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Suspense total

O Brasil não dorme e a Colômbia está em ebulição no confronto das quartas-de-final

José Sámano
A torcida brasileira, durante a partida com o Chile.
A torcida brasileira, durante a partida com o Chile.Bruno Magalhaes (AP)

Em uma Copa sem avareza, na qual quase nenhuma seleção recusou a bola, depois das paixões das oitavas, com partidas palpitantes a cada jornada, vislumbra-se uma programação de quartas de final ainda mais emotiva. Tinha de ser no Brasil, nirvana do futebol, onde esse jogo recuperaria seu apogeu, com a bola como objeto de desejo, não como um artefato, com as metas sempre à vista, sem rendições antecipadas, com um encontro depois de outro em uma roda viva, impossíveis de prever até o final. Oito seleções penaram muitíssimo até chegar às portas das semifinais. Pelo menos uma vez, os goleiros não são um só e pegam todas. Em um país que sempre usou melhor os pés que as mãos, esta Copa de goleiros iluminados se transforma em uma homenagem ao pobre Barbosa, aquele brasileiro proscrito por toda a eternidade depois do Maracanazo. Este Mundial serve até para ser compassivo com um morto, embora já assim estivesse em vida.

A festa das quartas dá a largada com um evocador duelo europeu. A Alemanha de hoje já não se impõe dessa maneira e agora dá um bom trato à bola com esse futebol tertúlia que tenta prevalecer com base em um grupo seleto de meio-campistas. Mas, a não ser em seu duelo com Portugal, condicionado pela expulsão de Pepe, nenhum rival lhe permitiu uma trajetória certeira. Löw quis tirar o drama do fato de sete de seus jogadores estarem padecendo de uma processo gripal leve.

Na sequência da extraordinária partida franco-alemã, o primeiro grande confronto individual do torneio: Neymar-James. O Brasil será de novo um país deserto, no qual nem os fantasmas respiram quando a Canarinha joga. E ainda mais agora, com a angústia de uma equipe que já deu uma passada no inferno. O Brasil precisa de uma atuação convincente para dar um reset, para resgatar o otimismo com o qual entrou no campeonato. Hoje, as dúvidas aumentam a pressão e a seleção e sua torcida estão em estado de alarme, com pânico diante de um ultraje ainda maior do que o de 1950. Scolari tem rompantes popularescos enquanto avalia fazer um ajuste em seu quadro nebuloso, colocar o improdutivo Fred no banco e deixar que Neymar seja o último corneteiro no ataque.

O grupo do argentino José Pékerman definiu a música da Copa, com seu futebol vivaz e desinibido. Os colombianos dão a sensação de estarem felizes por jogar, porque sim, sem complexos. À frente de todos, James (nome de pronúncia espanhola), com cara de beato, mas um travesso de primeira, a figura emergente deste Mundial. Habilidoso, técnico, com pausa para articular o jogo quando convém e um sabujo quando ataca as metas rivais. Tem gols de autor, como sua deliciosa manobra no tento que rasgou de cima abaixo o Uruguai. Ao mesmo tempo, a cabeça e o corpo de forma sincronizada: uma olhadela de costas à meta rival, o ápice do esforço, um controle amortecido e enquanto o corpo girava o gol já tinha sua hora. Mas a Colômbia não é só James. Sobre ele gravitam estupendos jogadores como Jackson Martínez e, por cima, Cuadrado, em si mesmo um repertório futebolístico. Ativo, felino, contundente, descarado. Um todo em um. Um mais e são muitos os estímulos dessas quartas.

Um duelo ao sol entre Neymar e James. Treme o Brasil e vibra a Colômbia. Suspense total.

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