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A Turquia prende 25 pessoas pela explosão que matou 301 mineiros

Entre os presos estão vários altos cargos da empresa que administra o complexo mineiro de Soma

Familiares e amigos dos mortos na explosão da mina rezam durante o enterro das vítimas em Soma, Turquia.
Familiares e amigos dos mortos na explosão da mina rezam durante o enterro das vítimas em Soma, Turquia.Oli Scarff (Getty Images)

As autoridades turcas prenderam 25 pessoas durante a investigação da tragédia na mina de carvão de Soma, onde uma explosão provocou a morte de 301 pessoas. “25 pessoas foram presas como suspeitas e cinco suspeitos estão sendo interrogandos ”, anunciou neste sábado em um comunicado citado pelos meios locais Abdurrahman Savas, o governador da província de Manisa, onde se encontra a localidade de Soma

Entre os detentos, se encontram pessoas de altos cargos da Soma Holding, a companhia que administra a mina, incluindo a Ramazan Dogru, o diretor de operações, e a Akin Celik, o engenheiro chefe.

Celik e outros responsáveis pela mina fugiram de qualquer responsabilidade durante uma coletiva de imprensa na sexta-feira passada. Eles qualificaram o ocorrido como um acidente, do qual disseram desconhecer a causa exata, e asseguraram que a mina cumpria com as medidas de segurança requeridas pela lei.

Um relatório preliminar sobre a explosão, citado pelo diário turco Milliyet, apontou várias falhas nos sistemas de segurança, como um número insuficiente de detectores de monóxido de carbono e tetos construídos com madeira invés de metal.

O Governo anunciou uma investigação sobre a tragédia e durante a semana, o ministro de Energia, Taner Yildiz, fez questão de dizer que a justiça seria feita. “Se os responsáveis forem encontrados, não haverá nenhuma tolerância, independentemente se forem do setor público ou privado”, disse Yildiz.

Seus críticos acusaram o Governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan de ceder o gerenciamento de minas, que antes estatais, para empresas próximas ao poder, para pessoas que supostamente dariam mais prioridade aos benefícios econômicos do que à segurança dos trabalhadores.

As autoridades também não assumiram nenhuma responsabilidade e um dirigente do governante Partido para a Justiça e Desenvolvimento (AKP, em turco) assegurou que a mina tinha passado por 11 inspeções desde 2009.

A verdade é que a Turquia tem um histórico ruim de acidentes de trabalho e, de fato, ocupa o terceiro pior posto do mundo em número de acidentes trabalhistas per capita, segundo um relatório de 2012 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Não é um país signatário da Convenção sobre a Segurança e a Saúde nas Minas da OIT, e entre 1991 e 2008 mais de 2.500 mineiros morreram e mais de 13.000 ficaram incapacitados em acidentes e por doenças relacionadas ao trabalho, segundo um relatório do think tank turco TEPAV. Além disso, deputados da oposição denunciaram que, em abril, o grupo parlamentar do AKP recusou um pedido para pesquisar vários acidentes nas minas de Soma.

Durante a visita de Erdogan à mina na quarta-feira, a tensão foi máxima e o primeiro-ministro foi vaiado entre gritos que pediam sua demissão. Um de seus assessores teve que se desculpar publicamente depois da publicação de imagens que mostravam o premiê turco discutindo com um manifestante que estava sendo segurado por dois policiais. O próprio Erdogan parecia entrar em outra discussão com ao menos uma pessoa em vídeos publicados pela imprensa local.

Durante a semana, os cidadãos protestaram contra o Governo em Istambul, nas cidades de Ankara, Esmirna e na própria Soma, que foram reprimidos pela polícia com canhões de água e gás lacrimogênio. No sábado, o governador de Manisa proibiu as manifestações e, desde então, partes da cidade de Soma foram tomadas pela polícia, que estabeleceu controles nas estradas que dão acesso à localidade e à mina, segundo informações dos meios locais.

Ontem também foram presas 36 pessoas em Soma por supostamente pretender se manifestar, segundo informou a agência turca de notícias Dogan. Entre os detentos, há oito juristas da Associação de Advogados Progressistas, que, segundo alguns veículos da imprensa, viajavam para Soma para dar assistência às famílias das vítimas.

A entrada da mina está fechada, depois que os trabalhos de resgate fossem finalizados na sexta-feira, depois da retirada dos dois últimos corpos, que aumentaram o total de mortes para, segundo fontes oficiais. O último sobrevivente foi resgatado na quarta-feira. Ao todo, 787 trabalhadores estavam no interior da mina quando, na terça-feira, uma explosão provocou um incêndio que deixou centenas de mineiros soterrados.

Em um caso que, a princípio, é independente ao da explosão da mina, a Fiscalização também iniciou uma ação  contra Alp Gurkan, dono de Soma Holding, por fraude e por pertencer a uma organização criminosa. A ação pede entre seis e 18 anos de prisão, segundo o diário turco Hurriyet. Gurkan foi acusado junto a outros 16 suspeitos de participar em operações ilegais de compra de imóveis em Istambul.

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