A versão da polícia que justificou a prisão de ativistas em São Paulo é contestada

A família de Fabio Hideki, preso durante protesto na Copa, diz que vai processar o Estado após laudos comprovarem que ele não carregava material explosivo

Fabio Hideki Harano, preso em junho deste ano.Avener Prado (Folhapress)

Laudos do Instituto de Criminalística e do Grupo Especial Antibomba da Polícia Militar confirmaram que o ativista Fabio Hideki, preso no dia 23 de junho, não carregava artefatos explosivos, conforme foi alegado pela polícia para justificar a sua prisão, durante o protesto “Se não tiver direitos, não vai ter Copa”. Cumprindo pena preventiva na penitenciária de Tremembé, em São Paulo, Hideki foi acusado de quatro delitos, entre eles, associação criminosa. Insinuou-se, ainda que ele seria adepto da tática black bloc, o que o colocaria como agente ativo na destruição de patrimônio público em manifestações.

Em conversa com o EL PAÍS, a mãe de Fabio, a biomédica Helena Harano, disse está decidida a processar o Estado após essa nova informação apresentada pelos laudos. A mãe do ativista ganhou um fio de esperança de ver seu filho ser libertado rapidamente. “Aguardamos ansiosamente a libertação do meu filho. Desde o momento da sua prisão temos afirmado com veemência que ele é inocente e não carregava nada conforme foi constatado pelo Gate e IC”, diz a biomédica, que se declara muito esgotada emocionalmente. “Não desejo isso para nenhum ser humano”, completa.

A ação legal para deter manifestantes tem sido bastante criticada, em função de prisões feitas com justificativas contestadas por testemunhas que estão presentes no flagrante declarado pela polícia. O padre Júlio Lancelloti, um ativista dos direitos humanos que viu o jovem ser revistado no ato da prisão, foi um dos que acusou ser este um flagrante forjado.

Em entrevista à rede Brasil Atual, o advogado que representa Hideki, Luiz Eduardo Greenhalgh, diz que Fábio foi vítima de um inquérito preparado e um flagrante preparado, que está desmoronando. “Quero que ele saia imediatamente da cadeia. Se não sair, ficará claro que se trata de uma prisão política”, afirma.

Greenhalgh lembrou que o porte de explosivos era a principal acusação contra o manifestante – e o que justificava, perante a justiça, sua prisão preventiva. “Agora isso caiu.

Hideki é técnico de laboratório, estudante de jornalismo e diretor do sindicato dos trabalhadores da Universidade de São Paulo.

No mesmo dia da sua prisão, o professor Rafael Marques Lusvargh, também ativista, foi preso sob a mesma alegação. Questionada sobre o resultados dos laudos, a Secretaria de Segurança Pública enviou uma nota relatando que as denúncias não se baseiam apenas em objetos encontrados com ambos, e que estão em curso processos judiciais nos quais Harano e Lusvarghi figuram como réus. “Os fatos estão sub judice e foram objeto de denúncias oferecidas pelo Ministério Público ao Poder Judiciário, que manteve as prisões preventivas de Fábio Hideki Harano e de Rafael Marques Lusvarghi”.

Uma campanha virtual e passeatas nas ruas pediam a libertação de Hideki desde a sua prisão no dia 23 de junho. “Todas essas manifestações de apoio pela internet, atos públicos, passeatas, cartas de apoio dos professores universitários e dos juristas renomados estão ajudando muito o Fabio. Somos muitos agradecidos pela solidariedade recebida por tantas pessoas”, diz sua mãe.

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