A 16 dias da Copa, a FIFA entra em campo para acelerar ajustes nos estádios
A entidade intensifica a etapa de construção de estruturas complementares, que incluem segurança, centros de imprensa e manejo nos gramados das 12 arenas que sediarão o Mundial
Faltando 16 dias para o início da Copa do Mundo no Brasil, não há mais dúvidas de que todas as arenas sediarão os jogos do torneio. Com os 12 estádios sob o controle da FIFA desde a semana passada, mesmo os que não foram entregues à entidade com as obras 100% concluídas estão muito perto disso. Mas também é certo que ainda há mais trabalho pela frente a fim de se evitar que os atrasos nas construções em alguns palcos cobrem algum preço na reta final de preparação, quando os organizadores intensificam as tarefas de manutenção e de montagem das chamadas “estruturas complementares” –áreas de segurança e imprensa, por exemplo.
O cronograma de entrega dessas estruturas prevê, até o fim deste mês, as instalações dos centros de transmissão e de tecnologia da informação, além das áreas destinadas a credenciamento e voluntários, entre outras. A estimativa é de que, no início de junho, sejam montados os centros de imprensa, plataformas de câmeras, estúdios de TV, zona mista, salas de coletivas e áreas médicas e de segurança complementares. Na sequência, os projetos tomam forma com a instalação de detectores de metais, placas de sinalização e decoração.
A Arena Corinthians (Itaquerão), em São Paulo, que será a primeira a ser utilizada na Copa, é justamente a que tem demandado maior atenção. O palco do jogo de abertura entre Brasil e Croácia, no próximo dia 12, levou a FIFA a quebrar o protocolo e anunciar a realização de um jogo teste no seu período de exclusividade no controle das arenas, que seguirá até julho. No próximo dia 1º, o Corinthians, dono do estádio, enfrentará ali o carioca Botafogo, em um jogo do Campeonato Brasileiro que teve o mando invertido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com esse propósito –no segundo turno, ambos se enfrentarão no Rio.
Para o jogo teste anterior no Itaquerão, a primeira partida oficial realizada no estádio recém-construído só foi liberada a entrada de menos de 40.000 torcedores, sem a utilização das arquibancadas provisórias que elevam a capacidade do local em 20.000 lugares. A ideia agora é testar de forma mais ampla, além dos novos espaços para a acomodação do público, o acesso e o deslocamento dos torcedores. “Para nós é vital que todas as instalações sejam testadas em condições totais de jogo: assentos temporários e instalações adjacentes”, resumiu o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, via Twitter, ao anunciar o novo jogo teste.
O impacto no gramado provocado pela disputa de uma partida oficial mais perto da abertura do Mundial não preocupa, no entanto, o Comitê Organizador Local (COL) da Copa, órgão privado ligado à FIFA. “Os 11 dias de intervalo entre o evento-teste deste domingo e o jogo de abertura são suficientes para a recuperação do campo”, afirma. No período de exclusividade da FIFA, que abrange não apenas os 12 estádios sedes como também os 24 Campos Oficiais de Treinamento (COTs), o manejo do gramado é assumido por técnicos agrícolas da entidade.
Dos 12 estádios escolhidos para sediar o Mundial –a FIFA nunca escondeu sua preferência por oito, no máximo, dez cidades-sedes, em um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados–, apenas a metade cumpriu o prazo final de entrega para o Mundial, em 31 de dezembro do ano passado. Foram justamente os seis que já haviam sediado partidas da Copa das Confederações, em 2013: o Maracanã, no Rio de Janeiro; o Mineirão, em Belo Horizonte (Sudeste); o Estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha); a Arena Pernambuco, em Recife (Nordeste); o Castelão, em Fortaleza (Nordeste); e a Fonte Nova, em Salvador (Nordeste).
Entre os estádios restantes, além da Arena Corinthians, a situação da Arena da Baixada, em Curitiba (Sul), chegou a assumir contornos de desespero já neste ano. O estádio, que também foi entregue à FIFA na semana passada perto da conclusão total de suas obras e à espera dos ajustes finais, teve a sua participação no Mundial colocada em xeque, mas um novo financiamento e a aceleração das obras com mais operários minimizaram esse risco.
Com exceção da Arena das Dunas, em Natal (Nordeste), inaugurada em janeiro, também trouxeram fortes dores de cabeça aos organizadores do Mundial a Arena Pantanal, em Cuiabá (Centro-Oeste), que teve problemas com a saída de uma construtora e atrasos na aquisição de assentos; a Arena Beira-Rio, em Porto Alegre (Sul), que enfrentou uma greve de operários que pediam reajuste salarial; e a Arena Amazônia, em Manaus (Norte), cujo ritmo acabou prejudicado pela morte de quatro operários no perímetro das obras da Copa na cidade.
Em entrevista ao EL PAÍS em novembro do ano passado, o diretor-executivo do COL da Copa, Ricardo Trade, destacou a importância de as arenas estarem concluídas até o último dia de 2013. “Assim, teremos tempo para realizar eventos-teste para que a operação durante a Copa do Mundo seja como os torcedores, as delegações e a imprensa merecem”, disse.
Nesta segunda-feira, o próprio COL ratificou em novo contato por e-mail que, “embora comitê e a FIFA sempre reiterem a importância da entrega dos estádios seis meses antes dos eventos, para que mais testes sejam realizados, temos confiança de que os desafios serão superados por meio do trabalho conjunto e colaborativo (...), garantindo que a operação da Copa do Mundo da FIFA ocorra sem transtornos para o público, as seleções e a imprensa.”
Além dos atrasos em parte de suas obras, as arenas também estiveram cercadas de polêmica ao longo de todo o período de preparação para o Mundial por conta das mortes de operários –nove, no total–, dos gastos excessivos para a sua viabilização e dos questionamentos em relação à utilização de alguns desses palcos após o torneio. Foram desembolsados mais de 8 bilhões de reais (3,6 bilhões de dólares) até agora nos trabalhos de construção ou reforma dos estádios, número superior ao registrado nas duas últimas edições das Copas, na Alemanha e na África do Sul. Em 2010, a estimativa era de 5,4 bilhões de reais (2,4 bilhões de dólares).
Os valores têm sido questionados em manifestações pelo país que reivindicam a mesma atenção a áreas carentes como moradia, saúde e educação. As obras de reforma e ampliação da arena de Brasília, que detêm o maior orçamento (1,4 bilhão de reais, ou 630 milhões de dólares), por exemplo, também ocorrem em uma região que não possui clubes na primeira divisão ou com tradição no futebol brasileiro. A situação é a mesma em Manaus e Cuiabá.
Mas o fato é que falta pouco para a bola rolar na Copa do Mundo no Brasil. E que, pelo menos no caso do futebol das 32 seleções participantes, já não há dúvidas de que haverá gramado para que a bola role.
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