o de março e começará sua nova vida como senador, após ter se tornado conhecido em todo o mundo por sua simplicidade e austeridade. Mas tão louvável quanto isso é o fato de que, em dez anos, pode-se contar nos dedos os casos de corrupção entre dirigentes do Governo. A corrupção não foi um tema de destaque na campanha.

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Os candidatos presidenciais deram um exemplo de jogo limpo. Nas ruas, os militantes de partidos rivais trocavam piadas e compartilhavam água durante a campanha. Agora, Vázquez e a Frente Ampla contam com maioria absoluta. Mas a Frente é em si mesma um universo onde não se chega a nenhuma parte sem diálogo e negociação. Esse diálogo não é fácil em uma coalizão com 27 partidos, dos quais há sete com bastante peso. Muitas vezes, esse jogo de dar e receber, de pesos e contrapesos, se tornam perniciosos e dificultam a administração. Agora chega a hora de negociar a composição do Governo, e cada partido deverá querer um lugar para si. Mas assim funciona a Frente há 43 anos, e é assim que conseguiu, pela terceira vez consecutiva, a maioria absoluta no Congresso.

Diante da Prefeitura de Montevidéu há, desde 1958, uma réplica em tamanho natural de Davi, de Michelangelo. A estátua foi colocada ali como homenagem simbólica à origem italiana dos municípios uruguaios. Mas também poderia servir como uma homenagem dos uruguaios a si próprios. Um pequeno país de 3,3 milhões de habitantes, espremido entre os 40 milhões da Argentina e os 200 milhões do Brasil, que administra o dia-a-dia para que o mundo e a região continuem olhando para ele.

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