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Coluna
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Nem Dilma é Lula, nem Aécio é Fernando Henrique

No Brasil, os filhos da classe C já não querem ser vistos nem tratados como pobres

Juan Arias

As simplificações são sempre errôneas, assim como as dicotomias. Também nestas eleições. Por exemplo, é uma simplificação dizer que Dilma é Lula ou que Aécio é Fernando Henrique.

Se a Presidenta candidata Dilma fosse Lula, provavelmente teria sido eleita no primeiro turno. O PT sabia muito bem disso ao proclamar o “Volta Lula”.

Aécio também não é Fernando Henrique. Se fosse, não teria chegado ao segundo turno já que, no inconsciente coletivo, o sociólogo do PSDB sofre, ainda que injustamente, muito mais rejeição que o ex-senador mineiro.

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Não só as simplificações costumam estar erradas, como também as dicotomias. Exemplo disso é a divisão do país entre ricos e pobres. O PT seria o partido dos pobres e o PSDB o dos ricos. Acontece que nunca os ricos foram tão ricos, nem os banqueiros e empresários ganharam tanto neste país como nos 12 anos de governo do PT. Por outro lado, as primeiras reformas sociais desde o Bolsa Escola até a revolução no ensino que colocou 90% das crianças nas salas de aula, metade das quais trabalhavam sem poder estudar, foram obra do PSDB.

Sem a revolução monetária realizada pelo partido de Fernando Henrique, que acabou com o drama da inflação, Lula e Dilma não teriam podido concretizar sua outra revolução: a de colocar milhões de trabalhadores pobres no mundo do consumo e, desse modo, superar a grave crise mundial de 2008.

Não sabemos que rumo tomarão os debates do segundo turno. Dilma e Aécio estariam equivocados se, em vez de convencer os eleitores sobre qual candidato oferece aos brasileiros um futuro mais luminoso e mais moderno, sobretudo para a hoje sacrificada classe média e para os filhos da nova classe C, apresentando propostas concretas e pontuais que até os menos ilustrados pudessem entender, se envolvessem em uma briga sobre o passado ou sobre “quem é mais”, disputando quem é mais dos pobres ou qual passado foi mais glorioso ou tenebroso.

Possivelmente não percebemos que o Brasil, ainda que lentamente, está mudando. Se a abstenção foi a maior dos últimos 20 anos é porque os eleitores se tornaram mais críticos e, para eles, não é mais indiferente votar nesse ou naquele candidato, como no passado. Nem é mais tão fácil, para os políticos, “comprar” o voto dos menos politizados.

Seria bom se, nos debates que começarão agora, ambos os candidatos entendessem uma coisa: que o discurso de pobres contra ricos está desgastado. O Brasil, segundo a ONU, saiu do mapa mundial da pobreza. Já é um país de classe média e os que saíram da miséria não querem mais ser vistos nem tratados como “pobres”. Têm orgulho de poder desfrutar de benefícios das classes que sempre invejaram: como acesso a Internet, uma televisão de plasma; uma assinatura da TV paga ou um seguro de saúde privado. E até um carro, mesmo que seja de segunda mão. E o desejo antes proibido de poder viajar de avião.

Se o Brasil caminha para a modernidade; se é, de algum modo, um país de classe média, os candidatos deverão saber tocar essa fibra de orgulho que pulsa no coração dos que saíram da pobreza e que desejam continuar subindo na escada social. Querem agora esses ex-pobres, sobretudo para seus filhos – e eles são o futuro deste país – além da ascensão econômica, a ascensão social, a da educação e da profissionalização no trabalho para poder pescar por si mesmos, sem precisar esmolar um prato de peixe.

Se for assim, a luta não será entre ricos e pobres, nem entre Lula e Fernando Henrique, mas entre as diferentes classes sociais. Hoje – se não hoje, amanhã – o êxito político estará sobretudo nas mãos dos que melhor souberem se comunicar com as diferentes classes médias, porque pobre, ninguém mais quer ser no Brasil.

O enigma estaria, pois, em qual dos dois candidatos está mais preparado para entender os desejos mais profundos das classes médias e dos que lutam para colocar ao Brasil no mapa da modernidade.

Nesse caso, a briga não pode consistir em colocar espelhos retrovisores para refletir o passado de uns e outros, mas sim em iluminar o que se deseja fazer hoje, amanhã e depois de amanhã para este país com vocação de império e que já se esqueceu de seu atávico complexo de vira-lata.

Uma vez mais a vitória estará nas mãos de quem souber oferecer mais esperança que medo; mais novidade e modernidade que conservadorismo e velhas receitas ideológicas.

O Brasil também tem o direito de querer entrar na pós-modernidade, que é sempre mais pragmática que ideológica.

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