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O retrato de uma presidenta jovem

A foto da ficha policial de Dilma, presa na ditadura, se eternizou nas eleições deste ano

Marina Rossi

Uma jovem rechonchuda com óculos fundo de garrafa, cabelos crespos e curtos e camisa xadrez, aparece numa foto 3x4 em preto e branco. A imagem em quase nada se parece com o rosto de Dilma Rousseff hoje. Mas foi essa a foto que marcou sua campanha. O retrato foi feito quando a presidenta tinha 23 anos, em 1970, e fora presa pelo regime militar.

A foto serviu de base para que várias réplicas estilizadas das mais diferentes formas e cores fossem feitas. Virou estampa de camisetas, bandeiras e adesivos usados por militantes e simpatizantes por todo o país. Algo semelhante com a histórica imagem de Che Guevara, que com os olhos voltados para o horizonte e usando uma boina com uma estrela no alto, foi retratado pelo fotógrafo cubano Alberto Korda. A imagem foi eternizada em camisetas, bonés, adesivos e bandeiras e vendidas no mundo todo.

A foto de Dilma ao ser presa, e que se eternizou nessas eleições.
A foto de Dilma ao ser presa, e que se eternizou nessas eleições.arquivo público de São Paulo (AFP)

A foto de Dilma Rousseff também representa a resistência. A jovem guerrilheira foi torturada por 22 dias e ficou quase três anos presa no Presídio Tiradentes. Mas não revelou o endereço que dividia com a companheira de militância e nem mesmo sua relação com seu companheiro Carlos Araújo. Naquela época, qualquer informação poderia valer uma vida.

Na ficha policial, datada de 26 de fevereiro de 1970, lê-se “não está arrependida” no espaço que questionava se Dilma Vana Roussefff Linhares, então dirigente do Setor de Massas Populares VAR-Palmares, estava “arrependida pela prática do crime por que responde agora”.

Em um debate já no segundo turno, seu rival tucano Aécio Neves disse que a presidenta não conhecia Minas Gerais porque havia ido embora do Estado no qual ambos nasceram. “Se eu saí de Minas não foi para passear no Rio de Janeiro, foi porque eu fui perseguida”, rebateu Dilma, lembrando que embora seu rival se vanglorie do Estado de Minas Gerais, e ainda que seja senador por esse mesmo Estado, ele reside hoje no Rio de Janeiro, e por opção.

Nas imagens estilizadas, Dilma virou Frida Kahlo, para delírio das militantes feministas. Foi feita em  verde e amarelo, com um fundo vermelho-PT. Usando a camiseta de alguns Estados brasileiros que votaram expressivamente nela, como Pernambuco. Em uma montagem, com duas fotos: A antiga, de guerrilheira, com a frase “Plantando a liberdade”, e outra atual, como presidenta, escrito “Colhendo a democracia”.

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Durante algumas manifestações nas ruas de militantes e simpatizantes, as camisetas e bandeiras eram estampadas na hora, ali mesmo, na rua. A imagem foi também uma saída para não usar o símbolo do Partido dos Trabalhadores - a estrela vermelha – e nem mesmo a sigla do partido, que ficaram de fora de diversos materiais de campanha neste ano, para não se associar à corrupção, principal estratégia dos adversários.

“Coração valente” se tornou a frase de sua campanha e refrão da música usada em seus programas eleitorais, com uma melodia que lembra o forró. Uma música animada, para um passado duro, mas do qual, certamente, a presidenta reeleita “não está arrependida”.

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