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Coluna
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Brasil do céu ao inferno

A sociedade é robusta, está reagindo contra a corrupção e quer passar o país a limpo

Juan Arias

Até pouco tempo atrás o Brasil parecia tocar o céu com as mãos. Nunca Deus tinha sido tão brasileiro. Quase 80% da população se declarava feliz com sua vida e outros tantos acreditavam que o futuro seria ainda melhor.

O atávico complexo de vira-latas havia evaporado para dar lugar ao orgulho de ser brasileiro. Até as aeromoças diziam isso ao aterrissar nos aeroportos.

O mundo olhava com inveja para o gigante sul-americano que chegou a ser a sexta maior potência econômica do mundo e que crescia sem parar. Dizia-se que o chamado “Brasil do futuro” tinha sido substituído pelo “Brasil do presente”. Os investidores estrangeiros correram para cá. Havia mercado abundante e crédito fácil. E milhões de brasileiros chegados ao posto de classe média com fome de consumo.

Todo aquele despertar de esperança parece ter se dissipado de repente. O céu se cobriu de nuvens e o Brasil se viu às portas do inferno, com todos os indicadores econômicos, éticos e sociais em baixa. O pessimismo parece ter tomado o lugar da euforia.

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Mas será verdade que o Brasil tenha despencado do céu para o inferno? Estaria nascendo agora um Brasil “sem futuro”? Ou será que talvez o Brasil ontem não tenha realmente chegado ao céu, como profetizavam seus maquiadores, nem hoje se encontra no inferno mas sim em um purgatório de purificação para se desfazer das chagas da corrupção que parecem atormentar o mundo político e empresarial?

Talvez as duas coisas estejam corretas e a partir de agora poderá ressurgir o Brasil real, com suas verdades e mentiras.

A tormenta que está agitando o Brasil neste momento e que ecoa na imprensa internacional começou com a Copa, há apenas alguns meses. Foi ali que a sociedade brasileira começou a suspeitar que a corrupção estava engolindo o país com aqueles estádios milionários, superfaturados, acabados às pressas e na última hora, enquanto faltava dinheiro para infraestruturas, mobilidade urbana, escolas e hospitais.

A presidenta Dilma começou a ser vaiada nos estádios, e tudo acabou com o vexame daquele 7 x 1 tristemente simbólico que os alemães cravaram em nossas almas. Parece que faz um século, mas foi ontem.

Teve Copa e, no fim, até os protestos se calaram, porque os brasileiros sempre acabam apostando na festa. Mas naquele Mundial de Futebol já se incubava o ovo de serpente da corrupção.

A partir de então, a imagem do Brasil começou a ficar manchada lá fora e irritada aqui dentro. Assim vieram as eleições e a violência que tinha ficado incubada na Copa apareceu com maior força. O que deveria ter sido uma corrida democrática a mais acabou em um campo de batalha com vítimas por toda a parte e feridas difíceis de curar.

A julgar pela atitude dos dois maiores partidos que disputaram as eleições (PT e PSDB), a guerra continua de pé, com acusações mútuas. Se alguém vier de fora não saberá distinguir quem ganhou e quem perdeu as eleições. Todos parecem insatisfeitos. O Governo encurralado pela corrupção parece que ainda não arrancou e a oposição nutre esperanças de que o pior ainda esteja por vir.

E o Brasil real? E a sociedade brasileira? E esses milhões de trabalhadores que cada dia acodem a seus honrados empregos e fazem com que o país não pare? Esses trabalhadores, esses funcionários de empresas públicas e privadas que vivem apenas de seus salários, do porteiro ao diretor, sem sujar suas mãos com dinheiro roubado – o Brasil real, ainda limpo, que acredita que deve se ter responsabilidade e honra na vida – são os que tornam possível o país ainda não estar no inferno.

A sociedade brasileira, em seu conjunto, é robusta, está sabendo reagir, rejeita a corrupção e quer passar o Brasil a limpo. Não querem para seus filhos o Brasil do poder corrupto. São milhões de jovens que não renunciaram a seus sonhos de criar sua própria empresa, de melhorar de vida, de estudar mais, de ganhar a luta da vida sem precisar vender sua alma.

As instituições são fortes e estão funcionando até o ponto de ter visto diretores das maiores empresas do país detidos e dormindo nos corredores das delegacias

São esses brasileiros que fazem com que o Brasil ainda não esteja no inferno de uma crise sem volta, ainda que pareça estar. O país continua vivo e livre.

E será esta sociedade que hoje está mais vigilante e mais madura, ainda que talvez às vezes mais irritada, a que obrigará o poder a se enfrentar com sua própria responsabilidade.

O Brasil ainda não é a Venezuela, nem mesmo a Argentina. As instituições são fortes e estão funcionando até o ponto de ter visto presidentes e diretores das maiores empresas do país detidos e dormindo em colchonetes nos corredores das delegacias.

A presidenta Rousseff afirmou que não deixará pedra sobre pedra, que seu Governo continuará investigando “quem quer que seja”. A oposição exige que ela peça perdão ao país pelos excessos cometidos durante seu primeiro mandato, sobre tudo na Petrobras. Ela responde que se a corrupção está aflorando é porque seu Governo permite a ação das instituições.

A sociedade, em cujas mãos o país se sustenta, está à espera.

É ela, afinal, que garantirá que o Brasil possa voltar a sonhar com o paraíso após as noites negras do inferno astral. Um inferno, o dos corruptos, que nesse momento entristece aqueles que nutre sonhos melhores. Eles, no entanto, não parecem dispostos a esperar demais para realizar esses sonhos. E essa é a raiz que continua alimentando a esperança deste país que não se dobra.

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