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E depois do Brasil, o Maracanã

O ambiente e o rival dignificam o triunfo alemão em uma final impossível para o capitão argentino, mais futebolista que goleador

Ramon Besa
Rio de Janeiro -
Neuer atinge Higuaín em uma defesa.
Neuer atinge Higuaín em uma defesa.ADRIAN DENNIS (AFP)

O momento da Alemanha chegou no melhor dos cenários para ser a primeira seleção europeia a vencer a Copa na América. O Maracanã e a Argentina dignificaram o triunfo alemão em uma excelente final, intensa, divertida e igualitária, impossível para Messi, mais futebolista do que goleador no Rio: o mundo invertido no dia em que se disputava o título. Abatida desde 1996, quando levantou a Eurocopa com Vogts, a Alemanha soube digerir as dolorosas derrotas para a Espanha na Eurocopa e na Copa e engolir também os chutes de Balotelli em Varsóvia para cantar vitória no Brasil com um gol de um de seus grandes recursos: Götze.

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Apesar de ser exigida ao limite, a equipe de Löw não falhou no último esforço, vencedor precisamente quando sua hierarquia em campo esteve mais discutida do que nunca por um oponente que cresceu e melhorou muito, um colosso defensivamente, só necessitado do gol de Messi. Para a Argentina, não serviu de nada levar o 10 até o Maracanã e a Alemanha até a prorrogação, sendo dominada pela melhor equipe do torneio, quatro vezes campeã, a seleção da moda por sua riqueza futebolística e jogo harmônico, digna sucessora da Espanha. Não foi o Mundial de Messi, mas o da Alemanha.

A Argentina de Messi jogou sempre como visitante orgulhosa, a do contra, e também na final, que disputou com sua camisa azul devido à condição de mandante da Alemanha. Ninguém fala bem da Alviceleste, e muito menos o anfitrião Brasil, martirizado pelo cancioneiro da torcida que tomou as sedes da Copa onde a Argentina jogou. O calor de seu fanatismo foi o combustível de uma equipe cujo maior elogio recebido foi o de sua competitividade, uma forma elegante de não falar de futebol mas de todas as coisas que o rodeiam, nem sempre para o bem, já que há que ser respeitoso com a Argentina.

Por sua riqueza futebolística e jogo harmônico, a Alemanha é a digna sucessora da Espanha

A partir do amor próprio, possuída por uma fé cega no triunfo, a tropa de Sabella combateu a indiferença e o despeito até transformar cada partida em um ato de afirmação, de conquista, de terreno ganho em busca do Eldorado Maracanã. Não parou de incomodar, muito bem armada em seu campo, à espera de Messi. A sensação era a de que ainda estava para ser visto o melhor da Argentina e do 10. Impunha-se então continuar resistindo, defender e contra-atacar, sem se esquecer de jogar, ainda mais diante da famosa Alemanha, a outra face da Copa.

Com os alemães acontecia justamente o contrário, depois do estrondoso 7 a 1 contra o Brasil, um placar que transcenderá 2014 para se tornar um dos maiores impactos da história da Copa. A Alemanha tinha mostrado o melhor dos repertórios, já passava por campeã sem a necessidade de vencer a final, era a seleção mais adulada e mimada do Brasil. Não há seleção capaz de repetir uma partida tão memorável, nem a própria Alemanha, diminuída no Maracanã, vítima da lembrança do 7 a 1.

A equipe de Löw não teve a autoridade que se supunha, diminuída pela lesão de Khedira e reduzida pelas sacudidas da Argentina, que encontrou uma via de acesso no flanco esquerdo defendido pelo central Höwedes. Lavezzi foi pela lateral e Messi foi tão seletivo quanto desequilibrante com suas arrancadas, suficientes para gerar a sensação de perigo. Os argentinos interpretaram muito bem a partida e atacaram os espaços gerados pelo atrevimento dos alemães, de modo que o resultado foi uma final muito divertida no Maracanã.

A Copa já não é ganha por um só jogador, mas por uma equipe, como a de Löw constatou

Até as oportunidades se alternavam nas áreas, no início na de Neuer e depois na de Romero, ambos muito exigidos em uma partida de ida e volta, com muitas alternativas e ritmo. Higuaín não foi feliz em um mano a mano com o goleiro, nem mais tarde Palacio, e a trave devolveu uma cabeçada de Höwedes. Não foram as únicas, porque as aparições de Müller e Messi foram tão escassas quanto luminosas no Maracanã. Para Müller, faltaram parceiros e a equipe se descompensou sem Khedira e depois sem Kramer. E para Messi falou pontaria diante de Neuer.

O 10 teve três chegadas que não entraram por um triz diante do gigantesco goleiro da Alemanha. Messi se livrou bem da marcação, controlou melhor a bola, procurou o ângulo de tiro e focou na trave e não acertou o chute. Messi não se desesperava, havia a sensação de que ele ainda tinha energia, de que para a Argentina valia a pena não desfalecer, mas ali havia menos equipe com Agüero do que com Lavezzi. E assim como nessa temporada no Barça, o momento Messi não chegou com a Argentina, nem ele foi Maradona, nem resolveu com uma jogada, que era o que se pedia. Ninguém exigia que jogasse bem, coisa que ontem fez mais do que em ocasiões anteriores, mas que deixasse um gol para a história. Não conseguiu e a FIFA lhe deu a Bola de Ouro da Copa.

Nada do que a FIFA faz tem sentido ultimamente, por mais que Messi seja o número 1. A Copa, no entanto, já não é ganha só por um jogador, mas por uma equipe, como constatou a Alemanha, que precisou de Götze depois que nem Müller nem Klose nem Kroos conseguiram. A Alemanha voltou, vencedora com um futebol moderno e sedutor, muito distante do que praticado pela Mannschaft, enquanto a Argentina esperava que Messi fosse uma cópia de Maradona. Os tempos mudaram e o maracanazo caiu no esquecimento depois do 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil.

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