_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Sem oficinas para reparos

As crises são globais; as ferramentas para consertá-las, não

Lluís Bassets

Raramente há crises que não tenham efeitos globais, mas é evidente que faltam os instrumentos globais para resolvê-las. Em poucas ocasiões, como na Assembleia anual das Nações Unidas, que está se reunindo em Nova York, adquire maior visibilidade a insuficiência dos instrumentos multilaterais para enfrentar com rapidez e eficácia situações como as que acabam de irromper na África com a epidemia de ebola, ou no Oriente médio, com a instalação do Estado Islâmico em um amplo território entre a Síria e o Iraque.

Ambas constituem ameaças mundiais, que desafiam o egocentrismo dos Governos e o provincianismo das opiniões públicas. O crescimento exponencial das mortes por ebola nos quatro países onde a epidemia foi declarada —Guiné, Libéria, Serra Leoa e Nigéria— ameaça a segurança regional e a estabilidade desses países. Se não se detém a progressão da doença, as estimativas mais catastróficas situam em 1,4 milhão a cifra de mortos até janeiro.

As crises são globais; as ferramentas para arranjá-las não

O freio só pode vir, no médio prazo, da rápida obtenção de uma vacina e, de imediato, das ações in loco para deter a transmissão, algo que não estão ao alcance dos Governos africanos, pois exige uma ampla rede de saúde que isole os enfermos e enterre adequadamente os mortos. As frágeis estruturas estatais são insuficientes e as organizações internacionais, principalmente a OMS, carecem de meios e até de capacidade de reação.

No final, teve de ser os Estados Unidos, pela boca de seu presidente, quem desse o sinal de alarme, apontasse o caráter mundial da crise e aprovasse o envio de um contingente militar de 3.000 pessoas e um investimento em instalações e equipamentos de saúde no valor de 750 milhões de dólares (1,8 bilhão de reais), a maior ajuda humanitária desde o tsunami de 2004 no Índico.

O Estado Islâmico também constitui uma ameaça mundial, embora dissimulado em sua atuação regional. A contenção do perigo e não, digamos, sua eliminação, não está ao alcance dos países da região. Nada podem fazer as organizações multilaterais, a começar pelas Nações Unidas, limitadas pelo veto de Moscou. Novamente tudo tem de ser confiado à ação de Washington, que, neste caso, ao contrário do ebola, não deseja que seus soldados ponham os pés na terra e se limita a bombardear do ar.

A consistência do perigo mundial é evidente. Pela emulação do modelo em toda a geografia do Islã. Mas também pela difusão viral da ação terrorista. Os combatentes do Estado Islâmico têm um novo e inquietante perfil. Falam inglês, são hábeis nas tecnologias digitais e contam com um bom treinamento militar. Seu regresso aos subúrbios das grandes cidades de onde provêm será um momento especialmente perigoso por causa da sua capacidade de atuar em rede e difundir, também exponencialmente como o ebola, suas doutrinas e planos violentos.

Assim são as crises do século XXI: com efeitos globais que as oficinas de reparos, quase todas locais e nacionais, são incapazes de resolver, e com o costume de terminar nas mãos nem sempre hábeis do mecânico americano.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_