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Eduardo Bolsonaro | deputado federal

Eduardo Bolsonaro: “Não vejo por que teria que ir desarmado ao protesto”

O deputado e policial federal Eduardo Bolsonaro defende o porte de uma pistola durante o protesto pelo 'impeachment' de Dilma e nega ser a favor da intervenção militar

O deputado Eduardo Bolsonaro na marcha pelo 'impeachment'de Dilma.
O deputado Eduardo Bolsonaro na marcha pelo 'impeachment'de Dilma.

Escrivão da Polícia Federal e filho caçula do militar de extrema direita Jair Bolsonaro (PP) – o deputado mais votado do Rio de Janeiro – Eduardo Bolsonaro (PSC) faz a sua estreia na política abraçado à polêmica que tanto alavancou seu pai. Recém-eleito deputado federal por São Paulo, com 82.224 votos (0,39%), Eduardo apareceu armado no protesto que reuniu, no sábado, cerca de 3.000 pessoas em prol do impeachment de Dilma Rousseff. Ele, junto ao cantor Lobão, exerceu o papel de mestre de cerimônias de uma marcha que mostrou a cara mais conservadora e radical dos eleitores inconformados em ver o PT mais quatro anos no poder. Soltou pérolas como a de que preferiria “votar no Marcola [um dos líderes do Primeiro Comando da Capital] que na presidenta” ou que seu pai “teria fuzilado Dilma Rousseff se fosse candidato."

Bolsonaro insiste que não é a favor da intervenção militar, como alguns dos manifestantes defenderam, embora mostre simpatia pelo regime. Ele defende ter levado sua arma à manifestação. “O que quer que eu faça? Eu sou policial 24 horas por dia, não deixo de sê-lo para ir a um protesto discursar”, defende. Uma das bandeiras do deputado, precisamente, é derrubar o Estatuto do Desarmamento, “uma lei que desarmou o cidadão de bem” e permite a “qualquer ladrão pé de chinelo invadir uma residência e fazer o que bem entender”.

As posições de Eduardo, de 30 anos, não diferem muito das do seu progenitor, embora seja algo mais moderado na linguagem. Ele atua como uma extensão das ideias de seu pai e "professor". É a favor da redução da maioridade penal, se mostra contra os movimentos sem-teto e sem-terra, e contra as cotas raciais. Suas propostas, portanto, são as “dos Bolsonaro”.

Pergunta. Por que o você foi ao protesto com uma arma?

Resposta. Eu sou policial federal. Existem inúmeros exemplos de policiais que morrem fora de serviço, sob encomenda, principalmente do PCC [Primeiro Comando da Capital]. É meu hábito, é normal, tenho porte. O que quer que eu faça? Não vejo por que teria que ir desarmado, se eu sempre ando armado mesmo.

P. Então você estava na manifestação como policial?

R. Sim, eu sou policial 24 horas por dia.

P. Mas não estava ali como deputado eleito?

R. Não se separa uma coisa da outra. Eu ir para discursar, não significa que eu deixe de ser policial. Se os assaltantes viessem me assaltar, eu falaria para eles que não sou policial, que estou apenas discursando? Você está de brincadeira, né? A arma apareceu sem querer, não a mostrei, se eu não intervier em um caso de flagrante crime, quem está cometendo crime sou eu.

Captura do vídeo de Caio Castor que mostra a arma de Eduardo Bolsonaro durante a marcha.
Captura do vídeo de Caio Castor que mostra a arma de Eduardo Bolsonaro durante a marcha.

P. Está se falando sobre o ressurgimento de uma nova direita. O que acha desse discurso sobre um novo conservadorismo mais extremista?

R. É uma ação-reação. Conforme o Governo vai cada vez mais criando projetos que nos aproximam de regimes como de Cuba e da Venezuela, é natural que pessoas que antes viviam democraticamente comecem a se aproximar de uma força contrária a esse momento que o Brasil vive, ao que chamamos de conservadorismo. Porque, na verdade, eu não vejo progresso nenhum no controle da mídia e no controle da Internet, como a Dilma prega. Pelo contrário, vejo um retrocesso ao início do século 20, quando os regimes totalitários ocuparam boa parte do planeta terra. Então, a meu ver, [essa direita] é algo natural.

