_
_
_
_
_

Trânsito permitido, mas desaconselhado

O avião derrubado voava 300 metros acima da altitude mínima recomendada

María Sosa Troya
Às 19h (13h em Brasília) da sexta-feira, 18 de julho, nove aviões sobrevoavam o espaço aéreo ucraniano. Apenas um deles voava sobre a zona da catástrofe, um Boeing 737 da Ukraine International Airlines. As outras oito eram aeronaves bielorrussas (2), outra ucraniana, uma da Sibéria, uma turca, uma húngaro-polaca, e uma da Lufthansa.
Às 19h (13h em Brasília) da sexta-feira, 18 de julho, nove aviões sobrevoavam o espaço aéreo ucraniano. Apenas um deles voava sobre a zona da catástrofe, um Boeing 737 da Ukraine International Airlines. As outras oito eram aeronaves bielorrussas (2), outra ucraniana, uma da Sibéria, uma turca, uma húngaro-polaca, e uma da Lufthansa.Flightradar24

O voo MH17 viajava na quinta-feira a 33.000 pés (cerca de 10.000 metros) de altitude quando foi alcançado por um míssil e as 298 pessoas a bordo morreram. Sobrevoava Donetsk, uma região no leste da Ucrânia mergulhada em um conflito armado entre o Governo de Kiev e os rebeldes separatistas pró-russos.

As autoridades ucranianas haviam proibido o trânsito pelo espaço aéreo do leste do país abaixo de 32.000 pés (9.700 metros). Isso significa que o avião viajava 300 metros acima da zona de exclusão, de acordo com informações dadas nesta sexta-feira pela Eurocontrol, organização europeia para a segurança do tráfego aéreo. Portanto, o avião da Malaysia Airlines tinha permissão de operar nesta faixa de altitude. Apesar disso, algumas companhias aéreas, como Air France e Lufthansa, por exemplo, haviam decidido desviar seus voos. Então, por que outras empresas continuavam atravessando a região?

Mais informações
Um míssil derruba um avião malásio com 298 ocupantes no leste da Ucrânia
Obama aponta os pró-russos como responsáveis pela queda
À procura dos culpados
Malaysia Airlines encara seu segundo acidente em quatro meses
Os canos fumegantes que incriminam os rebeldes

Cada país tem competência para controlar seu espaço aéreo. São suas autoridades aeronáuticas que podem diferenciar entre zonas de perigo, restritas ou de exclusão. “Para isso, baseiam-se em uma análise de risco, dependendo do tipo de combate, das armas que disponham ambos os lados...”, afirmou por telefone Gustavo Barba, vice-reitor do Colégio Oficial de Pilotos da Aviação Comercial.

Depois do acidente, Kiev ordenou na noite de quinta-feira o fechamento do espaço aéreo sobre as regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk e, parcialmente, sobre Carcóvia. Até então, os voos eram permitidos no leste do país, onde uma dúzia de aviões militares foi derrubada pelas forças pró-russas nos últimos meses.

“Não existe um padrão fixo seguido em todos os países onde há um conflito. Depende da natureza do mesmo. Normalmente a opção é estabelecer zonas de exclusão do tráfico, o que não significa necessariamente fechar o espaço aéreo de todo o país, mas estabelecer uma área onde é proibido voar. Além disso, uma guerra não é o único motivo para proibir voos. Em 2010, a erupção de um vulcão na Islândia obrigou a isso”, conta Guadalupe Cortés, que controla o tráfego aéreo no aeroporto de El Prat (Barcelona) e é vice-presidente da Associação Profissional de Controladores de Trânsito Aéreo.

Em abril, a Eurocontrol havia divulgado uma recomendação na qual alertava sobre os “sérios riscos” para as companhias e sugeria rotas alternativas. A Administração Federal de Aviação, a agência norte-americana que supervisiona a questão, proibiu diretamente as companhias aéreas norte-americanas de atravessar a região. “Houve um conflito na Crimeia com o controle do espaço aéreo. A agência norte-americana tem poder para proibir voos. E o fez. A europeia, por sua vez, não tem, e apenas pôde divulgar uma recomendação. Fica, portanto, a critério das companhias aéreas decidir se desviam suas rotas ou não. E isso gera um debate entre a legalidade e a segurança”, detalha Barba.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_