Abbas anuncia um cessar-fogo com Israel “amplo e duradouro” para Gaza
O Hamas assegura que o pacto permitirá levantar o bloqueio aos palestinos

Foram necessários 50 dias de ofensiva que deixaram 2.138 mortos (dos quais 490 eram menores de idade), cinco civis (entre eles um menino), 64 militares, 10.300 palestinos e uma centena de israelenses feridos para que os negociadores de ambos os lados chegassem nesta terça-feira a um cessar fogo duradouro para Gaza. Às 19h (13h, horário de Brasília), entrou em vigor o fim das hostilidades que há mais de um mês assolavam a região. O melhor é que não tem data de validade, como as outras quatro tréguas temporais, violadas sem piedade, que nunca conseguiram acabar com a Operação Limite Protetor.
O acordo que convenceu israelenses e palestinos está baseado na flexibilização das fronteiras da Faixa, que Israel impõe desde que o Hamas tomou o poder, em 2007, e que deixou sua população a bordo de uma crise humanitária. Como o presidente palestino Mahmud Abbas confirmou, ao anunciar o acordo desde Ramala, os principais postos das fronteiras com Israel serão abertos para que a ajuda médica possa chegar à região e para permitir a entrada de materiais de construção – essenciais para uma reconstrução que custará pelo menos 13,4 bilhões de reais. Isso apenas para reparar o que foi destruído por mais de 5.200 ataques israelenses. O Governo do primeiro ministro Benjamin Netanyahu impedia a entrada de cimento ou aço por medo de que o material fosse usado, por exemplo, para construir túneis.
A passagem de Rafah, segundo fontes da Organização para a Libertação da Palestina, será aberta. Ao sul, na fronteira com o Egito, será controlada pelo Governo palestino. Como destacou Abbas, convencer o Hamas de que o novo Executivo de unidade deveria assumir esta função demorou, mas foi determinante para o acordo.
A zona onde os pescadores podem trabalhar será ampliada progressivamente. Antes do conflito eram 20 locais. Atualmente são três, mas a ideia é de que passem a seis. O mar é um dos pilares da economia local.
Os contatos entre as equipes de negociação serão retomados após um mês. O Egito será o intermediário e os assuntos de maior importância, como a reconstrução do aeroporto, do porto de Gaza e a libertação de uma centena de presos islâmicos, que haviam sido liberados em 2011 em troca do soldado Gilad Shalit e foram presos novamente este ano. A fórmula – que foi definida mais pelo cansaço e pressões do que por convicção das partes – não é ambiciosa, mas permite a paz. Agora são 30 dias à prova de fogo.
Israel insiste que deu um "duro golpe" ao Hamas, matando mil milicianos e fazendo o grupo gastar cerca de 70% de seu arsenal. Mas o Hamas vê o contrário: que "a vitória de resistência" é sua e que o Exército israelense "fracassou". A comemoração do acordo começou nas ruas, entre as cápsulas de balas que ainda estavam no chão. Os meios de comunicação israelenses, apesar de destacar que a normalidade voltará a reinar no sul, relembravam que três ministros de Netanyahu estão contra ele (Avigdor Lieberman, Naftali Bennett e Yitzhak Aharonovich, de ultradireita). O Canal 2 afirmou que este acordo com "terroristas" será o fim político de Netanyahu e o jornal Haaretz titulava: "Hamas 1 X 0 Israel", porque pelo menos na Faixa a situação, pouco a pouco, melhorará.