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Nicolas Sarkozy assume a liderança da direita francesa

Consegue apoio insuficiente para acabar com a tensão entre as famílias da UMP

Carlos Yárnoz
Sarkozy, neste sábado, em um jogo de futebol no Parque dos Príncipes.
Sarkozy, neste sábado, em um jogo de futebol no Parque dos Príncipes.GONZALO FUENTES (REUTERS)

Nicolas Sarkozy deu, neste sábado, um passo chave na sua tentativa de reconquistar o Palácio do Eliseu, mas seu sucesso foi inferior ao esperado. Os 268.000 militantes com direito a voto no seu partido, a dividida, arruinada e direitista União por um Movimento Popular (UMP), escolheram pela internet entre três aspirantes à presidência do grupo político. O ex-chefe de Estado (2007-2012) ganhou com 64,5% dos votos. Começam agora duas batalhas longas. Uma contra os rivais que disputam a candidatura da UMP e a presidência da França em 2017, com o ex-primeiro-ministro e atual prefeito de Bordeaux, Alain Juppé, à frente. E a segunda, contra a dezena de casos de corrupção nos quais está envolvido direta ou indiretamente.

A participação, que superou 57%, mais alta que em ocasiões anteriores, mostra o grau de mobilização dos filiados a um partido destruído por suas lutas internas. O dia ficou tenso pela manhã por causa de ataques de hackers que tentaram atrapalhar a emissão dos votos. A UMP apresentou uma denúncia.

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Aos 59 anos, Sarkozy, já convertido em chefe da oposição, apresentou uma campanha para liderar o seu partido como um plebiscito. Esperava pelo menos 70% de apoio. Como não conseguiu, deve negociar alianças e respeitar as opiniões dos seus rivais. Depois de conhecer os resultados, falou em "criar as condições por mais união" na UMP.

Na recepção da moderna sede do partido, na rua Vaugirard, em Paris, não há dúvidas de que o ex-presidente, no entanto, teve tudo a favor neste processo. O único cartaz pendurado na entrada, na última quarta-feira, mostrava Sarkozy em primeiro plano com as palavras "A França forte". E não apenas porque seus rivais, os deputados Bruno Le Maire, de 45 anos, e Hervé Mariton, de 56, têm muito menos peso na UMP, mas porque ele se considera a única figura adequada para "unir a direita e o centro", "a família", como prefere dizer.

Le Maire, apoiado por 59 deputados (dos 199 da UMP), sonhou com a vitória contra Sarkozy, mas este ex-ministro da Agricultura confessava que conseguir 30% dos votos (obteve 29,18%) daria-lhe a força necessária para continuar na linha de frente do partido. Mariton contentava-se com superar a marca dos 10% e ficou em 6,3%.

Sarkozy tem metas maiores. A principal consiste em articular com forças do centro uma alternativa à esquerda atualmente no poder, capaz também de frear a preocupante ascensão da ultradireitista Frente Nacional. Para criar essa "nova alternativa", aceita até mesmo mudar o nome da sua formação.

Durante dois meses, a sua campanha concentrou-se em dois aspectos: a união de todos em torno de sua figura e a mensagem de uma direita dura para "reconquistar" apoios entre os eleitores da FN. O primeiro objetivo não foi alcançado e, ao longo de vinte comícios nesse período, viu inclusive mais divisão. Uma semana atrás, em Bordeaux, ouviu impávido as vaias que seus seguidores dedicaram a Juppé.

Alguns dias antes, prometeu que, se um dia voltar ao poder, tentaria revogar a lei que permite o casamento homossexual. Foi um comentário que causou polêmica e levou vários dirigentes da UMP a contradizê-lo. Era uma mensagem para reforçar o discurso de direita dura que impulsionou os seus comícios. A imigração tem sido um grande problema. "Está descontrolada e nos levou a uma situação de extrema gravidade", reiterou entre aplausos de seus eleitores. "Os franceses não querem se sentir estrangeiros em seus próprios países", disse, ao se referir à parte da comunidade muçulmana que, na sua opinião, prefere não se integrar.

Sarkozy quer "renegociar" o Tratado de Schengen para que exista um maior controle na entrada de estrangeiros em cada país europeu e, naturalmente, uma maior vigilância nas fronteiras exteriores da União Europeia: inclusive devolver aos Estados a metade das competências da Comissão Europeia. E tolerância zero com o crime.

A estratégia do ex-presidente é idêntica àquela que o transformou em chefe de Estado pela primeira vez. Em 2004, assumiu a liderança do partido e depois se converteu no candidato de consenso da direita para ganhar as eleições de 2007 contra Ségolène Royal. Mas naquela época havia conseguido 85% dos votos dos militantes, 20 pontos a mais que agora.

Com o apoio definido, Sarkozy terá que superar problemas relevantes para se tornar o candidato do seu partido ao Palácio do Eliseu, se finalmente, como tudo parece indicar, apresentar-se como tal. Tanto Alain Juppé como também o ex-primeiro-ministro François Fillon já fizeram isso meses atrás. Tem péssimas relações com ambos. Juppé é, aos 69 anos, o preferido dos franceses para ser o próximo presidente da República. "Habemus papam", comentou Juppé, sarcasticamente, ao receber os resultados. "A união não é a submissão", escreveu Fillon em seu blog. Tudo com duplo sentido.

Sarkozy, Juppé e Fillon terão que passar em 2016 pelas primárias das quais saíra o candidato à presidência. Os dois últimos, junto com o ex-primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, integraram desde julho o triunvirato que liderou interinamente a UMP desde a demissão do ex-presidente Jean-François Copé, em junho, por causa do seu envolvimento na emissão de faturas falsas na campanha de Sarkozy, em 2012.

"No partido, não haverá correntes, tendências ou capelas", prometeu Sarkozy durante a campanha. Tanto para renovar o partido quanto para se converter em líder indiscutível e incontestável, Sarkozy necessitava de uma vitória acachapante, o que não aconteceu. Por isso, e apesar do que tem afirmado repetidas vezes, a contestação interna e a tensão entre os chefes das facções continuarão vivas. É o que Sarkozy tem que enfrentar daqui para frente.

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