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A recuperação dos EUA dependerá da evolução do mercado de trabalho

A presidenta do banco central, Janet Yellen, anuncia que a taxa de juros poderá subir se caso a geração de empregos seja rápida

Janet Yellen, presidenta da Reserva Federal, fala com um manifestante.
Janet Yellen, presidenta da Reserva Federal, fala com um manifestante.John Locher (AP)

Janet Yellen, presidenta da Reserva Federal (Fed), considera que a economia dos Estados Unidos se aproxima dos objetivos previstos. E novamente indicou que se o mercado de trabalho progredir mais rápido do que o previsto, terá de antecipar o processo que levará à primeira alta dos juros em oito anos. Mas se a progressão for mais lenta, o aumento demorará mais. Yellen mostra então sua flexibilidade, ainda que deixe claro que a política dos 0% tem data de validade, apesar de não ser iminente.

É o primeiro discurso de Janet Yellen na reunião anual dos banqueiros dos bancos centrais em Jackson Hole, como maior representante da Fed. Após o almoço será a vez de Mario Draghi, o presidente do BCE. O simpósio nas Montanhas Rochosas foi pensado para discutir sobre teoria monetária. Este ano o tema central das discussões gira em torno das dinâmicas do mercado de trabalho.

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Existem aí três problemas, que explicam em grande medida porquê a recuperação após a última recessão está sendo tão lenta e desigual: a baixa taxa de participação, o congelamento dos salários e o emprego em tempo parcial. Yellen também está preocupada com o desemprego de longa duração e o desemprego jovem, pelo seu efeito na produtividade e no rendimento futuro da economia.

São problemas que se arrastam há anos e que seguirão desta forma a médio prazo. Isso não impede, entretanto, que se aqueça o debate interno na Fed sobre o retorno à normalidade monetária. É fato que os juros subirão nos EUA. O que se está vendo é quando e a que ritmo. Existem membros que pedem calma e outros que pedem rapidez no primeiro passo.

Mais empregos

Yellen explicou em seu discurso que estas questões estão sendo discutidas dentro do Fed. Mas indicou que existem muitas variáveis para serem levadas em conta para analisar a situação do mercado de trabalho. Reconheceu também que é difícil diferenciar se a contratação da mão de obra é estrutural ou cíclica. Disse que os salários podem sim subir sem criar inflação.

"A economia fez progressos consideráveis desde o fim da Grande Recessão há cinco anos", comentou Yellen ao começar seu discurso. Este ano estão sendo criados empregos a um ritmo de 230.000 novos empregados por mês, por volta de 40.000 a mais do que nos dois anos anteriores. A taxa de desemprego, entretanto, aproxima-se dos 6%, quatro pontos percentuais a menos que o final de 2009. Apesar dessa melhora, "o mercado de trabalho deve recuperar-se plenamente".

A presidenta da Fed considera "natural" que o debate comece a ser feito agora e dure até o momento no qual os juros devam subir. "Com a economia aproximando-se de nossos objetivos, é natural que a ênfase se volte para os obstáculos que persistem, a rapidez com a qual podem ser superados e por consequência em quais condições devemos começar a retirar os estímulos extraordinários", indicou.

John Williams, presidente da Fed de São Francisco, é um dos que acreditam que o primeiro aumento dos juros pode esperar um ano, até o segundo semestre de 2015. Ainda que veja melhoras no mercado de trabalho, acredita que a manutenção do plano é justificada. É considerado como uma das pombas, por sua lassitude. Entre os falcões está Charles Plosser, da Fed da Filadélfia. Vê riscos na atual estratégia.

Plosser já rompeu com o consenso na última reunião. Votou contra porque considerou que era necessário retirar do comunicado final a referência de que os juros seguirão a zero durante um "tempo considerável" após a compra de bônus expirar. No seu caso teme por um aumento da inflação, que obrigue todo o processo a ser acelerado. Mas é o desemprego que agora separa os dois grupos.

Munição para outra crise

Yellen não tem uma "receita única" a seguir. Já admitiu no passado que prolongar a estratégia atual implica em riscos. Entretanto, não quer dar passos prematuros. A maioria dos membros da Fed, de fato, acredita ser conveniente esperar que existam mais dados disponíveis antes de decidir. James Bullard, da Fed de St. Louis, não acredita que as coisas estejam tão mal como parecem.

A Reserva Federal necessita além disso aumentar os juros para ter munição com a qual combater a próxima crise. A redução do valor do dinheiro é o instrumento imediato mais efetivo para fazer frente a um novo cenário de contração. Antes, entretanto, poderia ver-se obrigada a agir com antecedência se a inflação acelerar. No momento, está contida por volta dos 2%.

Nas últimas semanas surgiu a ideia de que a Fed poderia estar preparando uma quarta rodada de estímulos pela via não convencional. Jackson Hole foi o palco utilizado por Ben Bernanke para anunciar a segunda redução dos juros pela via quantitativa e dois anos depois apresentou o que se batizou como "operação twits" para manter os juros baixos a longo prazo.

Era um momento diferente. O que fez Yellen foi reiterar que o programa massivo de compra de bônus acabará em outubro. Em julho ocorreu um novo corte, para 25 bilhões de dólares (57 bilhões de reais) mensais. O mecanismo original permitiu comprar ativos da dívida pelo valor de 85 bilhões de dólares (193 bilhões de reais) ao ser ativado no final de 2012. A contração começou em dezembro.

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