Menino-placa vende apartamento
A foto de um jovem-anúncio nas ruas de São Paulo causa comoção nas redes sociais
O homem de papelão sorri muito satisfeito anunciando apartamentos de um e dois dormitórios. O homem (negro) por trás do homem (branco) é jovem e tem os olhos sérios. A imagem de uma criança-anúncio corre como pólvora pelas redes sociais do Brasil e, em um país que enfrenta diariamente o dilema do racismo e da desigualdade, é um paradoxo tão perfeito que parece farsa. Mas o autor, César Hernandes, assegura que ocorreu neste último sábado no Brooklin, um bairro de classe alta de São Paulo.
Os homens-placas, mulheres-placas, crianças-placas e idosos-placas de cidades como esta costumam ganhar cerca de 40 reais por dia para aguentar oito ou nove horas de calor, frio e poluição em ruas movimentadas de São Paulo. Muitos asseguram não ter contrato nem plano de saúde. Fontes da Prefeitura consultadas por EL PAÍS afirmam que é uma prática ilegal. Mas as empresas (construtoras e imobiliárias, geralmente) continuam recorrendo em massa a ela desde que, em 2012, a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana do município limitou a publicidade de rua com base nas regras da Lei Cidade Limpa, em vigor desde 2007.
A imobiliária BKO, por exemplo, já desistiu de usar os homens-placas porque considera a prática “desumana”, diz Daniela Khzouz , do departamento de marketing. “Descobrimos que pagávamos uma quantidade à agência de promoção e que ela dava uma décima parte a essas pessoas (…) Trabalhavam sob sol, chuva, frio, sem poder sequer ir ao banheiro, sem comida”, conta. Iniciaram então a campanha Pelo bem do homem-seta, em 2013. Os internautas podiam marcar em um mapa onde viam alguém exercendo esse tipo de trabalho. Eles, em colaboração com uma ONG, ofereciam cursos de manicure, administração... E quanto maior a participação das pessoas no mapa, mais fundos eram doados para a formação. Nenhum dos homens-placas se inscreveu nos cursos e eles ainda buscam a fórmula para que o projeto funcione. Agora, anunciam em plataformas como o Waze, um aplicativo usado para evitar o trânsito nas cidades.
Os homens-anúncios são a consequência humana de um problema macro. O boom imobiliário do Brasil os empurrou para a rua. O projeto Pessoa, coisa. Cidade, torre, dos jornalistas Paula Sacchetta e Pedrão Nogueira e do fotógrafo Peu Robles, financiado através de ‘crowdfunding’, os retrata para contar, através de suas nove horas de sustentação de setas, como e para quem está crescendo São Paulo. “Quem são os personagens, ruínas e destroços desse processo da cidade-velha-mas-nem-tanto que se destrói para se “revitalizar”, “humanizar”, “colorir”, “ficar sustentável”, “conectada” e “moderna?”, perguntam-se os autores. A criança, de quem continuamos sem saber o nome ou a idade, se esconde atrás da publicidade de imóveis de “arquitetura exclusiva e decoração única” e nos encara.
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