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Os rebeldes tomam um posto fronteiriço e unem a Síria ao Iraque

Os jihadistas rivais da Al Nusra e do Estado Islâmico do Iraque e Levante se enfrentam

Á. E.

Os insurgentes sunitas que há 10 dias conquistaram zonas do norte do Iraque tomaram ontem um dos três postos fronteiriços entre este país e a Síria. Mas este êxito ficou eclipsado pelas primeiras notícias de combates entre eles, um amálgama de grupos com interesses diversos os quais somente unem sua oposição contra os xiitas controlarem o Governo de Bagdá. Os enfrentamentos ocorreram em Hawija, a 50 quilômetros a oeste de Kirkuk.

De madrugada, os milicianos do Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL) tomaram o posto fronteiriço de Al Qaim. O acontecimento, de grande simbolismo para sua luta, marca para eles a supressão da fronteira traçada pelas potências coloniais em 1916. Seria o primeiro passo para estabelecer o califado islâmico ao qual aspiram. Mas, sobretudo, lhes dá acesso direto a província de Deir Ezzor, que quase controlam e onde ontem foram bombardeados pela aviação síria, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Gráfico (em espanhol) da presença jihadista do Estado Islâmico do Iraque e Levante, no Iraque e na Síria. Fonte: Institute for the Study of War e a BBC.
Gráfico (em espanhol) da presença jihadista do Estado Islâmico do Iraque e Levante, no Iraque e na Síria. Fonte: Institute for the Study of War e a BBC.EL PAÍS

Ao que parece, primeiro tomaram na sexta a cidade vizinha de Al Qaim, de onde desalojaram as forças de segurança, segundo fontes cidadãs entrevistadas pela Reuters. Não se tem mais notícias de seu avanço, os guardas da fronteira deixaram seus postos e os homens do EIIL o ocuparam sem necessidade de combater. Entretanto, numerosas famílias desta localidade se uniram aos cerca de um milhão de iraquianos deslocados pela violência.

Os dois lados da fronteira síria-iraquiana na altura deste posto já haviam sido tomados na semana passada pelos rebeldes sírios do Exército Sírio Livre (ESL) e da Frente al Nusra (o ramo da Al Qaeda na Síria). Mas, de acordo com a agência France Presse, se retiraram do lado iraquiano durante a noite. Al Nusra e o EIIL estão se enfrentando na Síria e ocorreram combates em algumas zonas, mas também mantiveram tréguas aonde lhes convém.

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Mas da mesma forma que no país vizinho, o EIIL começa a ter atritos com seus aliados de combate no Iraque. De acordo com testemunhas citadas pelas agências, seus milicianos enfrentaram na noite de sexta em Hawija membros do Exército da Ordem de Naqshbandi, uma milícia fundada por Izzat al Duri, que foi o número dois de Saddam Hussein, que agrupa ex militares e pessoas leais ao falecido ditador. No combate morreram entre 15 e 17 pessoas, segundo as fontes.

É a primeira vez que se tem notícias de enfrentamentos entre os insurgentes dentro do Iraque, mas a informação não causou surpresa aos observadores. Em sua marcha pelo norte do Iraque, o EIIL contou com o apoio de uma dúzia de organizações, entre as quais se destacam a Ansar al Islam, o Conselho Militar das Tribos (que agrupa cerca de 80 tribos sunitas), além da já citada Naqshbandi.

Não é casual que o incidente tenha ocorrido em Hawija. Em abril de 2013 esta cidade foi cenário de uma manifestação pelos direitos dos sunitas que, em retrospectiva, foi um precedente do que ocorre agora. Quando as forças de segurança abriram fogo contra o acampamento dos manifestantes e mataram dezenas de pessoas, os Naqshbandi lideraram a sublevação. “Hawija está se desintegrando”, declarou para a Reuters um notável tribal desta localidade dias atrás.

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