Acre, o Estado que pede renovação, vota no PT há 15 anos
Por que o Estado de Marina Silva elege governadores petistas há quase duas décadas
Andando por Rio Branco, um sentimento ambivalente pela família Viana, que mistura ressalva e gratidão, paira no ar quente e úmido da capital do Acre, que abriga quase 50% da população total (pouco mais de 733.000 pessoas) do Estado. Aqui, os irmãos Viana – Jorge e Tião, petistas desde a fundação do partido - já foram eleitos para a Prefeitura, para o senado e para o Governo do Estado que, há quase 16 anos, está nas mãos do PT. “Eu tenho muitas críticas à família Viana, mas tenho que reconhecer que eles fizeram muito pelo Acre”, diz Maria de Fátima Cavalcanti, moradora de Rio Branco, enquanto esperava o ônibus. Assim como Maria de Fátima, muita gente tem críticas ao governo, mas com ressalvas, já que há quatro eleições escolhe mais um sucessor petista.
O levantamento mais recente realizado no Estado, pelo Vox Populi, comprova, em números, o que se ouve nas ruas. Tião Viana tem 48% das intenções de voto, contra 17% de Marcio Bittar (PSDB) e 18% de Tião Bocalom (DEM). Ainda que o percentual de votos mude um pouco, para mais ou para menos, todas as pesquisas feitas no Estado mostram Viana em primeiro lugar. Ao mesmo tempo, o Instituto Delta fez um levantamento nessas eleições e descobriu que 75% dos acrianos querem mudança, sendo ela relacionada à troca do governo ou à forma de governar.
Por estar de certa forma no governo há tantos anos, a oposição chama a família Viana de oligarquia, mas a população parece ter um respeito maior pelos filhos de Wildy Viana, político que já militou pela organização ruralista UDN e pela ARENA, ambas organizações políticas da direita. “O Jorge (Viana) foi um excelente governador. Ninguém esquece dele aqui. Depois que ele assumiu, ele abriu o Acre para o comércio. Tudo o que tem em São Paulo, aqui também tem”, diz a professora aposentada Maria da Costa Silva, de 65 anos, sobre o atual senador Jorge Viana, que governou o Acre por dois mandatos, entre 1999 e 2007. “E o Tião é muito bom também, muito prestativo. Para presidente eu não sei em quem votar, mas para governador, com certeza será nele”, diz.
Embora exista uma exaltação da família Viana nas ruas, o Estado que teve a primeira mulher governadora na história do país – Iolanda Fleming, vice de Nabor Junior, que assumiu o Governo do Estado entre 1983 e 1986, depois que Junior renunciou para disputar o Senado - não é unânime quando o assunto é eleição, e, constantemente as urnas ficam divididas. Em 2010, quando Tião Viana foi eleito no primeiro turno com 50,50% dos votos, a maior quantidade de votos para presidente foi para o candidato do PSDB, José Serra, com 52%, contra 23% para Dilma Rousseff (PT) e 23% para a acriana Marina Silva (na época, do PV).
“Aqui no Acre, nós sempre ganhamos por pouco mais da metade”, diz Tião Viana. “Existe uma referência de que nós não somos exatamente iguais ao PT que desapropria, que apoia o MST (Movimento dos Sem Terra, que invade propriedades privadas)... e não é verdade, nós sempre fomos o PT do Lula, da Dilma [ambos da ala mais moderada do partido]".
Para o candidato da oposição, Marcio Bittar, dois fatores influenciam as eleições no Estado. O primeiro é a alta quantidade de pessoas ligadas, de alguma maneira, ao Governo; ou por meio de benefícios, ou com algum vínculo empregatício. “Aqui, todo mundo que recebe o Bolsa Família, se vê ameaçado de perder o benefício se não votar em quem o Governo quer”, diz. “Além disso, o Estado tem um orçamento de cinco bilhões, e gasta mais de 100 milhões com cargos de livre nomeação. É muita gente ligada ao governo”, diz.
Outra questão, segundo Bittar, é que as pessoas teriam medo de responder às pesquisas sobre intenção de voto. “As pessoas falam que vão votar no Governo, por medo, mas não votam”, diz. “A nossa gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão aqui”, conta, citando uma letra que o cantor Chico Buarque compôs durante a ditadura militar no Brasil para ilustrar um clima de censura que o Estado, segundo ele, vive.
Da esquerda para a direita
O agropecuarista Marcio Bittar era militante do PCB quando foi estudar história na Rússia, em 1984. De lá pra cá, já foi do PMDB e do PPS antes de chegar ao PSDB, partido pelo qual se elegeu deputado federal.
O candidato tucano ao Governo do Acre defende o enxugamento da administração para aumentar o orçamento de algumas pastas. Pretende estabelecer metas a serem cumpridas pelos setores de saúde, educação e segurança, embora não saiba ainda que tipo de meta seria estabelecida para a segurança.
Critica a política de proteção à população indígena no Estado – “É um fracasso, como em todo o Brasil” – mas seu plano de governo não contempla nenhum programa específico para essa população. “Eu acho que o homem é um só; não tem raça. O Estado tem que tentar cuidar de todo mundo”.
Slogan: Devolver o Acre aos acrianos
Davi contra Golias
É assim que o candidato do DEM, Tião Bocalom, define sua campanha. O professor de matemática, que teve 49,3% dos votos nas eleições de 2010 para governador, usa essa comparação para reclamar da falta de recursos para campanha. Pretende enxugar as secretarias e reduzir o número de cargos comissionados e o salário do governador.
Sobre a violência contra a mulher, diz que o Estado já tem uma delegacia em Rio Branco e que não pretende expandir para outras cidades. “Ô filha, eu acho que quando você tem uma polícia que trabalha e faz o trabalho dela bem feito, não precisa ter delegacia exclusiva para a mulher”.
Seu grande desafio, segundo diz, é elevar o Estado do Acre à primeira posição no ranking Transparência Brasil já no primeiro ano de Governo. Das 27 posições, o Acre está, atualmente, em 24º.
Slogan: produzir para empregar
Política em família
Formado em medicina, o atual governador do Acre e candidato à reeleição pelo PT, Tião Viana, destaca seus feitos no comando do Estado, como a redução do analfabetismo. “A miséria e a pobreza foram reduzidas fortemente, embora ainda seja um Estado pobre”, diz. Pretende estimular a abertura de atividades industriais para a juventude – 60% da população do Estado tem entre 0 e 29 anos, enquanto a média nacional é de 47%.
Defende 100% do PIB para a educação, a transferência de tecnologia também para as áreas rurais – cerca de 30% da população acriana vive fora das cidades - escola em tempo integral, programa de combate às drogas nas fronteiras e policiamento nas escolas. Também não falou sobre projeto específico para combater a violência contras as mulheres, mas tratou a questão indígena defendendo a manutenção e aumento de escolas indígenas.
Slogan: É com a gente. É com Tião.
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