Investimento baixo pesa no fraco desempenho da economia
Incertezas políticas de um ano eleitoral e ajustes no setor automobilístico adiam projetos das empresas, avaliam especialistas
A trajetória de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre destacou um forte recuo nos investimentos. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede o investimento nos setores da construção e de máquinas e equipamentos, entre outros, e que serve como termômetro para a aplicação de recursos em bens de capital, caiu 2,1% no primeiro trimestre deste ano em relação aos últimos três meses de 2013.
Essa perda nos investimentos foi ainda a maior desde o primeiro trimestre de 2012, quando foi registrada uma baixa de 2,2%. Dessa forma, também se acentua uma trajetória de queda observada para a relação entre a taxa de investimento e o PIB desde o primeiro trimestre de 2011. Agora, o indicador chegou a 17,7%, abaixo dos 18,2% registrados nos primeiros três meses de 2013. O Brasil continua, assim, entre os países que menos investem na América Latina.
A relação entre a medida que reflete o uso de capital em meios de produção (a taxa de investimento) e a soma de todas as riquezas produzidas no país (PIB) serve como um instrumento crucial para as ambições de uma expansão sustentável no longo prazo. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) brasileira, por exemplo, os 17,7% estão “muito distantes do nível desejável para se alcançar um ritmo de crescimento contínuo e vigoroso da economia”.
Segundo os especialistas ouvidos pelo EL PAÍS, o movimento atual pode ser atribuído principalmente a dois fatores: primeiro, a ajustes na produção do setor automobilístico, e em segundo plano, às incertezas políticas em um ano de eleições presidenciais no Brasil, e que prometem ter na política econômica um dos principais pilares do debate, após a expansão de 0,2% do PIB anunciada nesta sexta-feira.
"Esse comportamento dos investimentos é explicado essencialmente pelo ajuste na produção de caminhões e bens de capital, após elevado grau de antecipação ao fim dos incentivos fiscais ao setor observado no final de 2013", avalia o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.
A fim de estimular a atividade do setor automobilístico, o governo brasileiro adotou uma série de estímulos fiscais ao setor nos últimos anos, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ou aumento de impostos às importações.
Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), destaca também, por sua vez, o momento de incerteza política. "A decisão de segurar e postergar os investimentos pode estar associada a esse momento", avalia.
"Com o resultado do PIB, a oposição ganha motivos para criticar a atual política econômica. Isso pode levar a uma campanha mais agressiva por parte dos adversários do governo", acrescentou.
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