Londres volta atrás e ordena investigação da morte do ex-agente russo Litvinenko
A decisão é uma afronta a Moscou e uma mudança radical da posição britânica
A ministra britânica do Interior, Theresa May, anunciou a realização de uma investigação pública sobre o assassinato em Londres em 2006 do ex-agente russo Alexander Litvinenko. A investigação, que deverá esclarecer a participação da aparelhagem do Estado russo, causa uma mudança de 180 graus na postura mantida até agora pelo Governo britânico, que foi imediatamente associada à linha dura adotada pelo primeiro-ministro conservador, David Cameron, na atual crise com a Rússia pelas tensões na Ucrânia.
Litvinenko, de quem acreditava-se trabalhar para o MI6 britânico na época, e que havia colaborado também com os serviços secretos espanhóis sobre a presença de mafiosos russos na Espanha, foi envenenado com polônio, uma substância radioativa. Segundo a Justiça britânica, a substância foi administrada por um ex-agente da KGB e agora deputado russo, Andrei Lugovoi, com quem Litvinenko tomara chá junto de outro russo, Dimitri Kovtun, no luxuoso Hotel Millenium, em Grosvenor Square, no centro de Londres.
O caso provocou um grande escândalo internacional e uma crise diplomática entre Londres e Moscou. As coisas, entretanto, nunca foram além da retórica entre ambos os governos, e o de Londres bloqueou até agora todas as tentativas da viúva e dos advogados de Litvinenko para realizar uma investigação pública com poderes para acessar, ainda que seja material secreto, documentos que poderiam provar a participação de Moscou no assassinato de seu ex-agente. Litvinenko, quem em 1998 denunciou que ele e vários companheiros haviam recebido ordens de assassinar o oligarca Boris Berezovsky, fugiu da Rússia dois anos depois e conseguiu asilo em Londres.
Ainda que os juízes britânicos tenham acusado Lugovoi como o executor do crime, o juiz que julgou o caso recomendou a abertura de uma investigação pública para saber quem ordenou a execução. O Home Office (Departamento de Imigração britânico), entretanto, não autorizou essa investigação em julho de 2013 e a própria ministra do Interior, Theresa May, explicou então que “as relações internacionais foram um dos fatores que levaram o Governo a tomar essa decisão”.
Em fevereiro deste ano, o Tribunal Superior de Londres criticou o Governo por ter descartado a investigação pública (‘public inquiry’) antes da finalização da investigação judicial ordinária (‘inquest’). Mas este parecer, ainda que fosse um poderoso argumento a favor da investigação pública, não obrigava legalmente o Governo a convoca-la. E, sobretudo, não necessariamente neste preciso momento de crise com a Rússia pela derrubada do avião da Malaysia Airlines no céu do Leste da Ucrânia, controlado pelos separatistas pró-russos.
Por isso, nas palavras do presidente da Comissão de Exteriores da Câmara dos Comuns, a“extravagante” decisão anunciada por May foi recebida como uma decisão política feita para lançar um aviso para a Rússia de Vladimir Putin de que Londres está disposta a jogar duro nessa crise.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.