Privatização a conta-gotas
A recente paralisação da USP reacendeu o debate sobre medidas privadas para salvar a universidade pública. Mas há quem garanta que “já está tudo privatizado faz tempo”
Leandro Paixão, além de dirigente da Amorcrusp, a Associação de Moradores do CRUSP, é um estudante de Letras que entrou na Universidade de São Paulo em 2009 e que, graças à última greve, talvez tenha que postergar sua graduação, antes planejada para 2015. Mesmo com os planos alterados, ele defende a paralização, ciente do que diz ser uma “história de resistência” dos estudantes uspianos e da própria USP.
Vivendo no CRUSP desde 2010, ele diz assistir diariamente às lutas de moradores e de outros grupos universitários, “em especial os de pobres e negros”, que lutam para continuar existindo dentro da universidade enquanto assistem à sua contínua e silenciosa privatização. Segundo Paixão, “já está tudo privatizado faz tempo. A forma de administração interna é empresarial”.
Ele cita como exemplo entidades privadas muito atuantes em faculdades como a FEA, de Economia e Administração, e a Escola Politécnica, de Engenharia. “Apesar de muitos professores serem contratados através de concurso público, sob um regime de dedicação integral, eles presidem essas fundações e dispõem com isso de renda e função à parte”, explica. “É um processo como o que o Banco Mundial descreveu em um de seus relatórios da década de 90, que já falava de ‘privatização a conta-gotas’”.
Claro que a qualidade de ensino, grande trunfo da USP em relação a outras universidades brasileiras, fica ameaçada com isso, ele diz. E ainda vale a pena ser uspiano? “Depende. Há uma boa reputação, e você ainda encontra mestres aqui”, responde. Seu colega e também morador do CRUSP, Josias Padilha, concorda e faz uma ressalva: “Depende muito da trajetória do aluno, como ele aproveita a universidade. Mas os mestres estão saindo e não vão ser repostos”.
A história de um cobertor cada vez mais curto
Quando a USP nasceu, em 1934, jovens professores como Claude Lévi-Strauss foram trazidos da Europa para lecionar em São Paulo e criar "uma universidade de vanguarda". Hoje, 80 anos, 68.675 estudantes, 5.786 professores e cerca de 17.000 funcionários depois, ela continua figurando no topo de rankings como o da Quacquarelli Symonds, que avalia o ensino universitário mundo afora.
Mas é cada vez mais uma ilha, cercada de universidades privadas (que respondem por 80% do ensino superior do país) e sofrendo para estender seu curto cobertor ao maior número possível de jovens, dos 460.000 que concluem o ensino médio anualmente em São Paulo. Cerca de 20.000 são acolhidos pelas universidades estaduais paulistas – USP, UNESP e UNICAMP –, que, juntas, recebem um repasse atual de ICMS de 9,57% do Estado.
Todas entraram em greve este ano e pleiteiam que o repasse seja de 9,907% (equivalente a mais 290 milhões de reais no orçamento total). Mas o que vão encontrar em 2015, em lugar de mais verbas, é um corte orçamentário de 2,5%. O motivo é a arrecadação que foi menor no último ano, graças ao fraco desempenho da economia nos últimos meses.
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