Governo acena com medidas para retomar a confiança na economia
O ministro Guido Mantega atende pedidos de empresários para aplacar o pessimismo do mercado
Os empresários brasileiros ainda não sabem se terão de conviver com este governo por mais três meses ou por outros quatro anos. Essa é uma das tantas incertezas que têm alimentado a angústia dos representantes do setor privado no país, que vêm convivendo com baixas taxas de crescimento, redução de receitas e a diminuição, ainda que pontual, do quadro de pessoal. Nesta segunda, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, procurou atender a pelo menos duas reivindicações dos empresários para atenuar o pessimismo do setor. Uma delas diz respeito à redução da alíquota do Imposto de Renda sobre lucros no exterior (de 34% para 25%) e a outra fixa em 3% o valor devolvido sobre a receita de vendas para o mercado externo dos exportadores. Hoje, essa devolução é de 0,3%.
Mantega fez o anúncio depois de se reunir com diversos representantes de empresas de porte, como Odebrecht, Embraer, Natura e Votorantim, e de ouvir diversos pedidos para que a indústria, hoje a mais impactada pelas dificuldades na economia, seja mais bem tratada, ainda que seja o final do mandato da presidenta Dilma Rousseff.
Se por ventura ela vier a ser reeleita, o Governo terá de fomentar uma política de apoio à produção muito mais eficiente, caso queira restaurar a confiança do empresariado. Os investimentos do setor privado caíram gradativamente ao longo dos anos da gestão Rousseff. Durante a campanha eleitoral, o setor privado se mostrou mais entusiasmado com o discurso do candidato Aécio Neves, do PSDB, do que com a continuidade do governo petista. O tucano apresentou logo de cara uma agenda pró-investimentos que foi saudada pelo setor.
O programa de Marina Silva, do PSB, também fala mais a língua dos empresários, o que aumentou ainda mais a resistência dos empresários a Dilma. “Há divergência entre o que percebemos como realidade e os números apresentados pelo Governo”, disse Benjamin Steinbruch, na manhã desta segunda-feira. “Acho que o desemprego vem aí”, disse ele a jornalistas, no intervalo de um debate sobre economia na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Steinbruch, que além de presidir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), assumiu a presidência da Federação das Indústrias de São Paulo, observa que a retomada da confiança em um eventual governo Dilma, ou no de outro candidato, demanda medidas concretas. “Vivemos uma realidade contrária ao investimento industrial, à realidade da indústria”, reclama o empresário.
Mantega, por sua vez, defende que o Governo fez diversas medidas pró-empresas ao longo destes anos, e que o Brasil tem uma economia mais sólida do que em 2008, quando veio a crise global financeira. “Estamos prontos para iniciar um novo ciclo de expansão”, disse ele, durante o encontro com economistas. O excesso de otimismo do ministro, porém, contrastou várias vezes com a realidade dos números, algo que irritou sempre empresários, que pediam a troca do titular da Fazenda. A presidenta Rousseff sempre resistiu à pressão pela sua substituição, mas Mantega sairá ao final do governo para cuidar de assuntos pessoais.
Hoje a política econômica do PT se caracteriza pela manutenção e proteção dos empregos – foram 5,5 milhões de empregos criados com Rousseff – uma fórmula que é questionada, uma vez que os salários são reajustados para cobrir a inflação, mas a produtividade não avança.
Rousseff também tem repetido ao longo da campanha que as bases do crescimento estão dadas para um eventual segundo mandato. Mas, se quiser vencer a eleição e refazer a ponte com os empresários, será necessário apresentar um plano concreto que abra espaço para o investimento, que só fez cair nestes quatro anos. O Governo tem reiterado que o setor externo tem prejudicado os planos de retomada da economia. Mas Mantega acredita que a crise externa “já está no fim”.
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