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“Ninguém tira o Bolsa Família do Lula”

Para Marinho, é o povo quem reconhece a paternidade do programa

Marina Rossi
Luiz Marinho, em uma foto de 2012.
Luiz Marinho, em uma foto de 2012.M. Peres (ABCDigipress/Folhapress)

O primeiro dos quatro debates entre os candidatos à presidência na campanha do segundo turno ocorreu nesta terça-feira. O embate entre a presidenta Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) foi marcado pela troca de ataques ao longo das mais de duas horas de debate. Na reta final das eleições e com as pesquisas indicando empate técnico dos dois candidatos, cada eleitor conquistado pode ser fundamental para a vitória.

Um dos pontos altos do confronto entre os presidenciáveis foi a paternidade do programa Bolsa Família, carro chefe da gestão petista, criado, em pequena escala, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e um dos responsáveis pelo alto percentual de votos para Dilma no primeiro turno dessas eleições. “Eu não consigo entender a dificuldade que a senhora tem de reconhecer o mérito dos outros. Se fizermos um DNA do Bolsa Família o pai será o ex-presidente Fernando Henrique e, a mãe, a dona Ruth Cardoso [ex-primeira dama]”, disparou Neves.

O prefeito de São Bernardo e coordenador da campanha de Rousseff em São Paulo, Luiz Marinho, disse, em entrevista ao EL PAÍS, que está adorando essa discussão. “É como a presidenta disse ontem: Pergunte ao povo brasileiro [quem criou o Bolsa Família]. Isso ninguém tira do Lula”. Para ele, a agressividade no confronto entre Rousseff e Neves faz parte do jogo. E que um eventual ministro da Fazenda, se a presidenta for reeleita, será um “quadro técnico, gabaritado para dar segurança ao mercado.” Sobre Lula, figura um pouco ausente na campanha deste ano, Marinho disse que ele está melhor do que nunca. “Precisamos cuidar bem dele. 2018 vem aí”, disse.

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Pergunta. A estratégia da campanha de Dilma Rousseff deve seguir essa linha mais agressiva até o dia das eleições?

Resposta. Não estamos usando propriamente de ataques, mas sim da confrontação de ideais e projetos distintos de país. O modelo defendido por Aécio Neves já governou o Brasil por muito tempo. Nós trabalhamos com alguns valores, princípios, que a gente procura deixar os significados bem claros. Por exemplo, o modelo econômico. Falamos da importância do controle da inflação. Quem mais perde com uma inflação descontrolada é o trabalhador, que vive de salário. Quem vive de holerite não tem saída com a inflação descontrolada. E já sofremos muito disso com o governo [do ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando o Armínio Fraga era o presidente do Banco Central. Além disso, Aécio foi presidente da Câmara e senador e tem votações contraditórias com o que ele está defendendo agora.

P. E essa estratégia que Aécio usou no debate de disputar quem é o pai do Bolsa Família?

R. Eu estou adorando isso. É como a presidenta disse ontem: Pergunte ao povo brasileiro [quem criou o Bolsa Família], isso ninguém tira do Lula. Se Aécio insistir nisso, eu vou achar ótimo. Meu trabalho fica mais fácil.

O modelo defendido por Aécio Neves já governou o Brasil por muito tempo

P. A consultora de comunicação Olga Curado foi quem fez o media training de Dilma em 2010 e a preparou para as eleições. Hoje, ela está trabalhando com Aécio. Vocês acham que o fato de alguém que conhece tão bem os pontos fracos de Dilma estar agora trabalhando do outro lado pode ser negativo?

R. A presidenta não precisa mais dos serviços da Olga. Ela se preparou tão bem para o debate que pode encarar o Aécio e a Olga juntos.

P. O ex-presidente Lula tem sido dado como ausente da campanha. Por que ele não tem aparecido tanto?

R. O Lula está fazendo ações cirúrgicas muitas vezes. Em São Paulo, ele teve o papel de ajudar a botar o exército em fila e de cabeça erguida. A presidenta não tem condições de fazer esse trabalho. Além disso, ele está percorrendo várias capitais.

