_
_
_
_

Dez países árabes respaldam a coalizão antijihadista proposta pelos EUA

A Arábia Saudita se oferece para receber os campos que treinarão insurgentes sírios moderados

Ángeles Espinosa
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, na quarta-feira em Bagdá.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, na quarta-feira em Bagdá.AP

Dez países árabes encabeçados pela Arábia Saudita se comprometeram nesta quinta-feira em Jidá a colaborar com os Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico (EI). O anúncio foi divulgado após uma reunião de ministros de Relações Exteriores com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, na capital de verão do reino do deserto. A monarquia saudita, crucial em qualquer tentativa de erradicar o jihadismo, aceitou receber em seu território bases de treinamento para os rebeldes sírios moderados.

“Temos o compromisso do reino da Arábia Saudita (...) de participar totalmente conosco no esforço, incluindo esse programa de treinamento”, disse um alto funcionário norte-americano que acompanhava Kerry, citado pela Reuters. Na véspera, o presidente dos EUA, Barack Obama, havia telefonado ao rei saudita para lhe explicar seus planos.

A preparação militar e a entrega de equipamentos a insurgentes sírios que lutam contra o regime de Bashar al Assad, mas que não compartilham do extremismo nem das ambições territoriais do EI, é um componente importante do plano norte-americano. Durante seu discurso de ontem à noite, Obama anunciou que estenderá à Síria a intervenção militar dos EUA contra os fundamentalistas. Entretanto, diferentemente do que ocorre no Iraque, no caso da Síria os EUA não têm um sócio local. Desde o início da guerra civil nesse país, há três anos, os rebeldes moderados receberam uma ajuda muito limitada de Washington. Os dirigentes árabes atribuíram a esse desamparo o fracasso dos rebeldes diante do Exército sírio e sua perda de terreno para os jihadistas.

Participaram da reunião de Jidá, além de Kerry e do príncipe Saud al Faisal, anfitrião do encontro, os chanceleres de Kuwait, Qatar, Bahrein, Emirados Árabes, Omã, Iraque, Egito, Jordânia, Líbano e Turquia. Este, o único país não árabe entre os participantes, esclareceu que não cogita permitir operações militares a partir do seu território, mas que se dedicará à ajuda humanitária. Já os Emirados abriram as portas à cooperação militar, através de um artigo de seu embaixador em Washington, Yusef al Otaiba, no The Wall Street Journal.

“O Estado Islâmico talvez seja a ameaça principal e mais óbvia neste momento, mas não é nem de longe a única”, escreveu o embaixador, antes de defender que “uma resposta internacional deve fazer frente aos perigosos extremistas islamistas de todos os matizes na região”.

Al Otaiba enumera grupos filiados à Al Qaeda na Síria, Líbia, Tunísia, Egito, Iêmen e no Magreb. Embora não mencione isso diretamente, os Emirados, assim como a Arábia Saudita, consideram também entre os extremistas a Irmandade Muçulmana, um grupo egípcio que é visto como uma ameaça aos regimes do Golfo, e contra o qual esses países apoiaram o novo Governo que se formou no Cairo após o golpe militar de 2013. A Turquia e o Qatar, por outro lado, veem a Irmandade precisamente como uma alternativa moderada frente aos jihadistas. É um dos pontos de atrito que os EUA terão de limar na coalizão.

Washington, que já mantém uma estreita cooperação militar com todos esses países, busca reforçar suas bases na região e aumentar os voos de vigilância, segundo relato de assessores do secretário de Estado aos jornalistas que o acompanham. A permissão para esses voos, que será concretizada em uma próxima reunião de ministros de Defesa, permitirá aumentar a capacidade da aviação norte-americana para atacar a artilharia antiaérea do EI. Também, se for considerado necessário, para impor uma zona de exclusão aérea.

Mas, além dos aspectos militares, Kerry discutiu a conveniência de que as redes de televisão da região, em especial a qatariana Al Jazeera e a saudita Al Arabiya, divulguem mensagens antiextremistas que salientem o que é o EI na realidade.

Tanto os dirigentes iraquianos como a oposição síria comemoraram os planos de Washington para fazer frente aos jihadistas, que controlam uma parte importante de seus respectivos países. O primeiro-ministro iraquiano, Haider al Abadi, declarou-se satisfeito com o apoio que Obama lhe ofereceu para recuperar o controle do território nacional. Os oposicionistas sírios, por sua vez, recordam que há muito tempo já advertiam sobre a ameaça e pediam “uma ação assim”. Observaram também que não basta combater os jihadistas para conseguir a estabilidade na região, pois “é necessário derrubar o regime repressor de Assad”.

Essa é outra das dificuldades para obter um consenso internacional e regional na campanha contra o EI. Damasco vê esfumar-se o que acreditava ser uma oportunidade para se congraçar com a comunidade internacional após três anos de isolamento por causa da brutal repressão à dissidência local. Seus aliados Irã e Rússia saíram em sua defesa, temerosos de que a coalizão antijihadista possa minar a resistência da qual Assad tanto se orgulha.

“A chamada coalizão internacional para lutar contra o EI (…) está envolta em graves ambiguidades e há importantes receios sobre sua determinação de atacar com sinceridade as raízes do terrorismo”, declarou a porta-voz do ministério iraniano de Relações Exteriores, Marzieh Afkham. A principal objeção de Teerã é que “alguns de seus integrantes estão entre aqueles que financiam e dão apoio militar aos terroristas no Iraque e na Síria”. Embora sem citá-los nominalmente, Afkham se referia à Arábia Saudita e a outros países árabes que respaldaram os rebeldes sírios.

A Rússia, por sua vez, ecoou as advertências de Damasco. “Qualquer bombardeio sobre posições do Estado Islâmico na Síria sem a permissão do Governo legal ou na ausência de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU constituiria um ato de agressão e uma violação flagrante do direito internacional”, segundo o ministério russo de Relações Exteriores.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_