P. Quais são as características que identificam aquele eleitor que passou da posição inicial que ele tinha, a uma direita mais radical por essas motivações que você está mencionando?

A nova direita é uma reação ao atual Governo que prega a luta de classes

R. A nova direita, como eu disse, é uma reação ao atual Governo. O que o atual Governo prega? Por exemplo: com o pretexto de acabar com a homofobia, ele quer colocar nas escolas um conteúdo de homem beijando homem e mulher beijando mulher, é a desconstrução da heteronormatividade [sic]. Só que não é o momento para isso. Eu não acredito que isso vai estimular o fim da homofobia, pelo contrário, vai até aumentar esse tipo de fobia. Isto é um exemplo do que o governo prega, é a luta de classes já dita por Karl Marx, o pai do comunismo. Com a política de cotas joga negros contra brancos, nortistas contra sulistas, ricos contra pobres, homossexual contra heterossexual e por aí vai... Estamos vendo que o Brasil está se dividindo e essa nova direita conservadora é contra essa divisão. Nós, de forma alguma somos separatistas, o Brasil é um país sólido. Somos todos brasileiros não há por que isso. O Brasil tem que caminhar junto. É isso que prega a direita conservadora.

P. Durante o protesto houve várias tentativas de agressão contra pessoas que discordaram do motivo da marcha. O senhor concorda com essa agressividade?

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P. Isso é normal no campo da ideologia. Na verdade foram pessoas que provocaram os manifestantes, eles fazem esse tipo de jogo sujo. Eu não vi nenhum tipo de quebra-quebra e nenhuma agressão na manifestação. Agora, gritar palavras todo mundo grita, é algo normal. Se alguém gritou alguma coisa em relação a raça, eu repudio. Nosso movimento não é separatista, era heterogêneo. Esse discurso de luta de classes não vai colar.

P. Você disse no protesto que não é a favor de uma intervenção militar no Brasil, mas enaltece valores da ditadura. O que pensa do grupo que durante a marcha defendeu sim a intervenção dos militares?

R. Eu vi, apenas pela imprensa, uma pessoa com um cartaz a favor da intervenção militar. Ninguém discursou a favor disso e o convite que eu recebi também não foi para participar de um movimento pela intervenção militar. O que acontece é que os militares são um obstáculo para a implantação de uma ditadura socialista, daí que o pessoal [que defende a intervenção] enxerga com esses olhos. Só que os militares não vão tomar o poder da noite para o dia. Não têm afinco pelo poder, eles foram em 1964 direcionados à presidência por conta de um manifesto popular. Estava todo mundo pedindo a intervenção militar. E aí no dia 2 de abril o Governo foi deposto no Congresso Nacional e foi eleito o general Castelo Branco com votos de consagrados democratas como Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Juscelino Kubitschek... Então, que golpe militar é esse que não houve nem uma morte, que não houve nem um tiro, que o presidente foi deposto pelo povo?

Da ditadura eu recuperaria a educação. Naquela época não se ensinava sobre homofobia e sexo seguro, se ensinava português e matemática

P. Você está falando que não houve mortos na ditadura?

R. Segundo as contas da esquerda foram 300 pessoas, entre mortos e desaparecidos, em 20 anos no Brasil. E foram só pessoas que pegavam armas, sequestravam embaixadores, colocavam bomba... Somando as vítimas de ambos lados daria umas 500 pessoas. Agora estão morrendo 60.000 por ano, dá para fazer uma comparação? Deixa eu fazer as contas...

P. Não precisa...Os dados são diferentes. Esses 60.000 não são mortos políticos, são vítimas da violência do país.

R. Naquele tempo tinha segurança para ir em qualquer lugar. Mas morria uma pessoa pela febre amarela na região amazônica e caía na conta dos militares.

P. O que você recuperaria daquela época?

R. Da ditadura eu recuperaria a educação. Naquela época se estudava em escola pública de qualidade, era direcionado para ser um profissional, uma pessoa produtiva para a sociedade. Não se ensinava sobre homofobia e sexo seguro, se ensinava português e matemática. Em 1972 [1984], quando o povo saiu nas ruas com as Diretas Já não foi para pedir o fim da corrupção ou por uma segurança pública, saúde ou educação de qualidade, foi apenas para votar para presidente, e esse voto tem saído muito caro.

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