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São Paulo recebe a primeira Copa do Mundo de futebol de rua

O evento, que está em sua terceira edição, vai até 12 de julho e reúne 300 jovens em situação de exclusão social de 24 países

Jogadores colombianos comemoram uma vitória no campinho montado no Largo da Batata, em São Paulo.
Jogadores colombianos comemoram uma vitória no campinho montado no Largo da Batata, em São Paulo.BOSCO MARTÍN

Karimi Kamara, de 21 anos, saiu pela primeira vez de Serra Leoa para jogar futebol no Brasil. E voltará com a satisfação de ter vencido o time anfitrião da Copa do Mundo. A equipe de Serra Leoa abriu a terceira edição do Mundial de Futebol de Rua, que começou nesta segunda-feira no Largo da Batata, na Zona Oeste de São Paulo. Jogou, inicialmente, contra o Chile. "Nós perdemos, mas depois ganhamos do time do Brasil, o que foi fantástico", diz Kamara. "É uma oportunidade única, a realização de um sonho. O Brasil é incrível e todos aqui no campeonato são como amigos". Em seu país de origem, Karimi atua junto ao resto da equipe para tirar jovens das ruas por meio do futebol.

Como ele, outros 300 jovens disputam o campeonato. São 28 delegações de 24 países diferentes, sendo que o Brasil e a Argentina têm mais de um time competindo. As equipes são formadas por meninos e meninas com idades que variam entre 15 e 21 anos, vindos de quatro continentes. O torneio termina no dia 12 de julho.

As equipes são formadas por meninos e meninas com idades que variam entre 15 e 21 anos, vindos de quatro continentes

O Largo está lotado: são duas quadras montadas com rede protetoras, gramado sintético em uma delas, e várias arquibancadas para os torcedores, bastante animados. Bandeiras coloridas estão pregadas no topo das arquibancadas. Com direito a torcida organizada, os jovens gritam e comemoram os gols, mesmo que sejam de outro país. Os sul-africanos levantam uma bandeira da Argentina e torcem, explicando que há muita empatia entre os times. "Nós torcemos por eles, e eles torcem pela gente, é assim que funciona", explica Cody Leibrandt, de 17 anos, capitão da equipe sul-africana.

As delegações chegaram no dia 1º de julho e passaram os últimos dias em atividades de integração e conhecendo São Paulo. No dia do jogo entre Brasil e Colômbia, os jovens foram até a comunidade de Heliópolis para ver a partida no telão. Nesta terça, vão assistir ao jogo do Brasil e Argentina no bairro do Butantã, explica o argentino Fabian Ferraro, ex-jogador, organizador do Mundial e criador da filosofia do Fútbol Callejero, ou Futebol de Rua. O movimento está presente em 12 países e pretende devolver a voz aos jovens através do esporte e tratar de questões como violência, discriminação e exclusão.

Nós torcemos por eles, e eles torcem pela gente, é assim que funciona" Cody Leibrandt, de 17 anos, capitão da equipe sul-africana

As regras da competição são diferentes do futebol tradicional. Para começar, os times são mistos. Segundo Keila Perez, 15 anos, jogadora do Panamá, as meninas e meninos são tratados igualmente, sem distinções de gênero. "Dentro de campo somos todos iguais", conta a estudante que joga futebol, sua maior paixão. Para vir ao Brasil conta que foi selecionada pela Fulespa, uma organização que atua na região em que vive e que escolheu os melhores jogadores entre os times locais. Sobre a competição, ela afirma: "É emocionante jogar aqui e poder compartilhar esse momento com pessoas de todos os lugares, com culturas diferentes da minha".

Cada partida é dividida em três momentos: no primeiro, os times se reúnem no centro do campo para decidir as regras. Eles sentam-se misturados, sem distinção de equipe, e juntos devem escolher o que vale e o que não vale na partida. No segundo tempo é hora de jogar. No terceiro e último momento, eles se reúnem novamente para decidir qual o time que mais respeitou as regras decididas anteriormente. Assim, pode ser que a equipe que fez mais gols durante a partida não seja a vencedora.

O movimento está presente em 12 países e pretende devolver a voz aos jovens através do esporte e tratar de questões como violência, discriminação e exclusão

Cody Leibrandt, o capitão do time sul-africano, diz que o mais legal de tudo é que todos são amigos e jogam de forma justa. "É um momento para socializar com os outros países e todos se respeitam", conta. "Acho ótimo que o Brasil esteja sediando o evento, porque não teríamos estrutura para isso na África do Sul, não para ser como aqui", explica ele, que além de futebol, joga hóquei, tênis, pratica natação e atletismo. Na comunidade em que mora costuma juntar as crianças para praticar esportes e vê isso como uma maneira de ajudá-los. Ele e o resto da delegação estão hospedados na região da Brasilândia, que os acolheu com muito carinho. "Eles não têm muito, mas querem nos dar tudo o que têm. Para a maioria de nós, é um lugar parecido com a nossa casa".

A ação educativa se estende para além das quadras. As delegações estão hospedadas em seis Centros de Educação Unificados (CEUS), localizados na periferia paulistana. Os jovens interagem com a comunidade e conhecem mais sobre o lugar, além de promover debates sobre temas como desigualdade, exclusão e violência, de forma que cada jovem possa expor seu ponto de vista e opinar, assim como acontece na hora de escolher as regras de cada partida.

O primeiro campeonato foi feito em 2006, na Alemanha, e o segundo em 2010, na África do Sul. As duas primeiras competições contaram com apoio da FIFA. O evento brasileiro é independente e conta com apoio de vários parceiros, entre eles a ONG Ação Educativa e a Prefeitura de São Paulo.

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