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O homem mais rico da África

Convencido de que são os africanos os que devem desenvolver o seu continente, Aliko Dangote, “o garoto de ouro nigeriano”, faz história Vendendo açúcar, farinha, cimento e petróleo, ele já está no 'top 25' dos mais ricos do mundo

José Naranjo
Aliko Dangote, o homem mais rico da África, em imagem de 2013.
Aliko Dangote, o homem mais rico da África, em imagem de 2013.CORDON

É o homem mais rico da África, uma das cem pessoas mais influentes do mundo segundo a revista Time, e, de acordo com a Forbes, ocupa o 'top 25' do ranking dos mais ricos do mundo —na posição 24— com uma fortuna estimada em 25 bilhões de dólares (55,5 bilhões de reais). O empresário e industrial nigeriano Alhaji Aliko Dangote, de 57 anos, assentou sua extraordinária carreira na produção e distribuição de cimento, açúcar e farinha, embora nos últimos anos tenha desembarcado com força nos negócios do petróleo. Convencido do enorme potencial de seu país e firme defensor de que os próprios africanos são os que devem desenvolver o seu continente, porque ninguém o fará em seus lugares, também destina parte de seus lucros a causas nobres, como a luta contra a pólio.

Nascido em Kano, um Estado muçulmano do norte da Nigéria, em 10 de abril de 1957, no seio de uma família rica, depois de estudar Administração de Empresas na Universidade Al-Azahar do Cairo (Egito), com cerca de 20 anos se trasladou a Lagos, capital econômica nigeriana, para trabalhar junto com um tio comerciante. Recebeu na ocasião um empréstimo de seu avô, e que permitiu que criasse a sua própria empresa. Corria o ano de 1978. Em apenas seis meses já devolvia o dinheiro e a sua pequena sociedade comercial navegava forte no prumo certo. “As coisas foram muito bem rapidamente, muito melhor do que, inclusive, eu esperava”, disse em várias ocasiões o próprio Dangote.

Mas se nos primeiros anos se dedicou ao comércio de produtos locais, em 1980 deu um passo mais longo e colocou em prática a sua primeira importação de açúcar em larga escala. Desde o início, ele centrou sua atividade no mercado da alimentação: comida para crianças, farinha, arroz, peixe congelado. Comprava no exterior e vendia na Nigéria, o que gerava grandes lucros. O passo seguinte foi a criação de fábricas para o processamento da comida. E aí deu o salto para o negócio do cimento. Atualmente, a sua companhia, o Grupo Dangote, domina o mercado do açúcar e da farinha em seu país e é o maior produtor de cimento de todo o continente africano.

O seu capital foi crescendo ano após ano. Começou a ser conhecido como o “garoto de ouro” nigeriano. Não faltaram vozes no país a criticar o seu apoio explícito ao Partido Democrático Popular (PDP), que há 15 anos domina a vida política nigeriana, e sua estreita amizade com o presidente Olusegun Obasanjo (1999-2007). Sempre soube lidar bem com o poder, embora, na verdade, a principal marca de Dangote seja a sua extraordinária habilidade em tecer relações com todos os grupos econômicos, sociais e políticos do país. Muçulmano do norte, prosperou no sul cristão. Para ele, os negócios não entendiam fronteiras nem limites.

Apesar de a Nigéria ser o grande exportador de petróleo do continente, e embora tivesse certos interesses no setor, até agora ele tinha resistido à tentação de entrar com os dois pés no mundo do petróleo. “Em meu país, muita gente pensa que não pode ganhar dinheiro à margem do petróleo, mas isso é falso. O petróleo torna as pessoas preguiçosas”, assegurou o magnata em uma recente entrevista à BBC. No entanto, no ano passado, Dangote anunciou um de seus projetos mais ambiciosos: a construção da primeira grande refinaria do país, com um investimento estimado de 3,3 bilhões de dólares (7,3 bilhões de reais). A Nigéria exporta muito petróleo, mas é um dos grandes importadores de produtos petrolíferos porque não possui indústrias de transformação. Ele quer mudar esse panorama negativo.

A Nigéria já é a maior economia da África, embora líder em corrupção no continente

Para isso, Dangote tem as ideias muito claras. “Ninguém vai desenvolver as economias dos países africanos, só nós podemos fazê-lo. Quando nós, africanos, começarmos, outros nos seguirão; mas se sentarmos e esperarmos investidores estrangeiros desenvolverem os nossos países, isso não vai ocorrer nunca. Estou há 15 anos ouvindo falar que os chineses vão desempenhar esse papel, mas não é verdade”, assegura. Uma das chaves é a diversificação. Alimentação, cimento e agora petróleo, mas também telecomunicações, bancos, o setor têxtil. A poderosa máquina do Grupo Dangote nunca se detém e soube prosperar em contextos às vezes complicados. A Nigéria acaba de se tornar a maior economia da África, mas também lidera as estatísticas de corrupção do continente. “A corrupção não interrompe os negócios; incomoda, mas não os impede”, explica.

Na lista na revista Time da semana passada e que o coloca como uma das pessoas mais influentes do momento, Bill Gates destacava em seu artigo o lado filantrópico de Aliko Dangote: “É o homem mais rico da África e as suas atividades empresariais estão impulsionando o crescimento ao longo de todo o continente. Isso é impressionante; no entanto, conheço mais ele como um líder na busca constante de formas que venham a reduzir as distâncias entre as empresas privadas e a saúde pública”.

Luta contra a pólio, apoio ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), construção de um centro internacional para o tratamento do câncer em Abuja, doação de aparelhos de diálise ao hospital de Lagos, empoderamento, educação, ajuda em catástrofes humanitárias... a Fundação Dangote se traduz em uma enorme atividade.

Atualmente, o seu grupo empresarial está presente em nada menos que 16 países, do Benim ao Níger, da África do Sul a Camarões, e emprega cerca de 10.000 pessoas. Desde o início como um pequeno comerciante, ele conseguiu se tornar uma espécie de rei Midas que converte em ouro tudo o que toca, o empresário que representa o sonho de toda a África. Mas para isso precisou de tempo e esforço. “Levantei um império e me tornei o negro mais rico do mundo em 2008, mas isso não aconteceu da noite para o dia. Levei 30 anos para chegar onde estou agora. Os jovens de hoje em dia querem ser como eu, mas têm pressa. As coisas não são assim. Para montar um negócio de sucesso deve-se começar de baixo, e sonhar alto. Na travessia da iniciativa empresarial, a tenacidade é o mais importante”. Palabra de Aliko Dangote.

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