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Um professor protagoniza a surpresa eleitoral na Espanha

Pablo Iglesias aplicou seus estudos de comunicação à ação política

Luis Gómez
O professor universitário Pablo Iglesias.
O professor universitário Pablo Iglesias.Samuel Sánchez

Poderia ser dito que Pablo Iglesias Turrión (35 anos) é de esquerda antes mesmo de nascer se você escutar a sua mãe María Luisa: “Meu filho foi criado da melhor maneira possível de frente à sua classe, seu povo, sua gente e sua pátria”. Dito isto, a conjunção de nome e sobrenome também não é casual: chama-se Pablo Iglesias, em homenagem ao fundador do socialismo espanhol. “Exatamente”, diz María Luisa, “como se alguém se chamasse Manuel e levasse o sobrenome Rodríguez, simplesmente por uma homenagem ao revolucionário chileno da letra de Mercedes Sosa”. E, se ainda restar alguma dúvida, María Luisa é capaz de destrinchar a árvore genealógica familiar “onde há lutadores em pró da classe operária desde o século XIX”, e menciona deputados, condenados a morte por ideias políticas, juízes e militares republicanos. Nesse ambiente de alta voltagem política nasceu, cresceu e foi criado Pablo.

“E além disso, em Vallecas” (um bairro proletário de Madri), sentencia sua mãe, advogada trabalhista.

Seu currículo desenha uma biografia clara em uma só direção, para a esquerda: filho único, bom estudante, iniciou a militância aos 14 anos na Juventude Comunista, que depois compartilhou com seus estudos universitários em Ciências Políticas, onde obteve licenciaturas e doutorados com um trajeto pela Itália, Suíça, México e Estados Unidos que o levou a participar de movimentos antiglobalização e de resistência civil. Uma versão reduzida de sua tese de doutorado se intitula Desobedientes, ele estuda o fenômeno zapatista, escreve sobre cinema e política, participa e funda associações como a Juventude sem Futuro, Promotora do Pensamento Crítico, Associação contra o poder… Com esses antecedentes e essa trajetória (sua parceira é uma deputada da IU  - Esquerda Unida -  na assembleia de Madri), Pablo Iglesias poderia ter sido um teórico da esquerda, um professor de barba e traje de veludo cotelê, destinado a se mover em círculos acadêmicos. Definitivamente um homem afastado da rua.

No entanto, terminou por ser um especialista em comunicação política, um personagem midiático e, desde o domingo, um político com sucesso (1.240.000 votos e cinco deputados em um partido de quatro meses de idade). Sem ser um homem de simpatia arrojada, conseguiu se ligar a um público numeroso. Mas quem pensar que Iglesias é um produto convencional da televisão, pode estar equivocado.

Porque a sua relação com a TV não é um fato casual. É intencionado e estratégico. “Trabalhamos para experimentar na comunicação política a partir do principal espaço de socialização política que é a televisão”, explica. “Tudo o que aprendia na La Tuerka (programa que ele apresenta em um canal espanhol) aplicamos na televisão”. La Tuerka é um programa de televisão, assim como o Fort Apache, programas que Pablo Iglesias e seus colaboradores (professores e alunos de Política na Universidade Complutense) divulgam pela internet ou de canais de TDT como o Canal K e o Canal 33. Nesses espaços de audiências aparentemente marginais, Iglesias se formou como apresentador, como entrevistador e como homem da televisão. Um homem que denuncia, é verdade, mas treinado para falar cara a cara com a audiência. E com uma mensagem sem fissuras. Seu salto para a televisão generalista foi um sucesso desde o princípio: podia se envolver, podia debater, funcionava diante à câmera, podia se meter em programas de ideologia oposta, mas jamais perdia a compostura: um homem de ideias radicais com luvas de seda.

A televisão e as redes sociais fizeram o resto, deu rosto e olhos a uma voz da esquerda, a um homem tranquilo com uma mensagem dura, dirigido aos deserdados, às vítimas da crise econômica e às classes médias que têm empobrecido. Iglesias se expressa sem rodeios, chama de casta os políticos dos grandes partidos, denomina de “regime do 78” a transição, lembra aos avós que defenderam a República há 80 anos e critica aos “milionários com pulseiras com cores da bandeira da Espanha" (usadas pelos conservadores). E quando fala para a sua militância na rua, pede um aplauso para os membros das forças de segurança “que estão desejando receber a ordem de algemar um banqueiro corrupto”. Em seus comícios entoa o “Não passarão” e velhas canções da guerra civil. Há um aroma de esquerda profunda, de comunismo renascido, de velhas proclamações e punhos levantados. Mas Iglesias não levanta o punho, Iglesias aplaude seu público.

As acusações de supostos financiamentos procedentes da Venezuela e Irã não estragam o ápice de sua campanha. Iglesias não se esconde delas: ameaça com discórdia sem se exaltar. Mão de ferro, luva de seda.

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