O Monty Python se rasga em cena
A volta do grupo ao palco após quase três décadas de hiato propõe um ‘revival’ de velhos sucessos
A volta do Monty Python ao palco, após quase três décadas de hiato, foi o que tinha que ser, graças ao entusiasmo e incondicional rendição dos fãs que abarrotaram ontem à noite um recinto de 14.500 lugares. E pouco além disso. Quem esperava um renovado brilho de genialidade por parte dos cinco comediantes topou com um mero revival de seus antigos marcos – maravilhosos, claro, mas sem o elixir do “novo material” anunciado pelos cinco artistas, todos eles hoje septuagenários. O espetáculo na verdade representou uma celebração de um grupo que marcou um antes e um depois na arte de fazer humor. Despedida, e um ponto final.
Para os que não puderam se permitir a viagem a Londres para ver o quinteto, haverá um plano alternativo. O novo espetáculo do Monthy Python poderá ser visto em salas de cinema em outros países. Mais informações sobre a apresentação poderão ser obtidas pelo www.montypythonlive.com.
A aclamação com que o público recebeu o Python quando John Cleese, Terry Gilliam, Eric Vades, Terry Jones e Michael Palin surgiram em um auditório transtornado em cenário de cabaré já anunciava carta branca para eles. O que se seguiu foi uma série dos conhecidos esquetes que, no final dos anos sessenta, transformou esses artistas em grandes inovadores da comédia, com um humor surrealista e irreverente para o establishment da época, e interpretados por seus protagonistas de antigamente, num mero decalque das glórias do passado. A cena do pub (“Cotovelada, cotovelada”) em que se brinca com o duplo sentido procurando implicações sexuais, a “louca entrevista de emprego”, que utiliza o absurdo como dardo contra as misérias da vida trabalhista, a irrupção da “Inquisição espanhola” nas salinhas da classe média inglesa, as paródias da Igreja e dos militares…
Definitivamente lá estava o melhor do antigo repertório, ovacionado em cada uma das piadas por espectadores que se divertiram muito e celebraram especialmente a reprodução de algumas das gravações originais do legendário programa Flying Circus, da BBC. E que permitiram recuperar a lembrança de Graham Chapman, o sexto Python, falecido em 1989. Um olhar crítico observaria que a comparação entre o ontem e o hoje, além de não somar inteiros, salientou a falta de um frescor que a passagem dos anos apagou. O particular universo visual de Terry Gilliam, suas agitadas e geniais animações projetadas na tela, balizaram os sucessivos números de um espetáculo que a maioria acompanhou através de telas colocadas em ambos os lados de um palco muito grande para a ação que transcorria sobre ele. Cerca de 20 jovens bailarinos preencheram o espaço ao longo da sessão com uma sucessão de números musicais destinados a transformar em espetáculo teatral algo que na verdade seria uma atração mais propícia ao formato televisivo, aos primeiros planos dos astros.
As novidades prometidas pelos Python foram poucas e se resumiram a um hilariante duelo dialético entre o Papa (Cleese) e Michelangelo (Vades), junto a uma breve participação do popular ator Stephen Fry e à projeção de um clipe que teve como protagonista estelar o cientista Stephen Hawking. Curto e muito divertido. Mas possivelmente o momento mais marcante da noite, aquele em que os cinco comediantes recuperaram a melhor forma, foi na fusão dos celebrados esquetes da loja de queijos e do papagaio morto, ambos fartamente conhecidos do público, que os esperava apesar de já conhecê-los de cor. Esse foi o verdadeiro leifmotiv da sessão, recuperar por uma noite a antiga diversão que sucessivas gerações de britânicos procuraram no Python. “Olhe sempre o lado brilhante da vida”, cantaram os cinco comediantes e os espectadores em uníssono, no brevíssimo bis que todos esperavam de antemão para rememorar famosíssima cena final do filme A Vida de Brian.
O circo não voou ontem à noite pela última vez, porque ainda restam outras nove apresentações ao longo deste mês de julho. Um número calculado (mais provavelmente não seria aconselhável) para esgotar definitivamente o filão. Foram os maiores, e por isso inclusive o crítico mais resistente resistirá a censurar aqueles que são hoje considerados um tesouro nacional. Mas até eles mesmos aceitam que chegou a hora da aposentadoria definitiva, não sem antes, claro, passar pelo caixa.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.