P. Ele está tentando reorganizar a militância então?

R. Nesta primeira fase o Lula atuou mais na militância. A partir de hoje ele vai para o campo de batalha, com viagens já agendadas para o Norte e Nordeste. Ele está articulando com o governador do Acre [Tião Viana, do PT] uma ida ao Estado e deve ir para Pernambuco depois. Na reta final, ele reservará uma agenda focada no Sudeste, em São Paulo e Minas Gerais, principalmente.

Não vejo dificuldade de garantir governabilidade no Congresso

P. Como está a saúde dele?

R. A saúde dele está melhor que a minha. Ele está bem, continua fazendo academia, exercícios... Desse ponto de vista não há preocupação. A preocupação agora é que ele se mantenha saudável, até porque, 2018 vem aí. Precisamos cuidar bem dele.

P. Ele já disse que será o candidato em 2018?

R. Ele não disse “vou”, mas também não disse “não vou”, o que é um bom sinal.

P. Independente de quem vença as eleições, será uma vitória estreita. Supondo que Dilma Rousseff vença...

R. Essa é a única hipótese com a qual eu trabalho.

P. Supondo que ela vença, será um governo mais difícil do que o anterior, pelo Congresso que foi formado nessas eleições e por essa oposição que cresce nas ruas e nas redes sociais que se fortalece no argumento do rico contra o pobre. Como o PT pode garantir a governabilidade?

R. No Brasil, os partidos políticos são um pouco diferentes de outros lugares do mundo. Aqui, muitas vezes, o posicionamento no processo eleitoral é muito diferente do tomado depois da posse. Por isso, não vejo dificuldade de garantir governabilidade no Congresso. Mas isso é pra gente pensar no dia 1 de janeiro, depois da posse, ou depois das eleições. Além disso, não acho que os parlamentares que estão lá hoje [e foram reeleitos] mudem.

P. O PT entrou na Justiça para pedir acesso ao depoimento completo da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Esses depoimentos não são sigilosos? Há chances de ter acesso a eles?

R. Eu vejo isso como um processo de armação que faz parte da estratégia de campanha para derrotar Dilma e derrotar o PT. Como é que se pode admitir que vaze parte das declarações de um depoimento sigiloso? Se é pra vazar, que se dê transparência, que quebre o sigilo e dê transparência ao depoimento todo. O que vaza é somente pra prejudicar o PT e a Dilma. Não faz sentido isso.

Mais do que agradar ao mercado, precisamos de um conjunto de ministros que agrade ao povo brasileiro

P. Um eventual nome do ministro da Fazenda está sendo cobrado. Dá para antecipar se ele terá um perfil que agrade o mercado? Alguém como foi Henrique Meirelles [que presidiu o Banco Central] na gestão do Lula?

R. Mais do que agradar ao mercado, precisamos de um conjunto de ministros que agrade ao povo brasileiro. No nosso modelo, caminha junto o controle da inflação e a manutenção dos empregos e da renda e creio que isso o mercado gosta. O mercado não gostava do Armínio Fraga, pois naquela época [entre 1999 e 2003] muitas empresas quebraram e fecharam. O mercado quer alguém que dê credibilidade para que as coisas aconteçam. Mas quem sou eu para dizer à Dilma quem deve ser o ministro? Não tenho dicas, apenas que será um quadro técnico, gabaritado para dar segurança ao mercado.

P. O governador do Rio Grande do Sul e candidato à reeleição Tarso Genro disse nesta quarta-feira em uma entrevista à Folha de S. Paulo que “o PT pode virar um PMDB pós-moderno”, pela falta de renovação de quadros e de identidade. Como isso está essa discussão dentro do partido?

R. O Tarso fala demais. Isso não está em discussão. A discussão agora é reeleger a Dilma. O processo de avaliação, o perfil do partido, faremos tudo isso depois das eleições.

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