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Obama: “Não lutaremos outra guerra no Iraque”

O presidente põe fim à discussão criada pelo chefe do Estado Maior Conjunto que declarou a possibilidade do uso de tropas naquele país

Yolanda Monge
Barack Obama, junto com Chuck Hagel (centro) e Lloyd Austin (direita), na base Aérea de MacDill em Tampa (Flórida).
Barack Obama, junto com Chuck Hagel (centro) e Lloyd Austin (direita), na base Aérea de MacDill em Tampa (Flórida).JOE RAEDLE (AFP)

Os generais não viajaram para Washington para mostrar seus planos para o presidente. Em um movimento carregado de simbolismo, foi o Comandante em Chefe quem se deslocou para a sede do Comando Central em Tampa (Flórida) para se dirigir ao meio-dia de hoje (13h de Brasília) aos homens e mulheres que servem no Exército dos Estados Unidos e lhes garantir que o país não lutará outra guerra no Iraque cara a cara com o inimigo. “Quero que isto fique claro”, insistiu o mandatário segundos depois de ter repetido a mesma frase. “As forças americanas que estão sendo utilizadas no Iraque não têm e não terão uma missão de combate”, proclamou o presidente na base Aérea de MacDill.

Barack Obama quis falar com as tropas, reconfortá-las ao dizer que já tiveram o bastante ao levarem em seus ombros o peso das guerras durante a longa década inaugurada pelo 11 de setembro. “Como seu Comandante em Chefe não os mandarei para lutar outra guerra no Iraque”, repetiu Obama, que acrescentou que os EUA não travariam essa luta sozinhos, já que não podem fazer pelos povos o que estes não fazem “por si próprios”. Obama disse até que uma luta sem tropas norte-americanas na região seria mais efetiva. “Quando fazemos as coisas sozinhos, ao sairmos voltam a surgir os mesmos problemas”.

Obama quis falar com as tropas e reconfortá-las ao dizer que com duas guerras já tiveram o bastante

O presidente renovou seu compromisso um dia depois do general Martin Dempsey, Chefe do Estado Maior Conjunto, deixar aberta a possibilidade do uso de forças de combate no Iraque durante um comparecimento no Capitólio na última terça-feira. A Casa Branca relevou os comentários de Dempsey e disse que o general expôs um cenário hipotético diante das perguntas dos senadores.

Os analistas responderam e insistiram que esse é o trabalho dos militares, levar em consideração todos os possíveis cenários. E os legisladores que agora forçam o presidente a iniciar uma nova guerra o pressionam politicamente para que envie tropas, já que caso contrário não acreditam que seja possível “enfraquecer e finalmente destruir” os jihadistas do autonomeado Estado Islâmico.

O general Austin recomendou ao presidente que utilize um pequeno número de tropas ligadas às Operações Especiais

Seja como for, esteja Obama em sintonia com seus generais e as diferenças que pareçam existir se deverem a meros cenários hipotéticos, não deixa de ser certo que vozes destacadas dentro do extrato militar pediram ao presidente a presença de tropas de combate. Desde o general encarregado da nova intervenção militar dos EUA no Iraque, Lloyd Austin, até o ex-secretário de Defesa Robert Gates questionaram se o presidente pode cumprir o objetivo traçado sem tropas no território iraquiano.

Austin recomendou ao presidente, antes de seu discurso à nação uma semana atrás, que utilizasse um pequeno número de tropas ligadas às Operações Especiais que pudessem aconselhar e ajudar as unidades iraquianas durante os combates cara a cara com os jihadistas do EI. “Não vencerão o EI somente com ataques aéreos”, expressou o antigo secretário de Defesa Robert Gates. “Da forma que será necessário enviar tropas ao Iraque se quisermos ter uma esperança mínima de sucesso com esta estratégia”.

Obama insiste que a luta conta o EI, que no momento parece ser uma ameaça que pode estourar dentro de casa, deve ser o resultado de uma coalizão, apesar dos EUA serem o único país capaz de liderá-la e apesar de “até os países que se queixam da América recorrerem a nós” quando existem problemas.

Que existam ou não tropas de combate no território iraquiano parece ficar reduzido a uma questão de semântica. Ou até de guerra escondida, segundo alguns colunistas. David Ignatius escreveu na edição do jornal The Washington Post de ontem: “Vamos ser honestos, as tropas dos EUA já estão no Iraque e muitas mais também irão”. Na opinião do colunista, Obama estaria se refugiando no artigo 50 do Código dos EUA, que regulamenta as atividades da CIA em ações escondidas. A história mostra, do Vietnã a América Central, passando pelo Oriente Médio, que este tipo de operação pode voltar-se contra quem a inicia. “A questão agora”, expõe Ignatius, “é se Obama decidirá dizer publicamente [que já existem tropas em operações especiais] ou vai ficar no seu papel preferido de Comandante em Chefe escondido”.

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