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“Campanha é o discurso do medo contra o do esgotamento”

Para Paulo Nascimento, da UnB, Dilma vai atacar Aécio, como fez contra Marina no primeiro turno, e o tucano dirá que o país está cansado do PT

O professor Paulo Nascimento.
O professor Paulo Nascimento.UnB Agência

Enquanto os tucanos querem vincular Dilma Rousseff ao esgotamento de um governo, os petistas tentam dizer que a eleição de Aécio Neves é um retrocesso. Esses serão os discursos que tomarão conta da campanha eleitoral nos próximos dias no rádio, na TV e nas redes sociais, conforme avaliação do cientista político Paulo Nascimento, professor da Universidade de Brasília (UnB). Os dois se credenciaram para a segunda etapa após obterem 41% dos votos válidos, Dilma, e 33%, Aécio. A eleição ocorrerá no próximo dia 26 de outubro.

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Ao EL PAÍS, Nascimento afirmou que, apesar de derrotada pela segunda vez seguida, Marina Silva ainda tem credenciais para ser protagonista no pleito de 2018. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Pergunta. O que o senhor achou do resultado dessa eleição presidencial? O resultado surpreendeu?

Resposta. Já se observava uma queda da Marina Silva devido ao bombardeio que ela sofreu dos dois candidatos, mas principalmente da Dilma Rousseff. Ela já mostrava sinais de queda. A queda foi muito mais acentuada e isso ajudou a alavancar a candidatura do Aécio Neves, que estava semimorta desde que o Eduardo Campos faleceu. Essa diferença, sim, foi imprevisível.

P. E na sua avaliação, porque houve essa diferença tão grande?

Os dois partidos atacaram muito a Marina e ela não respondeu à altura

R. Os dois partidos atacaram muito a Marina e ela não respondeu à altura. Ela teve uma postura muito defensiva. Um segundo fator era que o tempo de TV dela era muito pequeno, dois minutos. Não tinha tempo nem para esboçar uma defesa. E em terceiro lugar, tanto o PSB quanto a Rede, não têm capilaridade, não têm estrutura partidária. Não souberam defender a candidatura dela depois daquela subida emocional.

P. Como o senhor acha que a o PT vai agir no segundo turno?

R. O PT vai repetir tudo o que fez contra a Marina. Vai voltar todas as baterias contra o Aécio para desconstruir o discurso dele. Primeiro vão fazer uma ligação entre ele e os outros governos do PSDB, que na interpretação do PT, privatizaram o país, aumentaram a taxa de juros, quebraram o país três vezes. Acho que vão tentar mostrar que o candidato Aécio é um retrocesso, não só na economia, mas em cima de cortes de programas sociais. É uma interpretação, não que o Aécio fará isso.

P. É, mais uma vez, o discurso do medo?

R. Exatamente. E já foi usado até na questão da Marina sobre a autonomia do Banco Central. O PT ligou, de forma delirante, a autonomia do Banco Central, com o desemprego, algo que não tem nada a ver. Fora nas redes sociais, que o discurso deverá ser ainda mais baixo.

P. E do lado do PSDB, como será a campanha?

O PT vai repetir contra o Aécio tudo o que fez contra a Marina

R. Vai focar na corrupção, no mensalão, mas principalmente na Petrobras, mostrar o PT como um partido que aparelhou o Estado, levou a índices nunca vistos. Vão tratar também da economia. Mostrar que a inflação está voltando, o custo de vida, aumentando e dar uma ideia de que o ciclo do PT se esgotou.

P. Se pudesse resumir em poucas palavras, como seria esse embate?

R. Seria o confronto entre o discurso do medo e contra o do esgotamento. O PSDB quer tentar mostrar que o brasileiro está cansado de 12 anos de PT.

P. Como um eventual apoio de Marina Silva pode ajudar o Aécio?

R. Se ela apoiar, será importante. Ela não vai transferir o 22 milhões de votos para o Aécio, isso ninguém consegue, só o [Leonel] Brizola conseguiu em 1989 para o Lula [da Silva]. Mas gravar alguns programas, participar de alguns comícios e declarar o apoio vai transferir uma boa parte, um apoio significativo.

P. E após duas derrotas eleitorais, o senhor acredita que Marina Silva ainda teria algumas voz em 2018?

O PSDB quer tentar mostrar que o brasileiro está cansado de 12 anos de PT

R. Certamente. Ela tem primeiro que montar um partido. Ela passou por um processo atabalhoado. Não conseguiu legalizar a Rede, entrou como vice, e ela assume poucos dias depois da morte do candidato. Certamente, ninguém com 22 milhões de votos está morto politicamente. Agora, ela tem de produzir um partido, com um discurso coerente e ver como será esse governo de 2014 a 2018 para se postar politicamente.

P. Aécio diz que é contra a reeleição, mas em nenhum momento ele fala que levará o assunto para o Congresso Nacional. Esse discurso “cola” no eleitorado?

R. Esse discurso influencia um pouco, sim. O fim da reeleição poderia vir pelo Congresso, o presidente poderia encaminhar o projeto e fazer um esforço junto ao Legislativo. Agora, a ideia de não se reeleger pega bem porque a sociedade está vendo que a reeleição traz uma série de vícios para a política porque a pessoa no primeiro mandato já está pensando na reeleição, usa a máquina do governo e causa um cansaço de oito anos. Acho que o Aécio declarando que é contra a reeleição, mesmo que ele não faça nada para terminar com ela, é um fator simpático que a sociedade já está esperando. Principalmente porque a Dilma já está na reeleição.

P. Mesmo que isso seja apenas uma promessa que ele não pode cumprir?

R. Mesmo assim. Não sei se será possível de ser cumprida. Isso teria de vir no bojo de uma reforma política, que até agora o Congresso foi incapaz de fazer. Se houver algo sobre a reeleição vai haver também sobre outras coisas. Será um pacote. Talvez esteja falando disso porque sabe que não depende dele.

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