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O Monty Python se rasga em cena

A volta do grupo ao palco após quase três décadas de hiato propõe um ‘revival’ de velhos sucessos

Terry Gilliam estripando-se em ‘Monty Python Live (Mostly)’.
Terry Gilliam estripando-se em ‘Monty Python Live (Mostly)’.Dave J. Hogan (GETTY)

A volta do Monty Python ao palco, após quase três décadas de hiato, foi o que tinha que ser, graças ao entusiasmo e incondicional rendição dos fãs que abarrotaram ontem à noite um recinto de 14.500 lugares. E pouco além disso. Quem esperava um renovado brilho de genialidade por parte dos cinco comediantes topou com um mero revival de seus antigos marcos – maravilhosos, claro, mas sem o elixir do “novo material” anunciado pelos cinco artistas, todos eles hoje septuagenários. O espetáculo na verdade representou uma celebração de um grupo que marcou um antes e um depois na arte de fazer humor. Despedida, e um ponto final.

Para os que não puderam se permitir a viagem a Londres para ver o quinteto, haverá um plano alternativo. O novo espetáculo do Monthy Python poderá ser visto em salas de cinema em outros países. Mais informações sobre a apresentação poderão ser obtidas pelo www.montypythonlive.com.

A aclamação com que o público recebeu o Python quando John Cleese, Terry Gilliam, Eric Vades, Terry Jones e Michael Palin surgiram em um auditório transtornado em cenário de cabaré já anunciava carta branca para eles. O que se seguiu foi uma série dos conhecidos esquetes que, no final dos anos sessenta, transformou esses artistas em grandes inovadores da comédia, com um humor surrealista e irreverente para o establishment da época, e interpretados por seus protagonistas de antigamente, num mero decalque das glórias do passado. A cena do pub (“Cotovelada, cotovelada”) em que se brinca com o duplo sentido procurando implicações sexuais, a “louca entrevista de emprego”, que utiliza o absurdo como dardo contra as misérias da vida trabalhista, a irrupção da “Inquisição espanhola” nas salinhas da classe média inglesa, as paródias da Igreja e dos militares…

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Definitivamente lá estava o melhor do antigo repertório, ovacionado em cada uma das piadas por espectadores que se divertiram muito e celebraram especialmente a reprodução de algumas das gravações originais do legendário programa Flying Circus, da BBC. E que permitiram recuperar a lembrança de Graham Chapman, o sexto Python, falecido em 1989. Um olhar crítico observaria que a comparação entre o ontem e o hoje, além de não somar inteiros, salientou a falta de um frescor que a passagem dos anos apagou. O particular universo visual de Terry Gilliam, suas agitadas e geniais animações projetadas na tela, balizaram os sucessivos números de um espetáculo que a maioria acompanhou através de telas colocadas em ambos os lados de um palco muito grande para a ação que transcorria sobre ele. Cerca de 20 jovens bailarinos preencheram o espaço ao longo da sessão com uma sucessão de números musicais destinados a transformar em espetáculo teatral algo que na verdade seria uma atração mais propícia ao formato televisivo, aos primeiros planos dos astros.

As novidades prometidas pelos Python foram poucas e se resumiram a um hilariante duelo dialético entre o Papa (Cleese) e Michelangelo (Vades), junto a uma breve participação do popular ator Stephen Fry e à projeção de um clipe que teve como protagonista estelar o cientista Stephen Hawking. Curto e muito divertido. Mas possivelmente o momento mais marcante da noite, aquele em que os cinco comediantes recuperaram a melhor forma, foi na fusão dos celebrados esquetes da loja de queijos e do papagaio morto, ambos fartamente conhecidos do público, que os esperava apesar de já conhecê-los de cor. Esse foi o verdadeiro leifmotiv da sessão, recuperar por uma noite a antiga diversão que sucessivas gerações de britânicos procuraram no Python. “Olhe sempre o lado brilhante da vida”, cantaram os cinco comediantes e os espectadores em uníssono, no brevíssimo bis que todos esperavam de antemão para rememorar famosíssima cena final do filme A Vida de Brian.

O circo não voou ontem à noite pela última vez, porque ainda restam outras nove apresentações ao longo deste mês de julho. Um número calculado (mais provavelmente não seria aconselhável) para esgotar definitivamente o filão. Foram os maiores, e por isso inclusive o crítico mais resistente resistirá a censurar aqueles que são hoje considerados um tesouro nacional. Mas até eles mesmos aceitam que chegou a hora da aposentadoria definitiva, não sem antes, claro, passar pelo caixa.

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